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HAGIÓGRAFOS - INTRODUÇÃO

Por:   •  25/4/2018  •  14.053 Palavras (57 Páginas)  •  241 Visualizações

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-Whybray (atitude diante da vida) tem uma perspectiva diferente da sede social da sabedoria: não crê na existência de um grupo profissional ou esotérico, enquanto Von Rad atribuía essa acção a um grupo específico. Prefere fala de «tradição intelectual» do que de «tradição sapiencial». “Para ele, a «sabedoria» do AT é um mundo de ideias que reflecte uma atitude diante da vida. Em cada geração existem pessoas que reflectem sobre as eternas perguntas da vida e que fazem outros participantes das suas reflexões.”[12] Ambos estão de acordo em que a reflexão sobre a vida constitui o ponto de partida do trabalho da empresa «sapiencial»; também em que a articulação de tal reflexão acabou adquirindo um carácter distintivo. Contudo, não partilham critérios sopbre dois aspectos:

- a função desempenhada por essa reflexão articulada na formação da tradição israelita;

- e a existência de uma classe profissional de sábios responsáveis pela conservação e eventuais desenvolvimentos da tradição intelectual.

“A partir fundamentalmente dos seus estudos sobre os termos hokmah (sabedoria) e hakam (sábio), Whybray chega à conclusão de que, a julgar pelo uso destes termos no AT, «a sabedoria não é mais que uma dotação natural que algumas pessoas possuem em maior grau que outras... Uma inteligência inapta de tipo geral» (...). Mas numa sociedade como a israelita daquele tempo, a inteligência estava naturalmente associada com o domínio da linguagem”[13] o que segundo Whybray induziu autores a pressuporem a existência de escolas de formação.

Concluindo, “esta tese de Whybray tem a vantagem de não reduzir a sabedoria a um legado esotérico cultivado por uma classe profissional e posta ao serviço de estudantes de elite, mas não dá o devido relevo à dimensão diacrónica dessa «tradição intelectual»”[14].

-Crenshaw (auto-compreensão em relação com as coisas) distingue entre literatura sapiencial, tradição sapiencial e pensamento sapiencial, sintonizando com a postura de Whybray: quem melhor manifestou que que a sabedoria é tanto uma atitude quanto uma tradição viva e um corpo literário. Define sabedoria como «a procura da autocompreensão na relação com as coisas, a gente e o Criador»[15]. Procura que se desenvolve em três níveis:

-1) a sabedoria da natureza, como tentativa de dominar as coisas tendo em vista a sobrevivência humana e o bem estar;

-2) sabedoria jurídica e sabedoria prática que se dedica às relações humanas dentro de uma sociedade ordenada ou estado;

-3) e sabedoria teológica que se move no âmbito da teodiceia, afirmando Deus como siginificado último.

-Murphy (esforço por ordenar a conduta humana) levanta sérias dúvidas sobre a tese dos que defendem que a sabedoria b´blicanasce do esforço por descopbrir uma ordem na vida do homem, considerando abusiva a oferta de paralelismos entre Israel e o Egipto no que se refere à percepção e ao alcance da ordem cósmica. Para Murphy os textos sapienciais interessam-se pela conduta humana, não pela ordem da natureza. “Quando um aforisma ou uma instrução justapõe ambas as ordens, procura simplesmente a comparação, a ilustração de uma ordem a partir da outra”[16]. logo há que duvidar que os antigos israelitas acreditassem que a conduta do homem tinha uma incidência directa na ordem do mundo.

Murphy crê que a sabedoria bíblica nasce do esforço por pôr ordem na vida do homem: o que modifica o ponto de vista relativo à ordem do mundo, pois, em lugar de dizer que o homem experimenta Deus no contexto da ordem estabelecida, terá que afirmar-se que o experimenta na procura da própria ordem: na procura de estabelecer uma ordem no entramado, por vezes caótico das relações sociais, mediante o recurso à análise e classificação de experiências.

SABEDORIA EM EVOLUÇÃO...

Para captar mais exactamente essa diversidade é preciso ter em conta a evolução da sabedoria dentro de Israel, onde poderemos apontar quatro etapas, (sem esquecer que a questão da evolução da forma de expressão literária é assunto que reúne opiniões muito díspares[17], bem como que não há duvida que chegamos a um ponto que para uns é uma consequência lógica e para outros um verdadeiro mistério histórico: “o facto consumado na história de Israel da admissão formal e oficial da sabedoria por parte do Povo como meio de expressão da vontade do Senhor e, consequentemente, como veículo de revelação juntamente com a lei e a profecia”[18]:

- O humanismo internacional

A sabedoria é um fenómeno comum no Antigo Oriente, e sem dúvida anterior à existência do Povo de Israel. “No Egipto, Mesopotâmia e Síria encontramo-la representada em numerosos provérbios, fábulas e poemas. Trata-se em grande parte dfe uma arte de escrever bem e e de boa educação e governo, destinada principalmente aos príncipes e aos nobres”[19]. Não deixando de ser curioso a recolha de alguns testemunhos estrangeiros, mostrando com isso o carácter internacional da sabedoria presente na Bíblia: Prov. 30; 31, 1-9.

- A sabedoria israelita desde a origem ao século VI

A sabedoria oriental influiu em Israel desde tempos muito antigos. No âmbito das famílias e clãs devem ter surgido, desde o começo, breves ensinamentos sobre a amizade, a educação dos filhos, a hospitalidade e temas parecidos.

Contudo, foi nos tempos de Salomão que mais se desenvolveu o fenómeno sapiencial, certamente devido ao seu valor pessoal e ao seu contacto com a cultura egípcia. Sublinhem-se dois pontos relevantes: “primeiro, que a sabedoria é um dom que se pede a Deus e que Ele dá. O segundo, que a sabedoria abarca aspectos muito distintos: o governo do povo e a administração da justiça, a capacidade de tomar decisões adequadas, como a construção do templo e o conhecimento enciclopédico”[20].

Deixe-se desde já claro que a literatura sapiencial de Israel não se limita aos cinco livros chamados sapienciais, osseus resultados aparecem também nos livros narrativos e proféticos, e nos Salmos.

Sinteticamente, podemos dizer que a sabedoria deste primeiro momento se caracteriza por carecer de ambições filosóficas e teológicas e pelo seu optimismo. Utiliza sobretudo a forma breve do provérbio ou do refrão. Os temas que mais lhe interessam são a prudência, a honra, a modéstia, a confiança em Deus, a caridade.

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