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O que é ética (Álvaro Valls).

Por:   •  15/11/2018  •  1.906 Palavras (8 Páginas)  •  245 Visualizações

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o ego, a felicidade, o bem-estar individual, do que o ideal de abnegação. Nossa cultura cotidiana desde os anos 1950 e 1960 não é mais dominada pelos grandes imperativos do dever sacrificial e difícil, mas pela felicidade, pelo sucesso pessoal, pelos direitos do indivíduo, não mais pelos seus deveres.

8. Podemos afirmar que existem descontinuidades e semelhanças entre a era teológica e a laica moralista. Em que elas consistem?

A descontinuidade mais clara é dar direito a vida moral aos ateus, por exemplo, sem a necessidade dos castigos do inferno para ser autêntico. O homem pode alcançar a virtude sem a ajuda de Deus.

A semelhança está no dever absoluto, a ética do sacrifício. Com efeito, esse primeiro ciclo de secularização por toda parte celebrou a obrigação moral infinita, o espírito do dever cívico, nacionalista, familiar, produtivista. Depois do dever religioso, surgiu a religião moderna do dever, o culto laico da abnegação e da entrega ilimitada a serviço da família, da pátria e da história. As mesmas sociedades laicas que inventaram os direitos do Homem, construídas, pela primeira vez na história, a partir dos direitos do indivíduo, mantiveram durante muito tempo a retórica do dever rigorista, sacrificial, absoluto.

9. O que significa afirmar o “eclipse e a deslegitimação das morais-sacrificiais” em favor da uma autonomia individualista? Exemplifique.

Isso diz respeito a transformar os imperativos do dever sacrificial em opiniões livres, em direitos individuais, tendo sido no passado, pensados, ao contrário, como deveres absolutos do homem para consigo. Agora a cultura cotidiana é dominada pela felicidade, pelo sucesso pessoal, pelos direitos do indivíduo, não mais pelos seus deveres.

No campo da sexualidade, por exemplo, cada um está livre, hoje, para fazer o que bem entender, sem que a sociedade possa condená-lo. Não se considera mais o suicídio como o descumprimento de uma obrigação moral superior, mas como um drama psicológico.

10. Em que medida a moral da fase pós-moralista assume um caráter emocional e pode ser relacionada com as leis do espetáculo? Exemplifique.

Enquanto a moral laica ou a moral religiosa eram sinônimos de sermões regulares e disciplinadores, a moral pós-moderna é a dos encantamentos, das operações de mídia essencialmente dirigidas a um ponto específico, circunstanciais, emocionais. Trata-se do oposto da ideia de Durkheim para quem o espírito de disciplina era essência da moral. Aquilo que outrora dependia dos princípios internos da educação moral depende agora de lances de mídia. A mídia fixa as prioridades, orquestra a generosidade, consegue, de resto com muito sucesso, mobilizar esporadicamente o público.

11. Quais os dois fatores citados pelo autor como explicativos de uma reafirmação ética no mundo contemporâneo? Comente cada um.

1 – As novas ameaças geradas pelo desenvolvimento da tecnologia, ameaças especialmente ao meio ambiente. Quando a técnica ameaça a sobrevivência do planeta, a defesa se torna algo se prioridade. Porém tanto desenvolvimento trouxe vários benefícios para o ser humano. Nessas condições, é incontrolável a questão sobre os limites do nosso poder tecnocientífico. O questionamento ético surge como uma necessidade de limites e de proteção para o home diante dos perigos da tecnociência e da autonomia individualista.

2 – Novo contexto econômico, ideológico e político, marcado pela nova pobreza e pela erosão dos grandes mitos históricos da modernidade. O esgotamento dos grandes projetos políticos favoreceu a reabilitação do discurso dos direitos do Homem e das ações caritativas. Quando não se crê mais nas promessas da política, do progresso e do Estado, resta a moral. O sucesso da ética corresponde ao fracasso das ideologias messiânicas, à falência das grandes representações do progresso e da história.

12. Enumere e caracterize as três observações feitas por Lipovetsky a “propósito da reabilitação do referencial ético em nossas sociedades”.

1 – Permite estabelecer uma imagem mais complexa, menos estereotipada do individualismo, com frequência reduzido ao egoísmo ou ao niilismo puro e simples. Não só existe preocupação com o individual. Se preocupa com as futuras gerações. Indigna-se com os escândalos. É verdade que a cultura do sacrifício está deslegitimada, mas ao mesmo tempo, o individualismo não significa o naufrágio do espírito de responsabilidade e de solidariedade. O apogeu do individualismo pós-moralista coincide com a ascensão dos prazeres individuais, mas, paradoxalmente, em paralelo com a vontade de ajuda mútua, sem obrigações, sem coerção, livremente, sem exigência de regularidade e disciplina.

2 – Não se deve exagerar a ideia de que tenderíamos para o “relativismo dos valores”. Não é verdade que não tenhamos mais uma visão comum, que todos os sistemas de valores sejam percebidos como equivalentes, que não sejamos capazes de falar com a menor convicção do bem e do mal. É evidente que nem todos os nossos referenciais morais desapareceram. Na verdade, vemos recompor-se um forte consenso social em torno dos valores de base das nossas democracias: Os direitos do Homem, o respeito à liberdades e à individualidade, a tolerância, o pluralismo. A cultura individualista liberal é muito menos relativista e menos desorientada do que se diz.

3 – Os paradoxos da época pós-moralista não param por aí. De um lado, é verdade, nossas sociedades endeusam o prazer, a sexualidade, a satisfação do desejo, etc. Por outro lado, contudo, elas são tudo menos sociedades entregues à orgia ou a anarquias sexuais. O mundo da liberdade individualista não leva à desordem sem freios dos costumes. Nesse sentido, a cultura pós-moralista funciona como uma “desordem organizada”: o Liberalismo cultural gera mais costumes “moderados” que costumes dissolutos.

13. De acordo com o texto, podemos afirmar que o individualismo próprio da fase pós-moralista é totalmente seguro no sentido de que não levaria a nenhum risco? Justifique e exemplifique.

O individualismo próprio da fase pós-moralista não é seguro e pode levar a vários riscos, pois, o individualismo leva ao “cada um por si”, ao culto do sucesso pessoal por qualquer meio, à negação dos valores morais, à delinquência. Todos esses fenômenos se vinculam ao que o autor chama de “individualismo irresponsável”, equivalente ao niilismo, ao “depois de mim, o diluvio”. A cultura pós moralista, com sua valorização do dinheiro e da liberdade individual,

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