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A Samarco depois do desatre

Por:   •  17/6/2018  •  1.100 Palavras (5 Páginas)  •  282 Visualizações

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Quando o mar de lama desceu como uma avalanche para atingir o rio Doce, levando tudo no seu caminho, o governo descobriu que não sabia como agir, e começou o festival de barbaridades que não deve terminar tão cedo. Ibama, Ministério Público Federal e Estadual, agências ambientais estaduais, concessionárias de água, aventureiros, cada um falando sua linguagem própria. Afinal, qual era mesmo o material contaminante?

A primeira ação conjunta que se esperava do governo era a identificação rápida e precisa do material que jorrou da barragem. Granulometria, densidade, composição química, potencial de lixiviação de intoxicantes, dentre outros para só assim poder avaliar os possíveis impactos para a saúde humana e a biota. Como isso não foi feito, surgiram especulações sobre a toxicidade, o arsênio se tornou metal (é um metalóide), o material particulado se tornou solúvel, e assim o mar de lama invadiu também o bom senso. Isso mostra a inoperância do governo, incapaz de colocar um único interlocutor para coordenar as ações remediativas. Interessante é que tanto na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) como na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) há uma série de dissertações e teses que mostram a caracterização e reuso desta lama. Mas parece que a desinformação é mais interessante do que a informação.

O ápice do festival de barbaridades técnicas foi o uso de bóias de contenção de material flotante (principalmente óleos e borras de derrame de petróleo) para conter o material particulado que compõem o rejeito, o qual tem um diâmetro médio de 10 µm, e evitar sua dispersão no mar. Só faltou alguém sugerir o uso de um grande macaco hidráulico para levantar a foz do rio Doce e fazer o rio correr para a cabeceira. Humor à parte, o desencontro é tão grande que não seria possível descartar esta eventualidade.

O material mais fino que compõe a lama de rejeitos irá se dispersar com o tempo ao longo do rio e no mar, causando um impacto transiente que já mostrou sua força. O fato é que temos agora um passivo ambiental residente de grandes proporções para tratar, visando restaurar ao máximo suas condições pré-acidente. A lama, contendo uma parcela apreciável de sílica, devastou as matas ciliares e ali se depositou, pelo menos em pontos mais próximos à barragem, e deve impedir a recomposição destas matas se não for removida ou recoberta com solo fértil. O leito do rio Doce recebeu uma quantidade de rejeito que deve atuar como se fosse um selo físico, impedindo trocas na interface água/sedimento, processo esse de vital importância para a saúde do sistema aquático.

A recuperação desta bacia é processo de longo prazo, e somente terá sucesso se houver um plano de ação coeso, envolvendo vários atores que trabalhem num projeto factível, integrado, multidisciplinar, usando ao máximo todo o conhecimento que já está disponível visando o sucesso desta remediação. E por favor, esqueçam as técnicas mirabolantes e pirotécnicas, e concentrem-se na fiscalização efetiva e na prevenção.

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