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A Função do monumento e como ele pode se constituir

Por:   •  1/11/2018  •  2.033 Palavras (9 Páginas)  •  317 Visualizações

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Grandioso, com três níveis, o monumento em estilo neo-clássico “desenvolve uma narrativa heróica da história italiana “(Atkinson e Cosgrove, 1998, pp. 33). Além da estátua equestre do rei estão representados, em forma de alegorias, o passado imperial, a unificação italiana, o caráter secular do Estado italiano, em oposição à presença próxima do Vaticano, os soldados italianos mortos em diversas guerras, e as cidades e regiões italianas. Considerado simbolicamente como o “altar da nação”, o monumento constitui-se em exemplo de retórica, isto é, “técnicas de argumentação visando convencer e persuadir no espaço público urbano [...] fortemente aliadas à arte da memória (Atkinson e Cosgrove, 1998, pp. 31).

A localização do monumento a Vittorio Emanuele II está impregnada de significados simbólicos. Localizado à Piazza Venezia, está no centro simbólico de Roma, “na junção entre a zona arqueológica do Fórum Romano, a cidade medieval e barroca dos Papas” e a cidade do século XIX (Atkinson e Cosgrove, 1998, pp. 28). Mais significativa é a localização junto à encosta norte da colina do Capitólio, onde a cidade foi fundada, onde estão as ruínas do Fórum Romano, sede do Império e onde no século XIV uma efêmera República Romana resistiu à expansão do Vaticano. A colina do Capitólio tem o sentido de “sítio sagrado”, local de celebração do culto à comunidade”, um conjunto de valores que, admitidamente, impregna toda a nação italiana. A localização junto à colina do Capitólio tem o sentido de continuidade espaço-temporal da tradição romana imperial, a qual está presente na moderna Itália unificada.

A visibilidade foi ampliada por meio de inúmeras obras de demolição de prédios e alargamento de ruas e praças, incluindo a Piazza Venezia. A centralidade expressa-se também pela localização do monumento, na interseção dos eixos norte-sul e leste-oeste da cidade. Simbolismo, visibilidade e acessibilidade compõem, juntos os fins e os meios que giram em torno do monumento.

O monumento a Vittorio Emanuele II, juntamente com a Piazza Venezia, foi, durante o fascismo, o ponto focal da espacialidade desse regime. Ambos foram articulados por via terrestre e por radiofonia – os discursos de Mussolini eram proferidos na Piazza Venezia, em frente ao monumento – a toda a cidade e ao território italiano. Tentava-se, assim, reviver a Roma Imperial.

Atualmente constitui-se em monumento cujo prestígio é limitado, sendo mesmo objeto de desprezo. A retórica que o colocou como ponto focal da unidade italiana e do fascismo desapareceu. O monumento acumulou distintos “significados, identidades, histórias e memórias”, compondo uma rica, densa e polissêmica paisagem urbana (Atkinson e Cosgrove, 1998, pp. 46).

Diferenças entre interesses políticos podem levar a disputas pela implantação de monumentos associados a esses interesses. Foi o caso da Irlanda no final do século XIX, quando os debates pela independência se acirravam, opondo, ‘unionistas’, que queriam manter os laços com a Inglaterra, e os nacionalistas, que queriam a independência do país. Neste contexto os dois grupos comemoram os atos de seus heróis e as respectivas tradições nacionais por meio de textos e do ambiente construído, incluindo-se aí os monumentos, mais acessíveis e de comunicação mais direta à maioria da população (Johnson, 1994).

Os monumentos construídos pelos ‘unionistas’ referiam-se a personagens como Nelson, Wellington e sobretudo a rainha Victoria. Apresentavam alegorias relativas à nação e à guerra por meio de figuras femininas; a Irlanda era representada por uma mulher pobre. Os monumentos dos vitoriosos ‘unionistas’ copiavam as formas dos monumentos romanos relativos às vitórias, colunas e obeliscos. Os monumentos dos nacionalistas, por sua vez, localizavam-se nas proximidades dos locais de nascimento dos heróis ou de seus túmulos. As alegorias referiam-se a traços da cultura celta, como a cruz celta, gaélica, representando a masculinidade, e as lutas pela independência, como, por exemplo, um camponês musculoso e armado com lança, protegendo um padre (a Igreja Católica) e a terra, a Irlanda. Esta era também representada por uma figura feminina, Erin, o nome simbólico da Irlanda, protegida por um camponês. Muitos monumentos homenageiam todos aqueles que, desde o século XVII lutaram e morreram pela Irlanda (Johnson, 1994).

Acrópole é o nome simplificado, difundido no mundo ocidental, da Rocha Sagrada da Acrópole Ateniense. Trata-se do conjunto, natural e socialmente construído, localizado no centro da capital grega, que se constitui no principal símbolo nacional e referência cultural para todo o Ocidente. Monumentos como o Parthenon, o Eretéion, o templo de Atenas e o Propileu, construídos no século V a.C., aí se situam. No sopé da Acrópole localizam-se as ruínas da Ágora. Compõem eles a paisagem e fazem parte da história e da geografia da Grécia. Natureza e cultura estão aí harmonicamente interpenetradas.

Este conjunto é objeto de interpretações distintas, que se traduzem tanto pelo nome pelo qual o local é referenciado, como no tratamento paisagístico do conjunto. Neste sentido, duas denominações e dois tratamentos da paisagem refletem a dupla interpretação dada ao local. De um lado estão os esforços ocidentais visando a sua apropriação econômica, política e artística, desenraizando o conjunto de suas raízes profundas na Grécia Clássica (Loukaki, 1997). Nesta perspectiva está a American School of Classic Studies (ASCS), criada em 1881 e mantida com fundos de diversas universidades e fundações. Para a ASCS a Acrópole, o nome simplificado da Rocha Sagrada, representa o modelo republicano e a democracia, em oposição à monarquia e absolutismo da Europa dos séculos XVIII e XIX. Suas formas arquitetônicas “denotavam elevada cultura e forneciam a prova de que eles”, os americanos, ao adotarem essas formas em muitos de seus prédios públicos, estariam simbolicamente “domando e domesticando o mundo selvagem” que conquistaram (Loukaki, 1997, pp. 314).

Em contrapartida, do outro lado, está a resistência de gregos, que em certos momentos incluía parte da população das áreas em torno da Rocha Sagrada, população submetida à desapropriação de suas casas para fins de escavação, “cujas lutas para construir um estado e forjar um sentido de identidade nacional, tem estado fortemente associada à interpretação de seu patrimônio arquitetônico e arqueológico” (Loukaki, 1997, pp. 306). A paisagem recriada por eles distingue-se daquela da ASCS, estando mais condizente com a longa e complexa cultura grega.

O quarto exemplo refere-se

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