A arqué do princípioanalítico-antropológico
Por: Kleber.Oliveira • 1/5/2018 • 4.042 Palavras (17 Páginas) • 469 Visualizações
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Em terceiro lugar, o homem é um ser em relação para o mundo. Cabe ao homem, frente à criação, ver em tudo a infinita bondade do Criador. O mundo que Deus criou é bom, (Gen. 1, 18 e 31). “Tudo o que Deus criou é bom, e nada é desprezível, se tomado em ação de graças, porque é santificado pela Palavra de Deus, através da proclamação e pela oração litúrgica”, (1°Tim. 4, 4-5). Não existe o princípio supremo do mal. Longe, portanto, o dualismo maniqueu de dois princípios contrários que se igualam. O respeito e a admiração da criação são tarefas das mais urgentes do homem contemporâneo, tão propenso a destruir o mundo em que vive, o meio ambiente, sua casa comum.
O homem é um ser em relação com o mundo e para o mundo, em conexão com o mundo, isso significa, outrossim, que Deus deu o mundo ao homem, para que ele seja desenvolvido, aperfeiçoado, transformado (Gen. 1, 28) segundo sua dupla dimensão: social e vertical. Terra de Deus – terra de irmãos (lema da Campanha da Fraternidade no Brasil de 1986). O mundo é para todos, deve estar a serviço de todos. Cabe ao homem ser sacerdote da criação, referindo e direcionando tudo a serviço do outro e daquele que é o totamente Outro. “Tudo é vosso... Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1°Co. 3, 21-23).
Eis a vocação originária do homem. O Criador por amor, o homem é chamado a viver em relação com Deus, com o outro e com o mundo. Vivendo assim, o homem se realiza, torna-se ele mesmo um ser livre e feliz.
A ARQUÉ DO PRINCÍPIO EXISTENCIAL DO HOMEM INTERIOR
Com a Queda Adâmica, o ser humano não só se separou da Trindade, mas também afastou-se de si mesmo e, todas as ações humanas, seja em qual âmbito for, são, na verdade, movimentos do desespero existencial do homem em encontrar-se a si mesmo, autorrealizar-se, encontrar o fundamento último de sua absurda e enigmática existencia. Para Plotino o homem veio do Uno e para o Uno há de retornar. Visa-se chegar a algo fundamental que o homem natural em sua ignorância e estado de concupiscência é incapaz de ver e perceber: o ser humano é capaz de Deus, de acolhê-lo, conviver com ele, em comunhão e parceria com ele (cf. Catecismo da Igreja Católica – n. 27-73). Santo Agostinho irá dizer que a inquietação existencial de nosso ser é devido a nossa incapacidade em nos convertermos a Deus. "Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti". Já Calvino havia feito a seguinte pergunta: "qual é o objetivo principal da vida humana?" E a sua resposta lapidar no catecismo de Genf de 1547 é a seguinte: "é conhecer a Deus". O catecismo católico oficial (de Josef Deharbe, SJ de 1847) dá como resposta a pergunta_ "Por que razão estamos na terra?"_ "Estamos na terra para conhecermos a Deus, para amá-lo, para serví-lo e assim alcançarmos o Céu".
Pelo pecado o homem foi atingido no mais intímo de seu ser, rompendo com Deus, com o outro e com o mundo. Rompendo a tríplice relação, o homem fabricou para si ídolos de toda espécie, dominou o semelhante com toda sorte de manipulações e interesses egoísticos, explorou o mundo, relegando seu sentido social e vertical. Puebla descreve as tristes consequencias do pecado nestes termos: “Mas a uma atitude pessoal de pecado, à ruptura com Deus que degrada o homem, corresponde sempre, no plano das relações interpessoais, a atitude de egoísmo, de orgulho, de vanglória, de ambição e inveja que geram injustiças, dominação e violência em todos os níveis; corresponde à luta entre indivíduos, grupos, classes sociais e povos bem como corrupção, o hedonismo, a exacerbação sexual e a superficialidade nas relações mútuas, (Gal. 5, 19-21). Consequentemente se estabelecem situações de pecado que, em nível mundial, escravizam a tantos homens e condicionam adversamente a liberdade de todos”, (Puebla, n. 328; GS, n. 10 e 13).
Quem libertará o homem do pecado, que escraviza e destrói a dignidade humana? Cristo, (Rom. 7, 7-25). Com efeito “para a liberdade é que Cristo nos libertou”, (Gal. 5, 1 e 13). Ele se fez homem, tomou forma de servo (Fil. 2, 7), veio viver entre nós, morreu e ressuscitou, para que todos tenhamos a vida e a tenhamos em abundância (Jo. 10, 11), como filhos de Deus e “co-herdeiros de Cristo” (Rom. 8, 17; 1°Ped. 3, 18-22). Essa vida abundante, que é a “nova vida” exige conversão constante e, circunstancialmente, diária do coração. Só assim haverá verdadeiro seguimento de Cristo. Em Cristo e por Cristo surge o advento de uma nova humanidade. O apóstolo São Paulo descreve, maravilhosamente bem, o “novo homem”, recriado pelo sangue redentor de Cristo: “Vós vos desvestistes do “homem velho” com as suas práticas e vos revestistes do “novo homem”, que se renova para o conhecimento segundo a imagem de seu Criador. Aí não há mais grego nem judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo e livre, mas e, porém, Cristo é tudo em todos” (Gal. 3, 9-11; 1°Co. 9, 19-23). Por Cristo somos um “novo homem” (Ef. 4, 24; Col. 3, 9-11), vivemos uma “nova vida” (Rom. 6, 4), tornamo-nos “nova criatura” (Gal. 6, 15; 2°Co. 5, 17). Somos “um em Cristo” (Gal. 3, 28), animados e vivificados pelo Espírito Santo (Rom. 8, 12-17; Ef. 3, 16; 1°Co. 12, 1-14). O Espírito Santo é o dinamizador de nossa transformação em Cristo.
O homem tem como tarefa reconhecer antes de tudo a gratuidade do amor de Cristo que nos regenerou e os transformou em “novas criaturas”, recriados a Imagem e Semelhança de Cristo. Por Graça – puro dom imerecido e inefável de Cristo – fomos remidos (Rom. 5, 6-11; Ef. 2, 1-10; 1°Co. 15, 10; 1°Co. 4, 7; Tt. 2, 11-14; Tt. 3, 1-7). Devemos contemplar extasiados e adorar reconhecendo tanto o amor de Deus por nós, dizendo como São Paulo: “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos. Amém” (Rom. 11, 36; Gal. 1, 15-16; Col. 3, 15-17). E na linha da gratuidade cabe ao “homem novo” viver o espírito filial, deixando-se envolver e impregnar pelo que há de mais belo e comprometedor no Cristianismo e a por toda a vida e existência em função de Cristo total e por inteiro, Cabeça e Corpo, a saber: Deus é Pai e nós somos seus filhos. Somos inseridos na família de Deus (Gal. 3, 26-29; Gal. 4, 4-9; 1°Ped. 1, 3-25; Ef. 2, 19-22).
O homem é chamado a viver sua vocação eclesial-comunitária. A vida cristã é fundamental e eminentemente eclesial, isto é, cabe ao cristão pôr em comum seus carismas, colocar-se a serviço um do outro, estar unido entre os irmãos e com Cristo. Tudo o que acontece na Igreja, Corpo Místico de Cristo, da qual o cristão é
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