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Por:   •  13/12/2017  •  3.065 Palavras (13 Páginas)  •  480 Visualizações

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Ou seja, as únicas “locomotivas” possíveis de uma economia mundial cambaleante continuam a serem os grandes atores, sendo que o poderio econômico da China, na verdade, foi construído sobre a base de investimentos e tecnologia ocidentais e japoneses e de saldos comerciais superavitários com os mesmos parceiros. A China ultrapassou, em 2011, o Japão, pela magnitude do PIB, e representa metade do PIB conjunto dos Brics, sendo, aliás, o elemento dinâmico do crescimento desses PIB no contexto. O “papel” econômico dos Brics se existe é, assim, muito diferenciado, em função de inserções totalmente diversas na economia mundial, não existindo, portanto, a possibilidade de que eles, isolada ou conjuntamente, venham a exercer alguma influência coordenada sobre movimentos e iniciativas tomadas pelos atores relevantes (que são pela ordem: EUA, G7, UE-BCE, FMI e, só então, o G20 financeiro). A evolução econômica do mundo se dará independentemente de qualquer ação dos Brics, sendo o resultado não coordenado, sequer coerente, das decisões tomadas pelos agentes primordiais da globalização as empresas transnacionais e pelos governos nacionais, eventualmente em consultas recíprocas nesses foros de discussão, o que não garante, porém, a convergência de suas ações e iniciativas. O que mais frequentemente ocorre é, justamente, a descoordenação de políticas, por mais reuniões retóricas que as autoridades econômicas e políticas desses atores empreendam a intervalos regulares. Existe a possibilidade dos Brics sustentarem a recuperação financeira europeia? Talvez, mas não certamente enquanto Brics; eventualmente enquanto economias nacionais, tomadas individualmente e atuando cada qual com base em seu interesse e possibilidades próprias. Uma alegada ajuda financeira dos Brics aos países europeus sob-risco de insolvência, isolada ou conjuntamente, não pode, na verdade, ser feita apenas sob a forma de fluxos financeiros adicionais aos insolventes potenciais.

Não se trata apenas da magnitude dos valores envolvidos o que teoricamente habilitaria apenas a China a ser um “emprestador de segunda instância” mas basicamente de questões de governança e de conformação a padrões aceitáveis de responsabilidade financeira, num contexto de mercados integrados e de riscos aparentes, ou pelo menos um pouco mais transparentes do que no passado (e não só em virtude do trabalho de avaliação conduzido pelas agências de classificação de riscos). Existe uma grande ilusão, provavelmente construída por analistas acadêmicos, mas também estimulada pelos governos interessados de que os Brics poderão se converter em novos polos da economia mundial e, nessa condição, influenciarem decisivamente o processo decisório em determinadas instituições ou a prática econômica do decisório microeconômico, ou seja, os responsáveis de transnacionais que decidem sobre alocação de investimentos diretos e divisão de mercados (e que também influenciam as políticas comerciais e industriais, talvez até fiscais, das economias nacionais). Essa proposta, como, aliás, revelado já no primeiro substantivo deste parágrafo, não se sustenta, tanto no plano estritamente material, ou de capacidades “brutas” das economias, como no plano institucional, ou seja, no da organização política da ordem econômica mundial. A própria noção de “polo econômico” remete a uma concepção do mundo baseada na sucessão de hegemonias, na derrocada dos “impérios” e na ascensão de novos desafiantes da ordem em declínio. Sobre estes últimos, alguns chegam inclusive a falar de “superpotências pobres”, como se a ordem econômica precisasse necessariamente ser organizada em função de hierarquias excludentes e de substituição de superpotências, o que reflete não apenas a conhecida “teoria conspiratória da história”, mas também uma visão conservadora de como se organiza o mundo real. Mas, ainda que se aceitasse a noção de “polo dominante” que na verdade refere-se a um ordenamento econômico interpretado como constituído necessariamente de um “centro” e de uma “periferia”, o fato é que o Brics não preenche os requisitos formais do modelo e não se constitui, absolutamente, em novo polo da economia mundial, se tanto um agrupamento heteróclito de potências provisoriamente identificadas por um vago “exclusividade” mental.

Seguindo uma noção mesmo rudimentar de como se organiza o mundo real, é evidente que toda ordem econômica historicamente conhecida, seja ela naturalmente existente ou socialmente construída na verdade, qualquer sistema conhecido de organização humana, ou melhor, social, compõe-se de um centro e de uma, ou várias periferias, sendo que esses elementos mantém uma relação dinâmica entre si. Fluxos de comércio e de investimentos nos últimos anos, bem como o impacto da demanda chinesa sobre os preços das principais commodities exportados por países latino-americanos inclusive por um dos Brics, o Brasil, teria de chegar à conclusão, por exemplo, de que a região pode já ter se convertido em “periferia” econômica da China, tal a dependência comercial e financeira criada nos últimos anos por essas relações de oferta e demanda absolutamente “assimétrica” (como gostam de acusar os críticos da velha dominação “imperial”). Em qualquer hipótese, aderindo ou não a essas concepções acadêmicas sobre a organização do mundo material e seus reflexos no plano institucional, parece claro que os Brics, individualmente tomados, participarão, ou não, de qualquer esforço de soerguimento de países desequilibrados do “centro” europeu em função de suas próprias possibilidades e conveniências, sendo a China o natural “dispensador” de novas “bondades financeiras”, em virtude de sua dotação própria de fatores econômicos e de recursos políticos, que a converteram, sem dúvida alguma, em ator relevante na presente (e na futura) ordem econômica internacional. É evidente, porém, que a China única dentre os Brics a fazer uma diferença real na atual movimentação de placas tectônicas da geoeconomia mundial não tem condições, nem de longe, de assumir o papel que outrora foi do Reino Unido e que atualmente é desempenhado pelos EUA, enquanto provedor, real, de segurança política, de abertura econômica ainda que relativa, atualmente e, sobretudo, de outros instrumentos mais elementares de poder, como podem ser porta-aviões e veículos aéreos não tripulados. Impérios econômicos não são feitos apenas de criação ou extração de recursos e muitos dos que escrevem sobre ascensão e queda das grandes potências estão talvez mentalmente vinculados ao modelo dos velhos impérios tributários que organizavam a exploração de seus satélites em seu benefício exclusivo.

Ainda

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