EMPREENDEDORISMO NO VALE DO SILÍCIO – ORIGENS E PROSPECÇÕES
Por: Lidieisa • 16/3/2018 • 5.474 Palavras (22 Páginas) • 297 Visualizações
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Pesquisas também mostram que para criar uma empresa bem-sucedida três coisas são necessárias: financiamento, clientes e empregados. E esses itens também estavam em falta para uma startup como a de Shockley. Em meados dos anos 1950, não havia fundos de capital de risco na região – na época, o exército dos Estados Unidos agia como principal investidor e cliente de empresas de alta tecnologia. Mas a região de São Francisco não era líder no segmento nem mesmo em seu próprio estado, uma vez que Los Angeles e São Diego recebiam mais recursos para pesquisa e produção de alta tecnologia. Também era difícil encontrar trabalhadores talentosos, já que engenheiros com experiência em semicondutores estavam concentrados nas cidades que já possuíam empresas especializadas. A Baía de São Francisco tinha algumas poucas empresas na área de computação, mas que trabalhavam com tecnologias muito diferentes das relacionadas aos transistores – ou seja, os funcionários locais não tinham o conhecimento que Shockley necessitava. O programa de engenharia da Universidade de Stanford também era um tanto pequeno. Menos de vinte engenheiros obtiveram o PhD na instituição no ano que Shockley começou sua startup. E eles tampouco tinham muita experiência em trabalhos com semicondutores, uma vez que não havia um laboratório especializado em Stanford. Além disso, por conta de políticas restritas de imigração, importar talentos de outros países não era uma opção (nos anos 1950 e 1960, imigrantes eram menos de 10% da população da região, as taxas mais baixas dos últimos 150 anos).
Shockley trabalhou firme para superar esses desafios. Ele conseguiu financiamento de um investidor de fora da região da baía de São Francisco, mas os talentos eram mais difíceis de encontrar. Então, ofereceu trabalho a antigos parceiros do laboratório de pesquisa da AT&T, mas eles recusaram a mudança para a região (o lugar era tão rural que faltava serviço de ligações à distância). Outros pesquisadores da RCA, outra companhia de transistores, também recusaram a oferta. Já que não podia contratar funcionários experientes, Shockley tentou recrutar os melhores jovens talentos disponíveis. Ele publicou anúncios em jornais acadêmicos e viajou pelos Estados Unidos para conhecer estudantes de pós-graduação. A procura rendeu oito promissores engenheiros e pesquisadores que formaram o núcleo de sua nova empresa: três PhDs do MIT, de Boston, um PhD e professor do CalTech no sul da Califórnia, dois engenheiros da região de Nova Iorque e um PhD local de Stanford. Com média de 30 anos de idade, o grupo era bastante jovem, mas todos estavam ávidos por novas oportunidades, algo que Shockley estava oferecendo. “Foi como atender ao telefone e conversar com Deus”, disse Robert Noyce, um dos PhDs do MIT. “Ele era a pessoa mais importante do mundo no ramo dos semicondutores eletrônicos”. Mesmo tendo construído um belo time, a empresa enfrentava outras grandes dificuldades antes de poder sair atrás dos clientes. Shockley acabou se tornando um péssimo chefe. Ele insultava seus funcionários e era tão paranóico que certa vez ordenou toda sua equipe a fazer testes em polígrafos (detectores de mentiras). Essas atitudes acabaram com seu negócio. Depois de apenas um ano, todos os oito funcionários que Shockley havia trabalhado tão duro para recrutar renunciaram no mesmo dia. A empresa de Shockley iria fechar poucos anos depois. A saída dos oito pesquisadores enfraqueceu a companhia a tal ponto que uma recuperação não foi possível. A situação também levantou uma dúvida: era possível construir uma empresa de chips de computadores competitiva na região de São Francisco?
Arthur Rock era um jovem investidor que trabalhava em Nova Iorque quando um colega lhe escreveu uma carta que iria transformar a indústria da tecnologia. Ela veio de Eugene Kleiner, um dos oito ex-funcionários de Shockley. “Com a ajuda adequada, esse grupo pode conseguir pessoas mais experientes para trabalhar com eles”, dizia a mensagem. “Nós acreditamos que somos muito mais valiosos para uma empresa como um grupo. Nós temos experiência e uma boa diversidade de conhecimento nos campos da física, eletrônica, engenharia, metalurgia e química”. Os oito pesquisadores que deixaram Shockley queriam seguir trabalhando juntos para criar transistores, mas nenhuma empresa da região de São Francisco produzia tais mecanismos. O pai de Kleiner tinha contatos no banco que Arthur Rock trabalhava. Kleiner então procurou os investidores dali na esperança de encontrar uma empresa perto de Nova Iorque ou Boston, na costa leste, que poderia contratar a equipe recém-saída da empresa de Shockley. Os oito pesquisadores haviam sacrificado suas promissoras carreiras por um trabalho juntos nesta nova indústria. A maioria havia mudado suas famílias por longas distâncias e não estavam prontos para desistir. Rock rapidamente reconheceu o potencial do grupo. “Todos eles tinham sido escolhidos por Shockley, então sabia que provavelmente eram boas pessoas. Quando nos conhecemos, fiquei bastante impressionado”, disse. Entretanto, Rock acreditava que o time deveria parar de procurar por um empregador e ter um sonho muito maior. “Eu sugeri a eles que deveriam estabelecer uma nova empresa, e veria se conseguiria investimento para isso”.
O investidor nova-iorquino trabalhou duro para convencer os pesquisadores e engenheiros a criarem sua própria empresa. A equipe gostava da qualidade de vida do norte da Califórnia e começava a cravar raízes na região, e tentaram continuar por lá. “Todos nós éramos donos das nossas casas lá”, lembra Gordon Moore, um dos oito pesquisadores. “Era muito mais fácil do que sair atrás de outros trabalhos”. Infelizmente, foi muito mais difícil do que o esperado encontrar financiamento para uma empresa de transistores localizada perto de São Francisco. Rock buscou mais de 35 potenciais investidores e foi rejeitado em todos os casos. Ele estava prestes a desistir quando foi apresentado a um empreendedor serial de Nova Iorque chamado Sherman Fairchild. Fairchild concordou em financiar a nova companhia como um negócio independente associado à Fairchild Camera & Instrument (FC&I), uma firma de eletrônicos que ele liderava. Então, os oito co-fundadores nomearam a empresa de Fairchild Semiconductor e abriram o negócio em Palo Alto em outubro de 1957.
Graças ao recrutamento de Shockley e à captação de recursos de Rock, os empreendedores tinham o recurso humano e financeiro necessário. O que eles precisavam agora eram clientes. Felizmente, Sherman Fairchild mantinha boas conexões na indústria de eletrônicos. Ele apresentou os co-fundadores a executivos do setor e os ajudou a assinar o primeiro contrato com a IBM. Esse relacionamento
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