A ERA DA CATÁSTROFE
Por: YdecRupolo • 29/11/2018 • 2.207 Palavras (9 Páginas) • 338 Visualizações
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A revolução mundial, que os inspirara, avançara visivelmente. Em vez de uma única URSS fraca e isolada, emergira, ou estava emergindo, algo como uma dezena de Estados da segunda grande onda de revolução global, chefiada por uma das duas potências no mundo merecedoras deste nome (o termo superpotência já existia em 1944). Tampouco se exaurira o ímpeto da revolução global, pois a descolonização das velhas possessões ultramarinas imperialistas prosseguia em franco progresso. (HOBSBAWN, 1995, p.87).
3. Rumo ao abismo econômico
Para Hobsbawn (1995, p. 91) sem o colapso econômico entre as guerras, com certeza não haveria Hitler, bem como quase certamente não haveria Roosevelt, sendo muito improvável que o sistema soviético tivesse sido encarado como uma alternativa econômica viável ao capitalismo mundial, tornando-se impossível compreender o mundo na segunda metade do século XX sem entendermos o impacto do colapso econômico.
Hobsbawn (1995, p. 95-96) destaca que ninguém esperava pela extraordinária universalidade e profundidade da crise que começou com a quebra da Bolsa de Nova York em outubro de 1929. “Houve uma crise na produção básica, tanto de alimentos como de matérias-primas, porque os preços, não mais mantidos pela formação de estoques como antes, entraram em queda livre. [...] Em suma, tornou a Depressão global no sentido literal.” (HOBSBAWN, 1995, p.96). “A Grande Depressão destruiu o liberalismo econômico por meio século. [...] Obrigou os governos ocidentais a dar às considerações sociais prioridade sobre as econômicas em suas políticas de Estado.” (HOBSBAWN, 1995, p.99)
Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultrarrápida e maciça sob seus novos Planos Quinquenais. [...] E mais, não havia desemprego. [...] Ecoando os Planos Quinquenais da URSS, ‘Plano’ e ‘Planejamento’ tornaram-se palavras da moda na política. (HOBSBAWN, 1995, p.100-101)
Segundo Hobsbawn (1995, p.102) não há como explicar a crise econômica mundial sem os EUA, eles eram o primeiro país exportador do mundo na década de 1920, motivo pelo qual, tornaram-se a principal vítima da Depressão, uma vez que as suas importações caíram em 70% entre 1929 e 1932, e suas exportações caíram na mesma taxa. Para Hobsbawn (1995, p.111-112) o velho liberalismo parecia condenado e três opções competiam agora pela hegemonia intelectual-política: O comunismo marxista, o capitalismo e o fascismo.
À medida que crescia a maré do fascismo com a Grande Depressão, tornava-se cada vez mais claro que na Era da Catástrofe não apenas a paz, a estabilidade social e a economia, como também as instituições políticas e os valores intelectuais da sociedade liberal burguesa do século XIX entraram em decadência ou colapso. (HOBSBAWN, 1995, p.112).
4. A queda do liberalismo
“De todos os fatos da Era da Catástrofe, os sobreviventes do século XIX ficaram talvez mais chocados com o colapso dos valores e instituições da civilização liberal cujo progresso seu século tivera como certo.” (HOBSBAWN, 1995, p.113). De acordo com Hobsbawn (1995, p.114-115), as instituições básicas do governo liberal constitucional eram quase universais nos países independentes da época, no entanto o liberalismo fez uma retirada durante toda a Era da Catástrofe.
Nos vinte anos de enfraquecimento do liberalismo [...] o perigo vinha exclusivamente da direita. Um movimento potencialmente mundial, para o qual o rótulo “fascismo” é ao mesmo tempo insuficiente mas não inteiramente irrelevante. Insuficiente porquê de modo algum todas as forças que derrubavam os regimes liberais eram fascistas. E relevante porque o fascismo, [..] inspirou outras forças antiliberais, apoiou-as e deu à direita internacional um senso de confiança histórica: na década de 1930, parecia a onda do futuro. (HOBSBAWN, 1995, p.116).
Para Hobsbawn (1995, p.138), embora a ascensão e triunfo do fascismo fossem a expressão mais espetacular da derrota liberal, seria um erro ver a queda do liberalismo em termos exclusivos do fascismo.
No fundo, a política liberal era vulnerável porque sua forma de governo característica, a democracia representativa, em geral não era uma maneira convincente de governar Estados, e as condições da Era da Catástrofe raramente asseguraram as condições que a tornavam viável, quanto mais eficaz. (HOBSBAWN 1995, p.140)
5. Contra o inimigo comum
Para Hobsbawn (1995, p.147) o que uniu todos os países numa única guerra global, internacional e civil, foi o surgimento da Alemanha de Hitler, entre 1933 e 1945, pois o fascismo tratava de forma pública os liberais, socialistas e comunistas ou qualquer outro tipo de regime, como inimigos a serem aniquilados, sendo que um outro fator que entrelaçou os fios da política nacional numa única teia internacional foi a debilidade dos Estados democráticos liberais para resistir ao avanço de Japão, Alemanha e Itália, chamados de “Eixo”.
O breve sonho de Stalin, de uma parceria americano-soviética no pós-guerra, não fortaleceu de fato a aliança global de capitalismo liberal e comunismo contra o fascismo. Em vez disso, demonstrou sua força e amplitude. É evidente que se tratava de uma aliança contra uma ameaça militar, e que nunca teria existido sem a série de agressões da Alemanha nazista, culminando com a invasão da URSS e a declaração de guerra aos EUA. (HOBSBAWN 1995, p.169)
“Muito curiosamente, a URSS foi (com os EUA) o único país beligerante a que a guerra não trouxe nenhuma mudança social e institucional significativa.” (HOBSBAWN 1995, p.171). Segundo Hobsbawn (1995, p. 176-177), após 1945 quase todos Estados rejeitavam a supremacia do mercado, acreditando na administração e planejamento da economia pelo Estado, apenas a União Soviética juntamente com sua nova e extensa família acreditavam apenas no planejamento central. “Assim que não mais houve um fascismo para uni-los contra si, capitalismo e comunismo mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro como inimigos mortais.” (HOBSBAWN 1995, p.177).
6. As artes 1914-45
“As únicas inovações formais depois de 1914 no mundo da vanguarda “estabelecida” foram duas: o dadaísmo, que antecipou o surrealismo na metade ocidental da Europa, e o construtivismo soviético na oriental”. (HOBSBAWN 1995, p.179). “Só havia na verdade duas artes de vanguarda que todos os porta-vozes da novidade artística, em todos os países,
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