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O que é religião

Por:   •  12/2/2018  •  3.242 Palavras (13 Páginas)  •  318 Visualizações

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Mas aos poucos e constantemente os homens começaram a fazer coisas não previstas no “receituário religioso”. Estes homens segundo o autor não estavam no topo da hierarquia sagrada nem os condenados aos subterrâneos, são os da nova classe, os que descobrem através do trabalho, o lucro, a riqueza da atitude passiva, receptiva, agora inauguram uma nova atitude de manipular, agressiva, ativa. Se apropriam da natureza, dos campos, levando-os as fábricas e destas aos mercados. São os burgueses, que a cada dia dão menos importância ao universo religioso e cada vez mais ao lucro. Onde só existe lugar para o que é matéria, deixando de lado os símbolos do sagrado. Tudo passa pela lógica, pela razão, o mundo deixa de ser o encantado mundo religioso, dos mistérios para o da prática humana, do trabalho que leva ao lucro e este a riqueza, a natureza perde sua aura sagrada e passa a ser fonde de matéria prima, fonte de lucro.

Aqui, Alves aborda a origem do conflito e da pergunta:”o que é religião?” aparecem os conflitos da igreja e do poder econômico. A argumentação é a mesma. Que a religião cuide das realidades espirituais, que das coisas materiais a espada e o dinheiro se encarregam.

A religião representa o passado, a tradição que está sendo derrotada. O mundo burguês conquista uma aliada, é a ciência, antes restrida a religião, agora vê no mundo burguês uma maneira lógica de adaptação: conhecer é saber o funcionamento, que tem o segredo da manipulação e controle, abrindo o caminho para técnica, fazendo a ligação entre a universidade e a fábrica, a fábrica e o lucro. O sucesso da ciência foi total. A religião passa a ser vista como objeto do passado, seus discursos são classificados como engodos, imaginações. Rubem aponta que foi assim que a religião foi tornando-se como passado, atraso, período negro da história, idade das trevas. Rubem cita Rickert “com o triunfo da burguesia Deus passou a ter problemas habitacionais crônicos. Despejado de um lugar, despejado de outro...” foi sendo empurrado para fora do mundo.

A religião não é mais o tema central, agora passa a cuidar da alma dos aflitos.

Mas, o curioso é que ela não é liquidada por completo, ainda existe lugares para ela por que os negociantes e banqueiros também tem almas e buscam na religião o favor divino, os operários e camponeses também possuem almas e necessitam ouvir as canções dos céus a fim de suportar as tristezas da terra. Assim sobrevivem o sagrado também como religião dos oprimidos.

A Coisa Que Nunca Mente

O autor aborda como coisas e objetos que não significam nada, são o que são, não trazem significativo algum, como a água, o fogo, uma flor, podem ser transformadas em símbolos, basta acrescentarmos pequenos gestos e artifícios. Isso, segundo Alves, acontece até com palavras coisas/símbolos por excelência, se transformam em coisas. Ele faz citações para exemplificar tais fatos, na arte onde um quadro ou uma escultura podem ter símbolos que signifiquem um cenário. Rubem também aborda como a ciência passada via no universo um conjunto de coisas que significavam outras, até que Galileu deixa esta visão que o universo tinha um significatido, para apenas concentrar-se em saber o que ele era e como funcionava.

Que planetas e estrelas são coisas e que nada significam. Isso também acontece com a religião, segundo alves, ela é um fato, que não deve recair sobre ela julgamentos de verdades e de falsidades. Ele cita Durkheim: “não existe religião alguma que seja falsa. Se ela nao estivesse alicerçada na própia natureza das coisas, teria encontrado, nos fatos, uma resistência sobre a quem não poderia ser triunfado”.

Que são religiões? Ele comenta a espantosa e imensa variedades de ritos e mitos, mas que todas tem um traço comum. Isso se dá como num jogo de xadrez. Onde todas as complexidades e possibilidades de lances onde duas ocorrem em cima do tabuleiro quadriculado e dividido em espaços brancos e pretos. Que isso também ocorre com as religiões, onde sempre estabelecem uma divisão bipartida do universo, do que é sagrado e do que é secular ou profano. No mundo profano, as atitudes são utilitárias, nada é permanente, onde o que não é últil é abandonado. Já no mundo sagrado tudo se transforma, não é o homem “o centro do mundo”. Agora ao contrário, são as coisas que o possuem, ele passa a ser inferior, e agora o sagrado é superior, cria-se uma dependência. O sagrado é o criador, a origem da vida, a fonte de tudo, e o homem é a criatura, ser forças e carente de vida. O utilitário do mundo secular é transgredido no sagrado, coisas e gestos tornam-se densos, a religião as colocava no âmbito do sagrado, se tornam obrigatórias. Rubem faz uma análise do mundo da época de Durkheim, que este ao investigar a religião, estava investigando as própias condições para sobrevivência da vida social. Assim como a sociedade acolhe o indivíduo e lhe protege ao nascer, dando-lhe nome, alimentando-o, e que isto empiricamente faz da sociedade um “deus”, adorada ocultamente por todas religiões. Durkheim, tinha uma certeza de que a religião era o centro da sociedade, por isso ela podia se transformar, mas nunca poderia desaparecer.

As Flores Sobre as Correntes

Para Rubem, Durkheim busca a religião em um mundo que começa a se escurecer. Agora ele passa a analizar o mundo em plena noite de Marx, sem valores espirituais, mundo secularizado que só conhece a ética do lucro e o entusiasmo do capital e da posse. Mesmo que parte do lucro financie o sistema religioso, este mundo secularizado ignora os elementos espirituais. Para Alves, Marx travou uma batalha com os filósofos da época, que entendiam que todas as desgraças sociais só tinham uma culpada, a religião. Para Marx, a religião não tinha culpa alguma, já que ela não passava de uma sombra. Os filósofos viam as coisas de cabeça pra baixo, que essas batalhas que eles travavam no campo das idéias, não os levariam a nada. As ideias não são as causas da vida social, elas nada mais são que efeitos, que aparecem depois que as coisas aconteciam. Assim como é inútil tentar apagar o fogo assoprando a fumaça, também é inútil tentar mudar as condições de vida pela crítica da religião, pois esta é produto do homem. Alves vê em Marx a descoberta da alienação, do princípio ao fim. Alves passa a definir o conceito de alienação, de transferência, busca como por exemplo o trabalho, que busca o desejo, que este parte do imaginário. O desejo é alienado a outras pessoas, cada qual com uma tarefa, tudo e todos interligados, todos estão alienados.

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