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Sobre Histórias

Por:   •  11/9/2018  •  1.378 Palavras (6 Páginas)  •  281 Visualizações

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Ao tentar responder a pergunta “Como devemos escrever a história da sociedade?”, na terceira parte do texto, Hobsbawm utiliza alguns exemplos da produção historiográfica dos últimos 15 anos (texto escrito em 1970) para apresentar o quão sortida é a escrita da história da sociedade. O que seguirá no texto é o objetivo tácito de defesa de “um plano de trabalho [segundo o autor] amplamente aceito pelos historiadores sociais” (p. 94).

Para consolidar a sua tese de que história da sociedade é história, o autor indica que, em primeiro lugar, o historiador tem como objetivo explicar como de fato chegamos ao momento presente e, a história social, para tanto, cria modelos gerais de permanência e mudança social para explicar porque um determinado fato histórico aconteceu só naquele momento e não em outro. Em segundo lugar, Hobsbawm deixa claro, que se trata da história da sociedade humana (e não sociedade de formigas ou macacos) que varia de tamanho e complexidade, ou seja, o termo sociedade pode definir formas muito diferentes de inter-relações humanas. A saída para este problema é escolher critérios externos, tais como território, etnia, política, etc. Em terceiro lugar, a história das sociedades exige que se definam prioridades de pesquisa e uma hipótese de trabalho indicando o nexo central a ser desenvolvido. Seria consenso aos historiadores partirem em suas pesquisas da base material (estrutura da economia, divisão do trabalho, troca, acumulação, distribuição do excedente) para chegar-se até as relações sociais daí derivadas. Mais objetivamente, o historiador ficará tentado a definir as relações mais importantes da sociedade analisada, estabelecendo uma estrutura hierárquica mais adequada para perceber o movimento histórico. Hobsbawm acredita que, nós historiadores, “devemos ajudar produzindo – para o benefício de todas as ciências sociais – modelos válidos da dinâmica sócio-histórica” (p. 94).

A partir da quarta parte do texto, Hobsbawm pretende examinar a prática efetiva de alguns historiadores sociais dos anos 50 e 60. Naquele período os estudos históricos sobre (1) demografia e parentesco e sobre (2) estudos urbanos já estavam institucionalizados nas linhas de pesquisa acadêmicas e, apesar de problemas metodológicos, auxiliavam o avanço da história social. Por outro lado, os estudos sobre (3) classes sociais; (4) a história das ‘mentalidades’ ou consciência coletiva ou da ‘cultura’ na acepção dos antropólogos; (5) a transformação das sociedades (por exemplo, modernização ou industrialização) e (6) movimentos sociais e fenômenos de protesto social, demonstram um avanço impressionante, apesar de ainda, naquela época, não estarem institucionalizados como campos de concentração de pesquisa, mas que logo, alguns deles, estariam se aproximando dessa fase de desenvolvimento.

Dito isso, a empolgação de Hobsbawm reside nos estudos sobre as classes sociaisque, mesmo com problemas metodológicos e conceituais, dispõem de fontes diversas e algumas vezes volumosas. Apesar da dificuldade em definir o que seriaclasse, as pesquisas que tomam como foco a classe acabam envolvendo positivamente a análise do resto da sociedade da qual ela faz parte: “Donos de escravos não podem ser entendidos sem os escravos, e sem os setores não escravistas da sociedade” (p. 99). Dessa forma, os estudos sobre classes são análises da sociedade e muitas vezes o conteúdo dessas pesquisas vai muito além dos limites explicitados pelo título.

Nesse sentido, a história das “mentalidades” é indicada como fundamental para o avanço da história social, ao passo que auxiliou a construir modelos onde, por exemplo, podem-se encaixar dados úteis para entender “a natureza da ação coletiva em situações sociais específicas” que de outra forma não seriam mais do que anedotas. Para tanto, o conceito de “economia moral” de Thompson e a análise do “banditismo social” de Hobsbawm tentaram criar modelos para entender aquelas especificidades sociais.

Ao concluir, Hobsbawm, deixa claro que não “pode apontar para nenhum trabalho isolado que exemplifique a história da sociedade” (p. 104), porque, apesar de alguns esboços exemplares (A sociedade feudal de Marc Bloch e a obra de Marx) “a história da sociedade ainda está sendo construída” (p. 105), porém, o momento é prospero ao historiador social.

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