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A DIVERSIDADE RELIGIOSA BRASILEIRA E A CONTRIBUIÇÃO AFRICANA

Por:   •  12/11/2017  •  4.335 Palavras (18 Páginas)  •  544 Visualizações

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muito antes da chegada do branco, já existia o culto aos ancestrais (chamados no Brasil depois de “Guias”). Também era conhecida a palavra ‘MBANDA (Umbanda) significando “arte de curar” ou “culto pela qual o sacerdote curava”, sendo que ‘MBANDA quer dizer “o além – onde moram os

espíritos”. Os sacerdotes da ‘MBANDA eram conhecidos como “Kimbandas” (Ki – mbanda, do Quimbundo, língua da região em que hoje é Angola, especialmente Cabinda, significa “aquele que se comunica com o além”).

O grande pai da Umbanda Zélio Fernandino de Moraes nasceu aos 10 de abril de 1891, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, Fundador da Umbanda nos moldes em que ela existe hoje. Embora historicamente Zélio tenha sido o fundador (ou anunciador) da Umbanda, antes mesmo desse anúncio e da fundação da institucionalização da Umbanda, diversas formas de culto com moldes muito semelhantes se desenvolveram.

Segundo Corral (2008) a Umbanda nasceu com suas raízes no Catimbó, no Candomblé (quer os tradicionais, como os terreiros Nagôs e de Angola, quer nos Candomblé de Caboclos), influências estas trazidas tanto pelos próprios médiuns quanto pelos espíritos que se manifestavam nos trabalhos, até então rejeitados pela Federação Espírita Kardecista por causa do seu “atraso” espiritual.

Continua Corral (2008) que vindo de família tradicional, em fins de 1908, com dezessete anos de idade, Zélio preparava-se para o ingresso na carreira militar quando foi acometido por uma inexplicável paralisia, que os médicos não conseguiam entender, tratar ou curar, pois seu corpo parecia extremamente saudável embora não se manifestava-se no sentido de fazer qualquer movimento da cintura para baixo. Certo dia, ele ergueu-se no leito, declarando: “amanhã estarei curado”.

Dermes (2011) relata que no dia seguinte, de fato, levantou-se normalmente e voltou a caminhar, como se nada lhe houvesse acontecido: os médicos não souberam explicar o corrido. Os seus tios, padres da igreja Católica, surpreendidos, também não souberam explicar o fenômeno. Um amigo da família, então sugeriu uma visita à Federação Espírita do Estado do Rio de janeiro (então sediada em Niteroi), presidida, na ocasião, por José de Souza.

Na ocasião de sua visita, o médium dirigente de sessão pediu que Zélio se sentasse a mesa, pois este teria um papel importante naquele dia. Foi quando se manifestou por meio de Zélio a entidade que se denominou Caboclo das Sete Encruzilhadas, anunciando a fundação de uma nova religião no Brasil: a Umbanda. (CORRAL,2008)

Durante a sessão na Federação Espírita do Rio de Janeiro, em determinado momento dos trabalhos, tomado por uma força desconhecida e superior a sua vontade que o deixava num estado de semiconsciência e, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer um dos integrantes da mesa, Zélio levantou-se e disse: “Aqui está faltando um flor”, no que saiu da sala para consegui- la. (DERMES, 2011)

Segundo Dermes (2011) relata que ele retornou em poucos momentos, trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa. Este gesto causou um principio de polêmica entre os presentes, mas dentro em pouco a corrente de energia fora estabelecida, só que, para a surpresa geral, manifestaram-se, em vários dos médiuns presentes, espíritos que se identificaram como indígenas ou caboclos e escravos africanos. O médium-vidente2 que dirigia a sessão pediu que todos se retirassem, dado o “atraso” espiritual deles.

Ressalta Souza (2008) que de acordo com Zélio, em entrevistas cedidas posteriormente, nesse momento ele sentiu-se novamente dominado pela estranha força espiritual, que fez com que ele falasse, sem saber o que dizia. Ouvia apenas sua própria voz, perguntando o motivo que levava o dirigente dos trabalhos a não aceitar a comunicação daqueles espíritos, e por que eram considerados “atrasados” apenas pela diferença de cor ou de classe social que revelaram ter tido na ultima encarnação.

Os ânimos se exaltaram e os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar – segundo as normas do kardecismo – e afastar o espírito que até então não se identificara, mas que permanecia até então incorporado em Zélio. Embora a argumentação para tanto fosse muito sólida e pertinente dentro daquele ritual espírita não ia embora, no que um dos médiuns-videntes perguntou então:

Durante o debate que se seguiu, procurou-se doutrinar o espírito, que demonstrava argumentação segura e sobriedade. Um médium vidente, então, perguntou-lhe: “Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome, irmão”. (CORRAL, p. 14, 2008)

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A resposta veio de pronto, com o que seria o primeiro passo na direção da formação do que conhecemos por Umbanda:

Ao que interpelado respondeu: “Se querem um nome, que seja este: Sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, por que para mim, não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida3. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro”. (CORRAL, p. 15, 2008) O médium-vidente insistiu, com ironia: “Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?” Ao que a entidade logo respondeu: “Cada colina de Niterói atuará como porta voz, anunciando oculto que amanhã iniciarei”.

No dia seguinte, a 16 de novembro, residência de sua família, na Rua Floriano Peixoto nº 30, em Neves, acercando-se a hora marcada, estavam ali reunidos os membros da Federação Espírita, visando comprovar a veracidade do que havia sido declarado na véspera, alguns parentes mais chegados, amigos, vizinhos, e, do lado de fora da residência, grande numero de desconhecidos.

Afirma Corral (2008) que pontualmente ás 8 horas da noite, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, declarando iniciado um novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servidos como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos do Brasil poderiam trabalhar em beneficio dos seus irmãos desencarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade (amor fraterno)

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