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A História de Severina

Por:   •  28/11/2018  •  2.546 Palavras (11 Páginas)  •  262 Visualizações

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no corpo...

Severina que antes era a “vingadora-briguenta”, passa a obedecer ao noivo, ela que lá atrás tinha um plano de guardar dinheiro para se vingar do pai e da suposta amante, é submetida a gastar com “os caras do centro”.

Tudo o que Severina vivenciou no noivado não passou de uma ilusão, o marido antes companheiro, e bacana, passa a ser agressivo, ela descreve:

O que eu apanhei desse cara não foi bolinho não! Eu apenhei muito! Ele batia minha cabeça no chão, como se bate coco, tunc, tunc, tunc, tunc! Ia e voltava, ia e voltava (...) me caluniava [...] ele era alto, ele era forte (...) ele era da cavalaria (...) das polícias especiais, ele era forte, era grande, era enorme, daquelas patrulhas (...) e ele lutava comigo! Naquela época quanto que eu pesava? 45 quilos; ele lutava comigo como se lutasse com um homem; ele me massacrava (...) eu enfrentava e saía toda quebrada (...) com a cabeça deste tamanho, boca do tamanho de um bonde, e eu enfrentava! (CIAMPA, 1998, p. 65).

É possível perceber o sentimento indignação na fala de Severina, o marido a agredia, ele era grande, forte e lutava com ela como quem lutasse com outro homem. Mesmo pesando apenas quarenta e cinco quilos a “vingadora-briguenta” o enfrentava, mesmo não sendo uma luta de igual para igual, mesmo saindo toda machucada, Severina não se acua e afrontava o marido. A indignação continua, pois, o marido não era o mesmo homem que ela conheceu, houve uma transformação, uma grande transformação. Os episódios de agressões continuaram, quando estava grávida de três ou quatro meses, relata que o marido a agrediu com chutes na barriga, pois o marido não acreditava que o filho que Severina carregava fosse dele, ela relata que “(...) fui pro hospital (em que estava empregada) trabalhar toda arrebentada [...] daí pra cá que as coisas começaram a acontecer comigo, esse negócio de desiquilíbrio.” (CIAMPA, 1998, p. 68).

Os sintomas que antes eram entendidos como encostos em Severina, passam a ser tidos como loucura. Severina adquire uma nova identidade, a de doente mental. Os encostos presentes na “Severina-do-passado”, e a loucura na “Severina-do-presente” foram todos confirmados pelo marido. Severina desde sempre acreditando no que lhe é dito, sua mãe morreu, ela passa a crer que foi por feitiço, vai ao centro espírita, acredita que tem encosto, e crê ser louca após o tratamento no hospital.

Apesar das dificuldades e agressões sofridas, Severina consegue ter o filho. Severina é esposa, e agora mãe, só faltava ser dona de casa, para de acordo com Ciampa (1998, p.72) “configurar integralmente o padrão de identidade feminina”. Mas quem diria, Severina antes “bicho-do-mato”, “bicho-humano” e “vingadora-revoltada”, se tornaria mãe e esposa, faltando ser dona de casa para fazer parte de um padrão. Mas a vingadora ainda vivia na “Severina-de-hoje”, com um marido que fazia crer que ela tinha um amante, que a agredia, a “vingadora-revoltada” ressurge e Severina declara que o marido é mais um para a lista dos que ela deseja matar.

Sem saída, Severina vê como única solução pedir ajuda ao sogro, que se prontifica a ajudar. O menino ficaria com os avós até que as coisas se resolvessem, mas não se resolveram, só piorou. O marido rasga a certidão de Severina, um ato simbólico para sua perda de identidade. Severina agora não era ninguém, sem certidão não é ninguém, ele acabou com tudo.

Severina é tida como louca, fica sem trabalhar, essa que desde os 11 anos trabalhava, de forma escrava, mais trabalhava, “Nem mesmo escrava consegue mais ser! ” (CIAMPA, 1998, p. 76).

O marido luta pela tutela do filho, Severina se recusa em ceder a tutela do garoto e declara à advogada

Até o último momento que eu tiver de vida, dia de vida, eu quero assumir esta responsabilidade; é meu filho, a única coisa de bom que eu tenho até hoje é meu filho; eu vou dar? (...) eu digo: doutora, nem os bichos, nem os animais dão seus filhotes, agora eu vou dar? E quando meu filho crescer o que ele vai achar de mim? (CIAMPA, 1998, p. 77)

E novamente é possível notar uma Severina de atitude, sua declaração é humilde, sincera e emocionante. Severina demonstra um desejo além do de vingança, Severina demonstra o desejo em cuidar de seu filho, demonstra o desejo de não o abandonar. Ela não perde o filho, e a identidade de mãe é a única coisa que restou.

Severina tem a tutela do filho, porém, os sogros retêm dos cuidados do menino. Severina pode ir visitar o filho, e se torna “mãe-de-visita”. Como “Severina-mãe”, deve ter se sentindo, esta que declarou que jamais abandonaria o filho, que assumiria essa responsabilidade frente ao Juizado de Menores, como está se sentindo, sabendo que a única identidade que a tinha restado foi retirada, e que havia se tornado “mãe-de-visita”. Ela perdeu tudo, foi afastada do emprego, com laudo médico, que declarava que ela tinha doença mental, não podia trabalhar, estava vivendo em extrema precariedade, morando em um banheirinho que lhe foi cedido, teve infecção nos rins. O projeto de vingança continua sendo a única coisa que não lhe foi retirada.

Vivia de pão e água, brigava muito com o INPS, pensava voltar a trabalhar como escrava, porém, não foi fácil, ela que era vista como “uma doente mental, que estava na caixa do INPS; moradora num local suspeito [...]” (CIAMPA, 1998, p. 82), como confiariam nela? Mas felizmente ela consegue um trabalho na casa de um casal, com um pequeno salário e comida.

Uma nova identidade surge, a de moleque. Severina apronta quando o casal não estava em casa. Não penteava os cabelos e, era aceita, “o moleque pode ser moleque” (CIAMPA, 1998, p. 87), era tolerada, podia ser “bicho-do-mato”. Estava mais esperta, recebia o salário de doméstica e a pensão do INPS. Era remetida de tempos em tempos a repetir os exames médicos no INPS, de acordo com Severina, ela já estava bem, mas decidiu mentir para o médico, queria continuar recebendo, conseguiu “Enganar o médico que tratava dela! Porém, se o médico se enganava agora, será que não se enganara anteriormente? ” (CIAMPA, 1998, p. 88).

O emprego vem a ser uma forma de refúgio para Severina. Ela visitava o filho na casa dos sogros, esses que exploravam ela, sempre que ia visitar o menino, eles pediam dinheiro, mais e mais dinheiro. Toda vez que Severina partia, o garoto chorava, ela relata que não tinha condições de levá-lo.

Surge um novo projeto em sua vida, o de arrumar um emprego que ganhasse mais, arrumar uma casa maior, e levar o filho para morar junto. Quer deixar a molecagem e assumir a responsabilidade de cuidar de seu filho.

Os

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