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Discussão Sobre Família

Por:   •  30/11/2018  •  1.594 Palavras (7 Páginas)  •  258 Visualizações

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Portanto, o que se tem são três movimentos dentro do cenário em que se discutia parentesco e família: primeiramente, a separação entre essas duas formas de estudos justamente por compreensões diferentes no que se referiam as sociedades tribais e complexas. Num segundo momento, as discussões eram pautadas pelos debates feministas e que se preocupavam em denunciar a desigualdade entre os papeis sociais desempenhados pelos sexos, bem como, num segundo momento dentro desse período, em tomar a figura da mulher não mais como complementar ou relacional a do homem, mas como a mulher-indivíduo. Já o terceiro movimento se dá justamente em torno da década de 70, quando Schneider, Yanagisako e Strathern passam a lançar luz a preocupações vistas como anteriores a estes debates, uma vez que as categorias ocidentais estavam sendo colocadas em pauta. Daí o silenciamento que Fonseca fala: tomar o parentesco dos próprios pesquisadores como objeto de estudo implicava portanto em repensar os termos da ciência acadêmica (Fonseca, 2003:19). Diante disso, pergunta-se: como estudar o parentesco? Para Fonseca (2003), duas respostas diferentes são oferecidas pelos antropólogos: a primeira diz que “rejeitar o uso de determinada categoria não implica eliminar todos os fenômenos que antes caíam nessa rubrica de nossa agenda de pesquisa”, enquanto a segunda: “devemos estudar parentesco principalmente para não repetir que o senso comum invada mais uma vez o campo, impondo visões naturalizadas e moralistas da família humana”.

Outro questionamento também é suscitado: levando em consideração a separação entre os estudos de parentesco e sobre família e também a reorganização das categorias mobilizadas para tratar também da família, como toma-la como objeto de análise? Fonseca (2000), no capítulo Aliados e Rivais, oferece uma possibilidade metodológica quando trata de sua experiência na Vila do Cachorro Sentado: definir categorias analíticas residenciais através do trabalho de campo e, por meio delas investigar como se completam, quando e por que um grupo doméstico se transfere de uma categoria para outra, é enfocar o sistema familiar – como processo (Fonseca, 2000: 62). Assim, o processo se dá a partir da construção das categorias e dinamização delas. Ou seja, a partir do trabalho de campo se tem as categorias analíticas, mas os grupos domésticos são dinâmicos e as categorias, por consequência, precisam abarcar essa dinamização.

O estudo a respeito da Vila do Cachorro Sentado, como ela mesma apresenta em ‘Família e Parentesco na Antropologia Brasileira Contemporânea’ (2010), faz parte de um segundo eixo de pesquisas realizadas nos anos 80 no Brasil, as quais davam foco a grupos da periferia urbana e, mais precisamente, a relação entre norma hegemônica e dinâmicas familiares “alternativas”. Anterior a este eixo no qual Claudia Fonseca se auto-enquadra, a autora identifica um primeiro eixo nos estudos sobre a família: movimento que dava ênfase a história de longo alcance e que lançava luz a valores ligados a “família moderna”. Este primeiro eixo, ao longo do tempo, foi sofrendo críticas quanto a sua constituição como estudo, já que enfatizava apenas um setor das classes sociais e uma ideia restrita da realidade brasileira. Assim, novas abordagens passaram a se lançar as novas formas de sociabilidades as quais não eram abarcadas por esse primeiro movimento dos anos 80: as análises se voltam às periferias urbanas, como é o caso dos estudos realizados por Claudia Fonseca na Vila do Cachorro Sentado (1995, 2000). Desta forma, privilegiando diferentes contextos brasileiros, os trabalhos sobre família crescem no país. Alguns autores, como Scott, até falam da importância em se ter essa diversidade, uma vez que equivocado seria se os estudos partissem de uma noção globalizante em um espaço diverso como o Brasil.

Da década de 80 em diante novos temas ganham espaço: parentesco e relações intergeracionais, a relação entre família e políticas públicas, novas tecnologias reprodutivas, entre outras. Diante desse espectro temático vasto, Fonseca (2010), destaca duas “linhas de investigação” sobre a família:

[...] uma focada na experiência direta dos sujeitos com a esfera que eles denominam familiar, a outra visando as dinâmicas institucionais que constroem e interagem com essa esfera. (2010, p. 144).

Portanto, como se percebe, as abordagens que se fazem do tema da família é diverso justamente por abarcar relações e noções de famílias tão distintas. Dessa forma, denominar o que é família depende de como os sujeitos empreendem essas noções ou não, pois há estudos que demonstram que o entendimento de família pode envolver mais pessoas que aquelas que coabitam uma mesma casa, por exemplo.

Referências Bibliográficas

FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: a etnografia de violência e relações de gênero em grupos populares. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.

FONSECA, Claudia. De afinidades a coalizões: uma reflexão sobre a “transpolinização” entre gênero e parentesco em décadas recentes da antropologia. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 5, n. 2, p. 005-031, jan. 2003.

FONSECA, Claudia. Apresentação: de família, reprodução e parentesco: algumas considerações. Cadernos Pagu, Campinas, n. 29, p. 9-26, 2007.

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