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A Língua de Eulália

Por:   •  2/8/2018  •  2.626 Palavras (11 Páginas)  •  322 Visualizações

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levando o nome de Yeísmo, onde nessas línguas o LL pronuncia I.

A partir das desconstruções desse mito da unidade linguística que o ambiente escolar perpetua - colocando o PNP como uma linguagem deficiente, e o PP a forma linguística perfeita - Irene diferencia duas palavras de origem latina: Ensinar, que em latim é “insīgno”, correspondente a “pôr uma marca, um signo (sinal)”, implicando uma ação de implantar, de fora pra dentro; e Educar, do latim “edŭco”, ou seja, “trazer para fora, tirar de, dar à luz”, sendo um movimento oposto ao de “Ensinar”; apontando que tais significados indicam que o uso de cada palavra determina a ação dos professores ao transmitir a gramatica do português padrão (PP) para os alunos, apontando que o certo é transmitir o conhecimento de fora para dentro, sendo assim mais apropriado a utilização do termo “Educar”.

Em outra aula é explicado o caso das simplificações das conjugações verbais demonstrando que enquanto no PP os verbos são conjugados de acordo com cada pessoa verbal, no PNP são reduzidas, a exemplo do verbo “Amar”: (Eu Amo, Tu ama, Ele ama, Nós/A Gente ama etc.), mostrando assim que da segunda pessoa verbal em diante a conjugação permanece igual, diferente apenas da primeira, enfatizando a motivação psicológica do ser humano de se distinguir dos outros.

Outra tendência natural da língua falada é chamada de Assimilação, que é a força que tenta fazer com que dois sons diferentes, mas produzidos na mesma zona de articulação, se transforme em um único som, igual ou semelhante, como ocorre em “comeno” ou “cantano”, onde o /n/ e o /d/ fazem parte da mesma família de consoantes, as dentais, ou seja, mesmo local de articulação, assim como o /m/ e o /b/ que são bilabiais e a redução se encontra em “mucado” de “bocado”, explicando assim a tendência econômica da língua na pronuncia e a importância da assimilação como força ativa na historia da formação da língua portuguesa tal como a conhecemos hoje.

Ainda sobre Assimilação, há também o caso da transformação dos ditongos OU em O, isso é, essa transformação é resultado da redução do som das vogais com sons “distantes” para os sons mais “próximos”, como exemplo a palavra latina paucu, que nada mais é do que a palavra que originou pouco no português padrão, que se transformou em poco no PNP, devido a distancia do movimento da boca para pronuncia da vogal A (mais aberta) para a semivogal U (mais fechada), a fala comum resolveu aproximar o U do Ô (O fechado), e posteriormente reduzindo mais ainda com a eliminação do U. Outro nome dado a esse fenômeno de redução de ditongos é monotongação, dois sons diferentes transformados em um, que assim como ocorreu com o OU, ocorre com o EI, com a transformação para E com timbre fechado apenas nas situações onde o ditongo EI aparece diante das consoantes J, X e R, devido à assimilação que aproveita o caráter palatal (produzido no palato, mais conhecido como céu da boca) da semivogal I e das consoantes J e X para transformá-las em um único som, e assim, diferente da redução das duas vogais OU para O, há a redução do IJ/ IX para somente J e X; já no caso do R, apesar de não ser de caráter palatal como o J e o X, ele possui um som produzido naquela região- entre os alvéolos e os dentes, na parte mais avançada do céu da boca -, sofrendo também os efeitos da assimilação transformando os sons da semivogal I e da consoante R em um só.

A característica mais comum e destacada nas aulas de linguística da professora Irene às meninas é a redução ou abreviação dos sons para facilitar cada vez mais a língua na fala, porém, nem todas as reduções pertencem exclusivamente ao PNP, pois está presente também em todo domínio da língua portuguesa, como no caso do E e o O átono pretônico. O átono pretônico corresponde às vogais em uma sílaba anterior à sílaba tônica – por isso pré-tônicos –, as quais sofrem redução em grande parte do PP e PNP do Brasil, assim como também ocorre com as postônicas em certos casos como em “êli bébi”, reduzindo o som para a semivogal I. O nome dado para esse fenômeno é harmonização vocálica, ou seja, visto que as vogais I e U são as mais fechadas da nossa língua, presentes numa sílaba tônica elas tendem a “puxar” as vogais pretônicas E e O para o mesmo som que estas produzem, dando à língua portuguesa certa musicalidade.

Geralmente esse fenômeno ocorre quando na sílaba tônica há o I e o U, porém, existem palavras que possuem O pronunciado U em palavras que possuem o B e o M - consoantes bilabiais - no átono pretônico, como em “moeda” que surge “mueda”, assim como em “bolacha” =“bulacha”. Isso ocorre para não terem de passar de um fechamento muito grande para o arredondamento grande, que ocorre na pronuncia do O, portanto reduz o O para o U, uma vogal com pronuncia tão fechada como o B e o M.

A escola ao tentar impor ao aluno a pronuncia da língua como se escreve, fortalece a tendência errônea e artificial de falar a língua, visto que ela está sujeita à redução e contração das palavras, como ocorre no caso das palavras proparoxítonas em paroxítonas. Visto que o ritmo da nossa língua é paroxítono, as proparoxítonas são tidas como um corpo estranho até mesmo no PP – já que essa redução é comum na fala do PNP: “árvore = árvre” -, não correspondente ao ritmo natural da língua.

A tendência natural da língua falada continua seu “enxugamento” de sons e letras na pronuncia de diversas palavras, agora com a desnasalização das vogais postônicas, um processo natural onde palavras que possuíam um N final em latim passam a ser pronunciadas sem esse N no português, porém deixou vestígios dessa extinção sendo usadas com dupla grafia (abdome/abdômen = abdominal), apesar de pouco usada na língua falada e escrita. Quanto à dupla grafia, ela existe devido à eterna briga entre o PP de conservar o M das palavras e do PNP de eliminá-lo. E além desse M, o fenômeno também atingiu as palavras terminadas em ÃO postônico, como por exemplo, o nome Cristóvão que no PNP se pronuncia Cristovo e nos verbos que terminam em AM como na conjugação verbal “eles cantaram” torna-se “eles cântaro”.

Mas nem tudo é inovação, como no caso do uso de verbos precedidos pela letra A como exemplo dos verbos “abastar”, “alimpar”, “alumiar”, etc, que são conhecidos como arcaísmos, ou seja, são heranças muito antigas, vestígios de outros tempos ou até mesmo verdadeiros “fósseis” linguísticos, assim como algumas palavras com formas que se aproximam do latim como “escuitar” e “entonce” (“Então”). O porquê do uso ainda comum desses arcaísmos na língua

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