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Adolescência e profissão

Por:   •  1/10/2018  •  2.694 Palavras (11 Páginas)  •  296 Visualizações

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A implantação de uma nova modalidade de recepção, os grupos de recepção – inspirados em uma experiência semelhante desenvolvida no Hospital Jurandyr Manfredini, que tem a especificidade de ser um dispositivo de escuta e recepção no setor de emergência - , visava aperfeiçoar e agilizar o atendimento aos novos pacientes do ambulatório, visava uma transformação geral da assistência que causaria como efeito os desdobramentos no funcionamento e na cultura do serviço como um todo. Segundo Tenório (2000), “a recepção em si já era terapêutica.”

Os pontos principais para esta reformulação da assistência receptiva são: agilizar e qualificar o atendimento.

- Agilizar o atendimento: Significava que aquele que chegasse buscando um atendimento para sua demanda de sofrimento, deveria ser atendido no mesmo dia, ou se possível a espera, que esta espera fosse mínima, nunca um prazo superior a um mês.

- Qualificar o atendimento: Significava instituir uma escuta que fosse além de uma avaliação diagnóstica apressada e da indicação apriorística da conduta.

Qualificar a escuta significava “desmedicalizar a demanda e subjetivar a queixa. Os grupos de recepção deveria cria um espaço de fala onde o paciente viesse quantas vezes fosse preciso para construir ou clarificar suas demandas.

Ao falar em desmedicalizar e subjetivar como objetivos do novo trabalho de recepção, a equipe se utilizava de indicações da psicanálise, no sentido de convidar o sujeito a se interrogar sobre seu sintoma e se implicar no tratamento psíquico [...] ser resolutivo, neste contexto, significava ser capaz de sustentar essa oferta de subjetivação, recusando as soluções rápidas muitas vezes pedidas pelos pacientes, como remédio, encaminhamento, respostas, mas sem deixar de tomar as providencias necessárias no tempo certo, isto é, tomando o cuidado de não transformar essa orientação em uma armadilha. (TENORIO, 2000).

A forma como o atendimento inicial que é feito no ambulatório da reforma não implica em colocar em suspenso a urgência de que o paciente precisa, mas permitir que ele suporte a espera de seu atendimento. Como dito anteriormente, esse novo modelo de recepção no ambulatório convida o sujeito a se interrogar sobre seu sintoma e se envolver no tratamento. Isso pode ser feito dependendo de cada caso:

- Fazendo com que ele participe de algum acolhimento em grupo;

- Com um atendimento individual ainda na recepção;

- Com uma consulta médica e o retorno ao grupo ou com o encaminhamento imediato.

Quanto ao diagnóstico, independentemente do tipo de abordagem que o psicólogo utiliza, os profissionais procuram estar atentos à distinção entre os dois grandes grupos: a neurose e a psicose. Esse tipo de diagnóstico é mais uma “diagnóstico de situação”, ou seja, nele o profissional vai levar em consideração aspectos da vida familiar e laboral, os recursos terapêuticos disponíveis para atender aquela demanda e inclusive a primeira estratégia de intervenção, como os primeiros encaminhamentos que devem ser feitos para um ou mais recursos terapêuticos da instituição. Dependendo do estado de ansiedade, do risco de suicídio ou do histórico de outras crises, o encaminhamento a recursos como medicalização, conversa com os familiares e até internação podem ser feitos. Nos grupos de recepção não é prioridade a nosografia, mas o diagnóstico da situação.

Experiência com esse tipo de ambulatório demonstrou uma redução no tempo de espera e impulsionou a adoção de mais recursos terapêuticos de acolhida (recepção) incluindo pessoas que saiam de internações e que passariam a utilizar o ambulatório. Outras mudanças ocorridas a partir de avaliações desse modelo de atendimento ambulatorial foram à avaliação dos casos a cada troca de residentes juntamente com seus orientadores e o atendimento não marcado, ou seja, o paciente era atendido no mesmo dia em que ia procurar o serviço, de forma a evitar filas de espera e escolha por uma determinada abordagem terapêutica. Esse atendimento, feito pelos grupos terapêuticos de recepção, contribuiu para otimização dos recursos do sistema público de saúde, contribuiu para que o próprio paciente avaliasse da necessidade de se manter o tratamento convocando a refletir sobre seu estado e sobre a possibilidade de corte da assistência, por avaliar-se em condições de seguir em frente sem esse recurso.

Tenório faz uma crítica muito interessante sobre o que viu acontecer em alguns casos. Pessoas que aguardavam a psicoterapia participando de algum grupo de recepção (com aulas de dança e cooper, por exemplo), se sentiam melhor e não iniciavam a psicoterapia, pois tinha encontrado o bem estar que buscavam para sua vida através dessas atividades. Deixando de lado a chamada “melhor solução”, o que chamou sua atenção é que clinicamente esse fenômeno é muito instrutivo e faz refletir sobre a psicologização da demanda e, principalmente, da escuta. É interessante que o autor observa a importância de compreender clinicamente os efeitos do tempo de decantação da demanda, de forma a lançar luz sobre a repercussão que a recepção no ambulatório tem no tempo de espera, que é fazer terapia, enquanto se espera a psicoterapia. Este portanto não deve ser um tempo parado, sem atividades, e sim de trabalho clínico ampliado.

Sobre isso o autor aponta para alguns dados muito interessantes. Salientando que a recepção no ambulatório fez as filas de espera por atendimento diminuírem e até se extinguiram em alguns casos. O Número de pessoas atendidas subiu de 900 casos por mês para 6.000. Como podem ser vistos nos dados de 1993, antes das reformulações, apresentava 10.216 consultas realizadas, enquanto que em 1997 aumentou para 46.358 consultas, isso aponta para uma otimização dos recursos e maior acesso das pessoas a um tratamento. Outro ponto considerado pelo autor foi que a clínica da recepção tem pontos próximos a “clínica da reforma”, que deslocou o processo de tratamento da doença para o doente (Goldeberg, 1994), e destacou o pensamento de Benedetto Saraceno que diz que o ato diagnóstico na atenção primária em saúde mental deve visar “os problemas por detrás dos sintomas”. Foi uma inflexão utilizada pelos grupos de recepção e a psicanálise está diretamente relacionada a ela.

O objetivo das diretrizes que orientaram as transformações eram desmedicalizar e subjetivar. Essa ideia está relacionada com a psicanálise de Freud. Para ele os sintomas nem era inexplicáveis e nem simulações, mas tinha

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