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A criança retardada e a mãe

Por:   •  26/4/2018  •  7.505 Palavras (31 Páginas)  •  400 Visualizações

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Neste livro (o mesmo apresentado neste trabalho), ela fala da clínica psicanalítica inglesa, da qual é especialista, e, sobretudo inaugura um novo estilo de intervenção freudiana, em que se mesclam a revolta e o rigor teóricos.

Marcos:

- Em 1967, ela organizou em Paris um colóquio sobre psicoses, reunindo todos os grandes nomes ligados à história do freudismo lacaniano.

- Em 1969, criou a escola experimental de Bonneuil-sur-Marne, um local de refúgio para crianças e adolescentes em depressão.

Sobre sua formação como psicanalista de crianças, Priszkulnik (1995) afirma que se deve a Françoise Dolto e que a elaboração teórica de sua experiência, se deve ao ensino de Lacan. Para Mannoni, o campo em que o analista opera:

...é o da linguagem (mesmo se a criança ainda não fala). O discurso que se processa engloba os pais, a criança, o analista: é um discurso coletivo que se constitui em torno do sintoma apresentado pela criança. (Mannoni, 1971, p.9 apud Priszkulnik, 1995, p.98).

Esse aspecto pode ser percebido em sua obra, uma vez que ela define no início do livro que “O sujeito é antes de mais nada, um ser de diálogo e não um organismo”, enxergando dessa forma, o inconsciente como sendo estruturado como um discurso (de onde provém todo o simbolismo ligado ao nascimento, à parentalidade, ao corpo próprio, à vida e à morte.

Ainda sobre a importância de entender o discursivo coletivo que cerca a criança e o sintoma apresentado por ela, Françoise Dolto e Maud Mannoni incluem a posição parental no tratamento da criança, ou seja, elas enxergam como imprescindível a escuta dos pais na medida em que eles estão implicados nos sintomas do filho, embora isso não signifique que irá fazer o tratamento psicanalítico deles, mas sim ajudá-los a se situarem em relação à sua própria história.

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A CRIANÇA RETARDADA E A MÃE

Mannoni introduz o livro afirmando que este é uma extensão da orientação freudiana a um terceiro campo que anteriormente era negligenciado – o campo dos retardamentos mentais. A autora afirma ser necessário examinar sem preconceitos o domínio das crianças anormais – que chegaram acidentalmente no seio de uma família que nada tem a ver com sua anormalidade, ou tenha, sido empurradas para o caminho da anomalia pelo destino familiar. Ela aborda também a variedade das reações fantasmáticas da maternidade. Esta obra foi resultado de longos anos de clínica e contou com o apoio de Françoise Dalto, Ernest de Craene, dentre outros.

Na nota do livro, a autora faz uma distinção entre Psicoterapia (apreensão psicanalítica do caso – com a possibilidade de uma neurose de transferência) e Psicanálise (ajuda efetiva que todo psiquiatra ou pediatra pode ser levado a dar – psicoterapia de apoio ou sugestão). Após fazer isso, ela levanta um questionamento acerca de quanto tempo deve durar uma psicoterapia e responde que o psicanalista não deve ter uma ideia preconcebida sobre a duração da psicoterapia, pois “Há um tempo médio de tratamento que parece indispensável, qualquer que seja o número de sessões por semana. Porém, se a duração for muito encurtada no tempo, corremos o risco de deixar o sujeito, posteriormente, em luta com outra forma de neurose.”.

O primeiro capítulo do livro, intitulado de “A lesão orgânica” é dividido em duas sessões: A e B, sendo a primeira denominada como Descrição Fenomenológica.

Neste capítulo, a autora realiza a descrição de casos de crianças retardadas ou mongoloides que tiveram um diagnóstico sem apelo e realizados muito cedo por médicos. São relatados casos em que os pais se veem obrigados a consultar um psicanalista e pais que questionam o diagnóstico; e o bebê, por sua vez, aparece como um cliente habitual dos consultórios médicos.

Mannoni afirma que mãe da criança “doente” trabalha uma batalha contra inércia e indiferença social e que a relação mãe-filho é carregada de um ressaibo de morte negada, visto que mãe e filho acabam por tornar-se um só. Por conta disso, essa mãe trava uma luta contra o corpo médico e a presença de um marido impotente (ou por ele realmente não saber lidar com a situação ou por ela “não deixar”).

Ao abordar essa luta trava contra os médicos, a autora levanta um questionamento: “O que essa mãe busca? A cura? Um diagnóstico? A verdade, então? Que sabe ela exatamente? A mãe quer, sobretudo nada saber desse médico a quem vem pedir – o quê?” e responde que ela busca:

“Nada. No que diz respeito ao filho. Um pouco no que diz respeito a ela. A mãe deseja obscuramente que sua pergunta nunca receba resposta, para continuar a fazê-la, mas precisa de força para continuar, é isso que ela vem pedir.” (Mannoni, p.2).

Ela também dá exemplos de alguns casos onde a mãe trava essa “batalha” e resiste à intromissão de terceiros em sua relação com seu filho. Ao falar da Senhora B, Mannoni traz uma criança que é diagnosticada como mongoloide desde o nascimento (diagnóstico confirmado aos três meses de vida dessa criança), mas que mesmo com isso sua mãe se nega a escutar as palavras do obstetra, apresentando uma negação, onde ela pergunta “De que adianta o que eles estão me pedindo? Um ser anormal a gente mata, não se pode deixa-lo viver. Não é o grito de uma mãe”, “mas uma revolta metafísica”. Como relatado pela autora, essa mãe nega o diagnóstico “ao preço de uma agorafobia que apareceu no dia em que ela colocou claramente o problema do homicídio do filho e do suicídio”.

Há também casos onde há negação da psicoterapia, porque a mãe dificilmente permite a intromissão de um terceiro. Mannoni afirma que para que a situação seja diferente, é preciso que a criança escape, de certo modo, à lei do pai, uma vez que apenas a mãe determinará seu lugar. Que por sua vez, decide que “a ronda dos médicos continuará: mas, desta vez, tratar-se-á simplesmente de encontrar uma causa orgânica ‘tratável’”.

Ela dá como exemplo dessa situação o caso de Liliane, 14 anos; Q.I 0,49, anoréxica desde o nascimento, mas que tem a psicoterapia não autorizada por sua mãe, que prefere deixar a filha fechada num quarto, enquanto trabalha na fábrica, a confiá-la a uma estranha. Porém essa mãe não renuncia a outros exames, procurando numa organicidade endócrina o fator responsável pelo estado da filha.

A segunda parte do capítulo 1 se trata de uma Abordagem Analítica do

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