Coesão e coerência

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De acordo com Fávaro & Koch (1983, p. 40) “a referência quer anafórica, quer catafórica, quando estabelecida de maneira inadequada pode dar margem á ambiguidade e prejudicar a inteligibilidade do texto”, evidenciando dessa forma a necessidade de se atentar ao uso dos elementos coesivos, para que não se estabeleça relações de sentido contrárias ao que se deseja.

A segunda modalidade de coesão textual apontada por Koch, a coesão sequencial ou sequenciação, “diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais de estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enunciado, parágrafos e sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, á medida que se faz o texto progredir” (Koch, 2004, p.53), dessa forma, entende-se que o texto tem seu sentido construído a partir da interdependência dos elementos que o constituem, estabelecida por elementos que garantem a continuidade textual. Ainda de acordo com Koch, a progressão do texto pode acontecer através da sequenciação parafrástica ou da sequenciação frástica. A primeira ocorre quando são utilizados procedimentos de recorrência (recorrência de termo, recorrência de estruturas, recorrência de conteúdos semânticos, entre outras) na progressão do texto; a segunda acontece quando a progressão do texto se realiza através “de sucessivos encadeamentos, assinalados por uma série de marcas linguísticas através das quais se estabelecem entre os enunciados que compõe o texto, determinados tipos de relação” (Koch, 2004, p.60).

Tendo por base essas considerações sobre a coesão textual, inicio a análise das redações com o objetivo de compreender os sentidos atribuídos a cada texto por inadequações quanto ao uso dos elementos de coesão. Como dito anteriormente, os textos analisados foram produzidos em uma oficina de Língua Portuguesa preparatória para o Enem 2013, que contou com a participação de 20 alunos do Ensino Médio de uma escola da rede particular de ensino. Durantes tais oficinas que aconteceram três semanas antes do exame, foram realizadas atividades de leitura, interpretação e discussão de textos verbais e não verbais, entre outras atividades pertinentes ao entendimento dos procedimentos que devem ser seguidos durante a escrita de uma redação. Inicialmente, devido ao fato de termos como propósito imediato a preparação dos alunos para a escrita da redação do Enem, fiz a leitura da matriz de referência do exame, que apresenta cinco competências que servem de base para a elaboração da proposta de redação, vejamos quais são essas competências.

- Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

- Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das varias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

- Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

- Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. (Fonte: Edital Enem 2013)

Como podemos notar as competências que servem de base para a proposta de redação do Enem, apresentando os elementos que serão avaliados durante a correção da prova traz conceitos importantes para a consideração de uma boa redação. Orientando os alunos a partir das competências apresentadas, a proposta de redação exigia que os alunos, usando o padrão culto da língua portuguesa, redigissem um texto dissertativo-argumentativo, apresentando informações sobre determinado tema, argumentando sobre seus pontos de vista e apresentando suas propostas de intervenção para resolução das questões levantadas por ele.

A proposta inicial previa que os alunos escrevessem sobre questões sociais, políticas, econômicas, ambientais, entre outros assuntos que pudessem ser o tema da redação do exame, porém durante a execução do trabalho, devido ao tempo disponível e as dificuldades enfrentadas pelos alunos optou-se pela utilização de um único tema, ou seja, As manifestações populares no Brasil. O tema foi escolhido por se tratar de acontecimentos recentes e que desenvolvem discussões a respeito de muitos outros assuntos, como política, economia, entre outros.

Antes da escrita das redações foram apresentados três textos que abordavam o tema escolhido, tais textos foram lidos e interpretados pelos alunos, com a mediação das professoras estagiárias. O primeiro texto, uma notícia, levantava uma série de questionamentos a respeito dos efeitos que seriam causados pelas manifestações populares no país; no segundo texto, o autor, que em um artigo de opinião argumenta sobre as manifestações, relembra momentos da história política e social brasileira e discorre sobre os acontecimentos atuais de maneira pessimista; O último texto, uma charge, trazia a questão da comparação do povo brasileiro com um gigante adormecido, que do mesmo modo que despertará do sono, volta imediatamente a dormir. Com base nesses textos foi realizado um debate com os alunos onde puderam expor verbalmente as informações e opiniões que possuíam sobre o tema, nesse momento de discussão os alunos demostraram grande poder de argumentação e apontaram questões muito relevantes.

Após a realização do debate, os alunos foram orientados a iniciar suas redações, utilizando como tema As mudanças advindas das manifestações populares no Brasil. Dentre as 20 redações que foram produzidas, selecionamos cinco recortes para a análise. Vejamos nosso primeiro recorte, R1:

R1. Diante das várias matérias em jornais ou em noticiários, podemos concluir que a manifestação é um ato da população brasileira, estarem querendo demostrar um chamamento dos “Legislativo e Executivo” estarem analisando as propostas que nas quais pessoas de dentro das manifestações estão querendo ver as mudanças desejáveis.

Nota-se no fragmento acima, que o aluno não traz informações ao leitor sobre o tema do qual escreve, inicia seu texto tendo a ideia de que todos leram as mesmas notícias que ele e compartilha de todas as informações que ele possui, não sendo necessário desse modo explicar de que manifestações estão abordando em seu texto.

O fragmento apresentado localiza-se no início de uma das redações, desta forma, que o termo podemos concluir foi utilizado de maneira equivocada, pois trata-se de um recurso