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A ERA DOS EXTREMOS

Por:   •  15/4/2018  •  1.760 Palavras (8 Páginas)  •  276 Visualizações

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O deslocamento do eixo estrutural tornava a fonte central de poder secreta e encobria a mesma em diversas camadas de órgãos similares, como a relação entre a SA, SS e o Serviço de Segurança na Alemanha nazista, que foram eixos de poder em momentos específicos da era totalitarista, pois “na fase inicial do regime nazista, [...], a SA era a verdadeira autoridade e o partido era o poder ostensivo; depois, o poder foi transferido da SA para a SS e, finalmente, da SS para o Serviço de Segurança.” (ARENDT, 1973, p. 450).

Na Rússia, havia entre Estado e partido a presença da NKVD que coexistia como terceiro ator independente e se mantinha como poder real enquanto o poder ostensivo pertencia ao partido. Suas ramificações independentes entre si acabavam por espionar tanto membros do partido quanto pessoas comuns, chegando até mesmo ao ponto de haver “uma NKVD dentro da NKVD”.

Essa constante “rivalidade” entre os órgãos em ambos os regimes totalitários acaba por inviabilizar sabotagens ou conspirações e impedir a concentração de poder estável em um determinado grupo. No sistema totalitário, deter o conhecimento dos mecanismos de funcionamento é deter o poder.

Deve-se então fazer uma clara distinção entre o regime Totalitário e um regime Autoritário, pois enquanto no autoritarismo há uma relação hierárquica clara e uma limitação da liberdade individual, no totalitarismo, a ideia de liberdade tende a ser abolida e a estrutura hierárquica é inexistente, não havendo um intermédio entre o líder (fonte de toda autoridade) e os governos.

A questão da sucessão de liderança se torna secundaria dentro do sistema totalitário, pois apesar de gerar inconvenientes, a permanência do líder não é ameaçada uma vez que o todo sistema depende dele.

Outro ponto fundamental na questão estrutural do totalitarismo é sua característica anti utilitária baseada em pressuposições e ideias que escapam as necessidades momentâneas e figuram um projeto centenário fictício, de forma que tal gestão pode ser nociva até mesmo para sua população, uma vez que a ideia de hegemonia global se sobrepõe ao pensamento local e os planos futuros ignoram as necessidades imediatas. Ao tratar os outros territórios como possíveis partes do seu próprio, o líder totalitário desconsidera o conceito de nação superior e trata sua população da mesma forma que trata o povo conquistado, buscando sempre o avanço do governo e não da nação, pois:

Os nazistas não achavam que os alemães fossem uma raça superior, à qual pertenciam, mas sim que deviam ser comandados, como todas as outras nações, por uma raça superior que somente agora estava nascendo. A aurora dessa nova raça não eram os alemães, mas a SS. (ARENDT, 1973, p. 461).

Por fim, a incapacidade de administrar necessidades e de mensurar anseios ilusórios fez com que as distorcidas prioridades dos governos totalitários deformassem seu funcionamento ao ponto de tornarem-se insustentáveis.

O “domínio total” é o último tópico do capítulo estudado, remetendo de maneira bastante clara e enfática a forma como os indivíduos subjugados pelos regimes totalitários do nazismo e bolchevismo eram tratados nos campos de concentração. A autora coloca que esses campos funcionam como instituições que caracterizam o regime totalitário de forma que possamos entendê-lo melhor.

A princípio é feita uma síntese comparativa da figura humana como um único indivíduo com identidades e reações iguais, sendo analogado com outras espécies de animais que possuem um único objetivo; preservar a mesma. Há uma distinção entre o sistema alemão e o soviético, entretanto são categorizados pela forma de tratamento. Na Alemanha as pessoas são isoladas acirradamente de forma a não terem contatos umas com as outras, podendo haver diferenciações por motivos raciais [1]. Na URSS o tipo de punição era algo mais sistemático, dividindo-se em três categorias: os que trabalhavam forçadamente, mas com relativa liberdade e sentenças limitadas, aqueles que eram enviados aos campos de concentração para serem explorados de forma exorbitante em seu trabalho [2] e por último os que eram sentenciados a viver nos campos de aniquilação até morrerem pelo abandono e pela fome.

Os horrores que aconteciam nestes locais eram inimagináveis e o mais intrigante é que para a sociedade isso era tratado de forma normalmente desprezível e, como se já não bastasse o infortúnio do trabalho duro, nas épocas de pouca mão-de-obra decorrente da guerra, os detentos eram utilizados para suprí-la. “Grande parte dos trabalhos postos nos campos de concentração era inútil; ou era supérfluo ou era tão mal planejado que tinha de ser feito duas ou três vezes (KOGON apud ARENDT, 1973)”. Haviam também três classificações para os agrupamentos de prisioneiros alemães e soviéticos confinados, estes, baseadas nas concepções básicas ocidentais de uma vida após a morte. Eram eles: limbo, purgatório e inferno [3]. A autora ainda coloca que o tratamento marginalizado das pessoas como se elas não existissem era uma característica intrínseca de todas elas.

Diante de tais situações é difícil imaginar que essas pessoas possuíam direitos, mas a verdade é que eles existiam, todavia, eram simplesmente ignorados e passados por cima como se não existissem. “[...] os Direitos do Homem, apenas proclamados mas nunca politicamente garantidos, perderam, em sua forma tradicional, toda a vitalidade. O primeiro passo essencial para o caminho do domínio total é matar a pessoa jurídica do homem (ARENDT, 1973 p. 497)”. Havia a inclusão de políticos e criminosos no meio deles para que possa se tornar algo justificável as atrocidades cometidas com aquelas pessoas, em sua esmagadora maioria inocentes [4].

Por fim, pode-se concluir que, nenhuma instituição dentro de um regime totalitário é mais eficaz para a preservação do poder do que os campos de concentração.

O problema da oposição não tem importância, nem em assuntos domésticos nem em assuntos externos. Qualquer neutralidade, e mesmo qualquer amizade oferecida espontaneamente, é tão perigosa quanto a franca hostilidade, exatamente

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