Torcicolo Muscular Congênito
Por: Sara • 22/5/2018 • 2.060 Palavras (9 Páginas) • 705 Visualizações
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Figura.1 – Criança com TMC à esquerda, com inclinação da cabeça à esquerda e rotação a direita
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Fonte: Lanza, 2012.
2.1 EPIDEMIOLOGIA
A incidência é de um para 250 nascidos vivos, com predominância para o sexo masculino, sendo o lado direito mais acometido. Sua etiologia ainda não está esclarecida, não existindo, até o momento, consenso na literatura a esse respeito. Várias teorias propõem hipóteses, tais como teoria pré-natal (mau posicionamento intrauterino), tocotraumatismo cervical, síndrome compartimental, infecção, isquemia arterial, obstrução venosa, hereditariedade ou, mesmo, como uma forma de distrofia muscular congênita localizada. A história de complicações no parto é notada em 30 a 60% dos pacientes com torcicolo. A associação com displasia congênita do quadril é comumente relatada na literatura, variando de 2 a 29%, e também com paralisia obstétrica, podendo ocorrer em 51% dos casos (GAZZOTTI, 2012).
2.2 ETIOLOGIA
A etiologia do torcicolo muscular congênito é desconhecida, mas existem diversas teorias a respeito. Uma dessas hipóteses admite que a má posição do pescoço in útero provoca isquemia circunscrita do músculo esternocleidomastóideo (Adams e cols., 1962).
O tocotraumatismo é frequentemente incriminado (Suzuki e cols., 1984) e sabe-se que o torcicolo pode ser consecutivo ao parto em apresentação pélvica. Suzuki e cols. (1984) verificaram haver estreita relação entre o aparecimento do torcicolo e a postura intra-uterina em extensão de joelhos e coluna cervical. Na opinião dos autores, o torcicolo seria diretamente provocado pelo o alongamento do músculo esternocleidomastóideo durante o trabalho de parto.
Todavia, o torcicolo também foi descrito em fetos nascidos de cesárea (Conventry e Harris, 1959). Foram também estudados casos familiares (Thompson e cols., 1986), assim como a presença simultânea de outras malformações congênitas, especialmente de displasia da articulação coxofemoral (Weiner, 1976; Canale e cols.,1982; Binder e cols., 1987).
2.3 FISIOPATOLOGIA
Existem muitas divergências a respeito da anatomia patológica do torcicolo. Jones (1968) afirma que a alteração mais constante é a fibrose do músculo esternocleidomastóideo, acompanhada ou não da presença de um nódulo. Na opinião do autor, o nódulo seria um fenômeno localizado, dentro de um músculo já afetado pela fibrose.
Sanerkin e Edwards (1966) descreveram os resultados da autópsia realizada em um recém-nascido prematuro com 2 dias de idade, portador de um nódulo no músculo esternocleidomastóideo. O músculo apresentava hemorragia, ruptura e fragmentação de algumas fibras musculares e necrose de algumas fibras.
2.4 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito clinicamente, observando-se a postura com inclinação ipsilateral e rotação contralateral da cabeça, além das limitações nos movimentos do pescoço e elevação do ombro no lado do músculo encurtado. À palpação, percebe-se um nódulo endurecido, não depressível, indolor e de aspecto fusiforme, que pode estar presente em cerca de 20% dos pacientes. Esse nódulo é frequentemente identificado nos primeiros dias de vida, podendo se desenvolver ao longo das semanas seguintes, com tendência à regressão e ao desaparecimento completo até o oitavo mês de vida. Em razão da posição classicamente adotada, há pressão assimétrica no crânio e nos ossos da face em desenvolvimento, acarretando remodelamento destes e resultando em assimetrias faciais e cranianas, como a plagiocefalia (PALAZZIN, 2012).
2.4.1 Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial se faz necessário devido à ocorrência frequente de origens não musculares de torcicolo, como causas neurológicas, ósseas, oculares, auditivas, inflamatórias e malformações. A confirmação diagnóstica é, em geral, realizada pela ultrassonografia, que apresenta importante potencial clínico e aplicação não só para o diagnóstico, mas também para o estabelecimento de prognóstico e monitoramento do progresso e evolução do tratamento realizado. A ressonância magnética tem se mostrado pouco efetiva, com custo-benefício desfavorável e, por vezes, desnecessária na avaliação do torcicolo muscular congênito (LANZA, 2012).
2.5 PROGNÓSTICO
A maioria dos casos de torcicolo é observada em lactentes, mas esta deformidade pode ter origem ou tornar-se mais acentuada em qualquer época do crescimento inicial. A correção devida a tratamento conservador (alongamento e exercícios) ocorre na maioria dos casos até a idade de 12 meses.
Binder e cols. (1987) recomendam a fisioterapia específica em todos os casos, com exceção apenas dos mais benignos. A fisioterapia proporciona excelentes resultados, tanto estéticos como funcionais, inclusive nos casos de moderada gravidade. Os principais fatores que regem o prognóstico após tratamento conservador seriam a gravidade do torcicolo e a época de início do tratamento. Por outro lado, Canale e cols. (1982) referem resultados insatisfatórios com os métodos conservadores, em crianças moderada ou gravemente afetadas. Aplicando uma modificação dos critérios estabelecidos por Canale e cols., Leung e Leung (1987) referem resultados satisfatórios em 90% dos casos, embora considerando os resultados precários sob o ponto de vista estético; 42% dos seus pacientes apresentavam inclinação permanente da cabeça. Pode ser que as diferenças em relação aos resultados traduzam os diversos tipos de tratamento conservador aplicado nos diferentes serviços.
Nos casos em que a contratura persiste, fato que se observa em pequena porcentagem dos pacientes, ou quando a lesão é diagnosticada em criança de mais idade, o tratamento é cirúrgico, consistindo em tenotomia do músculo esternocleidomastóideo e em ressecção do tecido fibrótico adjacente. Via de regra, este procedimento não é indicado antes dos 12 meses de idade; até aí, o tratamento costuma ser conservador. A cirurgia proporciona quase sempre bons resultados.
A correção da posição da cabeça é quase sempre seguida pelo desaparecimento da assimetria facial. O crânio do bebê adquire configuração normal depois de poder girar livremente de um lado para outro (SHEPHERD, 1996).
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