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Técnicas e Materiais Construtivos

Por:   •  16/4/2018  •  19.457 Palavras (78 Páginas)  •  234 Visualizações

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Ao pensarmos nestas cidades históricas, verificamos que seus traçados urbanos e as fases da arquitetura ainda se encontram materializadas nas antigas construções remanescentes. Com um exercício de observação podemos verificar estas diferentes fases e as faces da cidade. O olhar atento por este ambiente mutante nos permite descobrir ângulos novos, mas também os detalhes que contém signos históricos, remetendo-nos às características essenciais de cada período histórico, da singeleza e sobriedade das construções da época colonial ao concretismo e arrôjo da arquitetura contemporânea.

Dentre os principais marcos arquitetônicos que merecem ser contemplados, pois testemunham o processo histórico de ocupação, destacamos a arquitetura militar, oficial, religiosa e civil. Cada uma destas linguagens arquitetônicas tiveram e têm ainda suas tipicidades, próprias do uso ao qual se destinam. A riqueza deste repertório arquitetônico exigiria um grande espaço para um texto descritivo. Assim, ficam aguardando um texto que evidencie seus valores a arquitetura oficial, militar e religiosa e nos dedicaremos aqui a inventariar a arquitetura civil urbana, desde os primórdios da ocupação até a arquitetura contemporânea, deixando também para outra abordagem a arquitetura civil rural. Como cidade de referência o modelo escolhido é Florianópolis, fundada no século XVII.

Florianópolis, como as principais cidades brasileiras e seus edifícios foi se estruturando ao longo dos séculos passados. Entretanto, este inventário do patrimônio edificado não se limita apenas às construções seculares, pois décadas muito recentes também deixaram seus signos para a nossa reflexão. Em cada época a arquitetura é produzida e utilizada de maneira diversa, relacionando-se de uma forma característica com a estrutura urbana em que se instala, desde a situação no lote, repercutindo na quadra e na estrutura da cidade. A estudo da evolução destas tipologias nos ajudará a adequa-las à realidade contemporânea.

História e Contemporaneidade:

Muito embora os primeiros registros do povoamento do litoral catarinense datem do início do século XVI, há vestígios arqueológicos, datados de mais de 4.500 anos que indicam uma ocupação primitiva, anterior à vinda do europeu.

O ano de 1662 marca a fundação da Póvoa de Nossa Senhora do Desterro pelos vicentistas, quando o bandeirante paulista Francisco Dias Velho adquiriu uma sesmaria e aqui iniciou benfeitorias. A elevação à condição de Vila em 1726 significou um princípio de organização do política, através da instalação oficial da Câmara.

Mas a origem histórica do interesse na ocupação da Ilha de Santa Catarina pelos europeus e a conseqüente fundação da Vila de Nossa Senhora do Desterro, no século XVII está estreitamente vinculada à importância da sua localização estratégica no litoral do Brasil Meridional, a meio caminho entre o Rio de Janeiro e a Colônia de Santíssimo Sacramento, no Prata. Foi então criada a Capitania de Santa Catarina e terras de Sant’Ana e proposta a instalação de uma base militar.

A fortificação da Ilha de Santa Catarina e o desenvolvimento dos núcleos coloniais, ocupando muitos pontos ao longo de todo o território insular decorreram desta importância estratégica e também da disposição da Coroa Portuguesa em fazer valer o princípio jurídico do Uti Possidetis.

Entretanto, a variante neste processo histórico, em relação a muitos outros pontos do território brasileiro, está na inexistência de um ciclo econômico local, que amparasse este investimento da Coroa. Aqui no Sul, o interesse se deteve na possibilidade de criar uma "ponta de lança", que atingisse o interior de um continente ainda pouco balizado, e em garantir o domínio lusitano no litoral sul.

Elevada à condição de sede da Capitania de Santa Catarina em 1738, a Vila de Nossa Senhora do Desterro centralizou, através das iniciativas do primeiro Governador, o Brigadeiro José da Silva Paes, as iniciativas de ocupação do território. Este engenheiro militar projetou e deu início à construção do complexo de fortificações catarinenses: Santa Cruz de Anhatomirim (1738), São José da Ponta Grossa (1740), Santo Antônio, em Ratones (1740) e Nossa Senhora da Conceição, em Araçatuba (1742).

As fortificações contribuíram para apoiar o desenvolvimento dos núcleos de ocupação, na medida em que os regimentos militares passaram a ser parte importante do contexto populacional. Elas estabeleceram as primeiras redes de comunicação por mar e por terra, interligando pontos previamente e posteriormente ocupados.

Consolidando a estratégia de ocupação, ocorreu a grande corrente migratória que, entre 1748 e 1756, transferiu mais de 6.000 açorianos para Ilha de Santa Catarina e para o litoral fronteiro. Esta ocupação se estabeleceu num contexto natural de extrema beleza, onde estão presentes mar, morros, dunas, lagoas e mangues, definidores de limites naturais muito fortes.

Por outro lado, a imigração açoriana engendrou conseqüências culturais tão intensas, que, embora já tenham se passado várias gerações, há marcas variadas e profundas, evidenciadas na paisagem, nas atividades cotidianas, no imaginário popular, com reflexos na economia, na educação e nas atividades turísticas, por exemplo.

Os imigrantes açorianos criaram e desenvolveram comunidades típicas, através da fundação de freguesias, tais como: Santíssima Trindade, Lagoa da Conceição, Santo Antônio de Lisboa, São João do Rio Vermelho, Canasvieiras e Ribeirão da Ilha. No continente, fixaram-se em Enseada do Brito, São José e Ganchos (1750); no século XIX se localizaram em Biguaçú, Palhoça e Tijucas e se expandiram para Vila Nova, Garopaba e Paulo Lopes.

As antigas freguesias desenvolveram uma rede de comunicação cujos pontos são as próprias sedes e as linhas são os caminhos que as interligam, com alguns entroncamentos. A rede tentava circundar a ilha e criava um nó no centro do Distrito Sede, a Vila Nossa Senhora do Desterro. A maior parte do contatos com o continente era feita a partir do Distrito Sede, pelo "canal do estreito", por meio de balsas e ferry boats. O porto da capital, valorizado pela excelência de suas baías desde o século XVII, também contribuiu para que a capital exercesse influência centralizadora até as primeiras décadas do século XX, quando entrou em declínio.

Algumas freguesias mantinham certa autonomia através do contato direto com o continente, independentemente do distrito sede. Por exemplo: Ribeirão da Ilha comunicava-se com Enseada do Brito,

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