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PIETRO UBALDI PRINCÍPIOS DE UMA NOVA ÉTICA

Por:   •  5/4/2018  •  11.592 Palavras (47 Páginas)  •  310 Visualizações

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A idéia que o homem possui de Deus, herdada do passado, é sobretudo a do Todo-Poderoso, que por isso pode fazer o que quer, arbitrariamente violando à vontade as leis que Ele próprio estabeleceu para o funcionamento da fenomenologia universal.

Assim o homem tinha construído com a sua forma mental um Deus com as suas qualidades bem humanas, de dominador rebelde, cujo poder se realiza e se manifesta impondo sua vontade a todos, cioso dos rivais e egoísticamente preocupado só em dominar e ser obedecido pelos seus súditos.

Instintivamente o homem criou para si uma idéia de Deus feita à sua imagem e semelhança, idéia esta baseada na posição do homem, invertida pela queda no Anti-Sistema.

Para o homem dessa visão, esse Deus faz milagres que se opõem arbitrariamente à sua própria ordem, o que leva ao absurdo de uma contradição, possível na criatura que se revolta contra Deus, mas inadmissível em Deus, que neste caso se revoltaria contra Si próprio. Esse Deus favorece quem quer, com a Sua graça, infringindo o Seu princípio de justiça. Esse Deus pode fazer qualquer coisa, na mais desordenada e injustificável arbitrariedade, porque para Deus, nada é impossível – justificam - e a criatura tem de obedecer cegamente sem ter o direito de saber, não porque entendeu e aceita convencida, mas porque constrangida pelo cálculo egoísta pelo terror do inferno. Entender não é possível, é até proibido, porque é ousadia querer desvendar os mistérios. Não resta, senão fé cega, terror ignorância.

De tudo isto não se pode culpar ninguém, porque não foi feito com propósito de maldade, mas por ser esse o nível evolutivo, seja dos chefes, seja do seu rebanho, o homem não sabe conceber e funcionar com outra forma mental.

É o conceito de um Deus bem terreno, tal qual um patrão que manda e pune quem não lhe obedece, só pelo direito que lhe vem da sua força de Todo-Poderoso. Enquanto isso, a lógica posição do fiel é, por equilíbrio e defesa da vida, a do criado que procura evadir-se, seja amansando a ira do patrão, que ele provocou com a sua desobediência (para isso fazendo preces, arrependimentos, promessas, mesmo que mentirosas para arrancar o perdão, ofertas, honras, etc.), seja procurando subtrair-se à dura lei do patrão com enganos e todas as escapatórias possíveis.

Explica-se desse modo a estrutura das atuais religiões, feitas sobretudo de práticas exteriores, fáceis de realizar com pouco sacrifício, sem incomodar no que mais interessa, que é a liberdade na sua própria conduta, deixando a cada um a possibilidade de satisfazer os seus instintos e fazer os seus negócios. É reconhecido e respeitado o direito de pecar, isto é, de violar a Lei, sem que produzam graves consequências em cima de quem os praticou.

Há de se entender que essa é a posição do homem dirigido pelo seu subconsciente animal, um menor que não sabe o que faz, incapaz de receber de Deus a sua liberdade, já que não sabe assumir as suas responsabilidades. Entretanto, a lei do progresso trabalha continuamente para tirar o homem dessa sua triste posição, impulsionando-o a evoluir. A lei da evolução, que incansavelmente o está impulsionando de baixo para cima nesse sentido, não pode tolerar que tal jogo de involuído dure sempre, que o homem continue agindo como primitivo que só sabe agir em obediência cega aos seus instintos de inconsciente.

Através de incessantes e duras experiências neste baixo nível de vida, o homem acabará forçosamente por atingir o amadurecimento necessário para compreender a estupidez de tal método.

É exatamente essa mudança que hoje se começa a realizar. A mente humana está saindo das nuvens da menoridade, faz perguntas e pede respostas, não mais aceita só por fé cega verdades baseadas no mistério, começa a raciocinar e a olhar as coisas com espírito crítico, antes de obedecer, exige ver claro com a lógica e a razão, quer ver o que está atrás das verdades proclamadas e da autoridade que nelas pretende basear-se, não mais ficando satisfeita com palavras tradicionais e afirmações teóricas.

Há, pois, duas maneiras de conceber Deus, das quais derivam dois métodos de pensar e de viver, duas éticas diferentes, filhas de dois tipos de religião: a do homem atual, ainda involuído - conforme à sua forma mental de primitivo; e a do evoluído super-homem do futuro - de conformidade com outra forma mental completamente diversa.

No primeiro caso o homem concebe Deus antropomorficamente à sua imagem e semelhança, e assim, baixando-O até ao seu nível humano, sujeitando-O à sua lei de luta, tratando-o com o seu método de astúcia e psicologia de engano com que costuma enfrentar os seus semelhantes.

No segundo caso, o homem concebe Deus com outra forma mental, como um ser que está acima das leis do plano humano e das suas maneiras de pensar e agir. Trata-O, por conseguinte, com absoluta sinceridade e confiança, com um método completamente diferente, o da honestidade, merecimento e justiça. Não falamos aqui das aparências costumeiras, que o mundo quereria fossem tomadas por verdades, nem tão pouco do que de exterior se apresenta nas doutrinas das religiões. Falamos do que na realidade o homem é, pensa e faz, e isso é a única coisa que interessa e vale.

O que de fato existe no mundo são dois tipos de religiões: a vigente, filha do passado, e outra, que antecipa o futuro. Ambas correspondem a dois níveis de evolução e são consequência da forma mental e das leis que regem a vida do involuído e do evoluído. Isso é possível devido ao fato do homem ser uma criatura em evolução, quer dizer, em estado de transformismo, de modo que ao lado do velho, que está morrendo, aparece e existe o novo que está nascendo. É assim que temos duas verdades diferentes, aparentemente contraditórias, mas que não passam de posições mais ou menos adiantadas ao longo do mesmo caminho da evolução. São momentos sucessivos da mesma lei que está sendo cumprida por seres pertencentes a dois níveis biológicos sucessivos, um acima do outro.

De cada uma dessas verdades deriva uma ética específica que coexistem lado a lado: a inferior, praticada pela maioria involuída e a outra, seguida por uma minoria de evoluídos, e que é exceção à regra comum.

Isto é uma mera constatação de fatos, feita sem a intenção de condenar ou reformar. Com efeito, um homem ou um grupo nada podem fazer, e sim só as poderosas e sábias forças da vida e os grandes acontecimentos históricos, porque se trata de profundos amadurecimentos biológicos. E os honestos deste mundo são poucos demais para formar um grupo poderoso, além de não possuírem as qualidades

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