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Metologia

Por:   •  9/4/2018  •  2.715 Palavras (11 Páginas)  •  294 Visualizações

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—Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não

pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...

Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A

notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se. (ASSIS, 2004, p. 102)

Nesse trecho da obra Bentinho começa a ser corroído pelo ciúme, a desconfiar de Capitu, é bem notável a interação textual da obra com a tragédia shekespeariana, na qual Iago também acende uma chama de ciúme em Otelo.

Argutamente, Eduardo Lourenço suscita que Machado, por se transportar “para o espírito do narrador” faz com que não saibamos nunca se ele é vítima absoluta da infidelidade de Capitu ou o super Otelo que projeta na realidade a forma do seu ciúme vertiginoso e sem cura”, considerando-o verdadeiro precursor da era suspeita. (2001, p. 198). Machado seria definido como o principal suspeito o sujeito ativo e passivo do seu drama, segundo Carlos Nejar. Teria ele apenas se utilizado da ideia de fazer com que o leitor se detivesse na dúvida, uma das características de Machado.

O personagem Bentinho inclusive nos narra fatos que esclarecem seu ciúme por Capitu. Ao descrever, por exemplo, quando ela olha pela janela um jovem cavaleiro que passa e esse vira a cabeça para observá-la (MACHADO, p. 119), os braços “eram belos (...) levou os nu a um baile. (MACHADO, p.158), o que se observa é que o ciúme realmente faz com que Bentinho venha desconfiar da fidelidade de sua esposa. E acaba criando situações que o façam suspeitar ainda mais de Capitu.

Shakespeare e Otelo

Shakespeare foi um grande escritor da literatura mundial, escreveu várias peças, tragédias, e é conhecido e lido até hoje no mundo todo. A semelhança que se encontra na obra de Machado de Assis vem provar o seu prestígio como escritor.mas não somente em Machado, também influenciou muitos outros grandes escritores da literatura mundial.

Otelo é um mouro, que quer dizer negro, é um homem apaixonado que se deixa influenciar por Iago, um homem invejoso que não se satisfaz em ver que um negro (Otelo) ocupar um cargo mais alto que o seu. Seu pretexto ao envenenar Otelo contra Desdêmona, tomar seu lugar fazendo-se de seu amigo, este premedita cada acontecimento e planeja todos os passos, fazendo com que as provas sejam implantadas e ocasionadas, para assim dar mais ênfase e continuidade em seu plano maquiavélico, não despertando nenhuma dúvida sobre suas atitudes.

Iago - Isso me alegra, porque me enseja base suficiente para provar-vos com mais franco espírito a afeição e lealdade que vos voto. Assim, já que o dever a isso me obriga, sincero vou falar, mas não de provas, por enquanto. Vigiai vossa consorte; observai bem como ela e Cássio falam; lançai-lhe olhar assim, nem enciumado, nem confiante demais. Não desejara que vossa natureza leal e nobre vítima viesse a ser por causa, apenas, da generosidade que lhe é própria. Vigiai-os bem. Conheço minha terra; em Veneza as mulheres não se correm de confessar ao céu as leviandades que ocultam dos maridos. Para todas a virtude consiste apenas nisto: Não deixes de fazer, mas em segredo. (SHAKESPEARE, P. 47).

Iago não se detém em por cada vez mais Otelo contra Desdêmona, neste trecho ele tira proveito de um momento em que Desdêmona conversa inocentemente com Rodrigo para promover dúvidas sobre Otelo, fazendo-o crer que há algo a mais na amizade dos dois.

Desdêmona é vítima da trama de Iago e ao mesmo tempo do ciúme de Otelo. Sendo privada de poder se defender. Toda a prova, falsa, que Iago põe e tenta conduzir Otelo a ver e comprovar sua veracidade, no caso uma farsa.

Otelo - Por quê? Por que tudo isso? Crês, de fato, que eu passaria a vida tendo ciúmes e as mudanças da lua acompanhara com suspeitas crescentes? Não; a dúvida já me traria a solução do caso. Troca-me por um bode, se o andamento de minha alma eu torcer, com base apenas em infladas e vácuas conjeturas, como ora as apresentas. Não me deixa enciumado dizerem-me que minha mulher é linda, que aprecia a mesa, gosta da sociedade, é de linguagem mui desembaraçada, dança, canta e representa bem. Onde há virtude, tudo isso mais virtuoso, ainda, se torna. Não tirarei de meu modesto mérito o menor medo ou dúvida a respeito de seu procedimento; ela tinha olhos e me escolheu. Não, Iago; primeiro hei de ver para duvidar. E após a dúvida, precisarei de provas; feitas essas, uma só coisa resta: liquidemos de vez o amor e o ciúme. (SHEKESPEARE, p. 49)

Neste trecho Iago já com seus planos de colocar Otelo contra Desdemona, influencia-o a sentir ciúme e criar dúvidas. Otelo não quer acreditar que sua amada tenha capacidade de fazer tal injúria, prefere alguma prova a tirar conclusões precipitadas a respeito de Desdêmona e Iago percebendo que seu plano começa a dar certo começa a instigá-lo criando provas falsas que incriminem Desdêmona, despertando cada vez mais o ciúme e a raiva de Otelo contra sua amada:

Iago — Acautelai-vos senhor, do ciúme; é um monstro de olhos verdes, que zomba do alimento de que vive. Vive feliz o esposo que, enganado, mas ciente do que passa, não dedica nenhum afeto a quem lhe causa o ultraje. Mas que minutos infernais não conta quem adora e dúvida, quem suspeitas contínuas alimenta e ama deveras! (SHEKESPEARE, p.54)

Analisando as duas obras

Comecemos por analisar a obra de Machado, em que o autor se utiliza, de seu conhecimento prévio sobre outras literaturas, incluindo Shakespeare, para propor ao seu leitor uma ideia ou conceito de um assunto tratado com simplicidade e ao mesmo tempo com tanta criatividade quanto à estrutura da obra, principalmente porque esta vem colocar um só personagem na figura de dois, Bento Santiago vem ser o Iago e Otelo da tragédia de Shakespeare ao mesmo tempo, ele vem criar suas próprias dúvidas. Assume papel de vítima, de traído por sua esposa e seu melhor amigo. No entanto a pergunta que paira sobre todo o enredo da obra é: será que Capitu realmente traiu Bentinho com seu melhor amigo?

De fato o narrador só nos dá uma possibilidade, a de acreditar nele e ver os acontecimentos de um ângulo da história. Machado deixa o leitor criar possibilidades, uma

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