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O CANGAÇO: UMA REVISÃO HISTORIOGRÁFICA

Por:   •  19/6/2018  •  6.506 Palavras (27 Páginas)  •  296 Visualizações

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Portanto, para Hobsbawm não é possível que o banditismo social seja definido de forma simples e leviana principalmente pelos estudiosos como sociólogos entre outros. O autor ainda deixa claro que o banditismo não é de forma alguma exclusividade do Brasil, pois, já existia em diversos lugares, como Europa, Ásia Meridional e Oriental, mundo Islâmico e América.

Hobsbawm (1976), diz ainda que o banditismo ocorre em todos os tipos de sociedade, principalmente nas fases de transição como nas evoluções de tribos e clãs, nas sociedades modernas capitalistas e industriais, nas desintegrações consanguíneas e no capitalismo agrário.

Os bandidos sociais surgiram conforme Hobsbawm (1976), como defensores de valores combatendo assim a injustiça causada pela crescente desigualdade social, sendo identificados pela população como ladrões nobres ou justiceiros. Contudo, existem muitas razões pelas quais os bandidos se tornam revolucionários, a mais significantes é a de desejarem uma vida mais justa e igualitária, sem a exploração existente principalmente nas regiões do interior dos estados.

Hobsbawm salienta ainda que, o que torna o banditismo social significativo é a relação entre o camponês comum e o rebelde, e sobretudo as considerações feitas tanto por parte da população que os tem como vingadores e justiceiros como pelo Governo que os tem como criminosos. O autor diz que seria impossível imaginar que um bandido social roubasse a colheita de um camponês e não a do fazendeiro, pois, aqueles que o fizessem não seria considerado um bandido social por não ter sua característica principal, roubar dos ricos para dar aos pobres.

A análise de Hobsbawm baseia-se na existência de três tipos de bandidos: o bandido nobre, como Robin Hood; os guerrilheiros primitivos; e o vingador, como Lampião. O autor enfatiza que estas formas diferem segundo as regiões em que o banditismo social se desenvolveu, e que não devem ser confundidas com as práticas de comunidades que têm no crime uma forma de vida não diretamente relacionada com a transição para o capitalismo.

Dentro do conceito social, Hobsbawm deixa claro várias características dos bandidos sociais os relacionando com alguns personagens reais e outros fictícios como Robin Hood que surgiu durante o século XIV. O historiador diz que é difícil absorver a ideia da existência do bandido nobre, porém, que é provável Robin Hood existir como mito, definindo-o como o mocinho que se revoltou contra as injustiças praticadas em sua região, e, portanto, decidiu roubar dos ricos e dar aos pobres, provendo a justiça e a igualdade social, por isso a designação bandido nobre.

Robin Hood, o ladrão nobre, é o tipo de bandido mais famoso e popular em todo o mundo, o herói mais comum de baladas e canções na teria, ainda que não seja assim na prática. (HOBSBAWM, 1976. p.36)

Hobsbawm (1976), vai além em sua definição afirmando que todos os bandidos camponeses deveriam ser como Robin Hood, ter como ideal a consciência social para desempenhar seu papel.

No Brasil o fenômeno do banditismo social acontece com maior predominância na região do sertão nordestino, onde localiza-se a grande massa da população rural.

Hobsbawm (1976), liga o banditismo no Brasil aos cangaceiros através da imagem do mais conhecido deles Virgulino Ferreira da Silva vulgo Lampião, descrito pelo autor como nascido em família de respeitáveis agricultores e criadores de gado da serra do agreste de Pernambuco, e trata como lenda a sua trajetória. O autor informa através de suas pesquisas que o jovem Virgulino não desejava ser doutros como queria seu tio, mas sim ser vaqueiro, e aos 17 anos presenciou a expulsão de sua família das terras onde viviam, acusados de roubo pela família Nogueira. Iniciando assim a rixa que o tornaria um marginal um bandido.

Lampião no cangaço por Hobsbawm (1976) enquadra-se como bandido vingador, que desejava vingar sua família pela injustiça sofrida. Porém, deixa claro que Lampião nunca deixou de lamentar o destino que o tornara um bandido ao invés de trabalhador honesto, certo de que seria conduzido a morte, pensamento este que somente o suportaria se tivesse a sorte de morrer num combate leal.

Desta forma Hobsbawm contribui para que seja possível a análise sobre as práticas sociais desses bandidos que teriam escolhido por algum motivo o tipo de vida que levavam. O autor ressalta ainda que o bando de Lampião durante o cangaço foi o primeiro grupo a aceitar mulheres, acreditavam que a mulher deixava o corpo dos policiais aberto para as balas.

Hobsbawm (1976, p.76), relata o fato da integração da mulher ao bando da seguinte forma:

Lampião parece ter sido o único cangaceiro brasileiro a permitir que elas integrassem e compartilhassem a vida errante do bando; é provável que isto tenha acontecido depois que ele se apaixonou por Maria bonita, romance muito repisado nas baladas.

A vida de Lampião foi vista e construída através de contradições, que gerou muitas representações a respeito de sua imagem, e todas elas seguem carregadas com os estigmas dos interesses dos vários grupos e setores sociais.

Hobsbawm (1976), faz a ligação do bandido ao setor econômico e político, pois, embora não fizessem parte da ordem social habitual de uma comunidade de homens livres ou de pobres e camponeses, os bandidos tinham suas necessidades e atividades para sua própria existência. A maioria dos bandidos viviam numa economia monetária, apesar de obter alimentos, roupas, cigarros, álcool e até mesmo estadia dos comerciantes que não ousavam cobrar, os bandidos muitas vezes compravam e vendiam as mercadorias saqueadas conseguindo quantias em dinheiro. O autor informa inclusive que uma vez que os bandidos tinham mais dinheiro que os camponeses locais, gastavam a maior parte de seus recursos na região.

Hobsbawm afirma que por estarem ligados a economia monetária os bandidos necessitam de intermediários que os liguem também as redes maiores de comércio. Porém, o banditismo vai além do contato do bandido e comerciantes, ele forma também um núcleo de força armada, portanto, uma força política.

Por Carlos Alberto Dória em seu livro o Cangaço de 1981, o bandido social parte do conceito de um membro da sociedade rural encarado pelo Estado e pelos latifundiários como criminoso e pelos camponeses como herói, não podendo ser comparado com um bandido comum que a própria comunidade o entrega à polícia.

Dória (1981), diz que a família muito numerosa e sem valores éticos e morais, contribuem também para o surgimento deste tipo de

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