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A Ramificações da Linguística

Por:   •  18/10/2018  •  8.460 Palavras (34 Páginas)  •  435 Visualizações

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2.2 A linguística é uma ciência?

A linguística é normalmente definida como ciência da linguagem, ou alternativamente, como estudo científico da linguagem cujo precursor foi Ferdinand de Saussure. Para que possamos compreender o porquê de ela ser caracterizada como uma ciência, tomemos como exemplo o caso da gramática normativa, uma vez que ela não descreve a língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses.

Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos as palavras de André Martinet, acerca do conceito de Linguística:

“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo: como o objeto desta ciência constitui uma atividade humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se”.

MARTINET, André. Elementos de linguística geral. 8 ed. Lisboa: Martins Fontes, 1978.

Porém, a um polêmica referente a Linguística ser ou não ciência devido as foto da palavra Sciense em inglês ter uma abrangência muito menor do que muitas de suas traduções no mundo. A linguística, mais do que a maioria das outras disciplinas, sofre das implicações muito específicas das palavras inglesas 'science' e 'scientific' que se referem, antes de mais nada, às ciên- .cias naturais e aos métodos de investigação que lhes são característicos. Isto ainda é verdade, apesar de que expressões como 'ciências sociais', 'ciências do comportamento' e 'ciências humanas' se façam cada vez mais comuns.

Argumentos que torna a Linguística uma ciência: O primeiro e mais importante deles é que a linguística é empírica, ao invés de especulativa e intuitiva: opera com dados publicamente verificáveis por meio de observações e experiências. Ser empírica, neste sentido, é para a maioria a própria marca registrada da ciência. Estreitamente relacionada à propriedade de ser empiricamente embasada está a da objetividade. A língua é algo que normalmente não nos preocupa: algo familiar desde a infância, de maneira prática e irrefletida. Tal familiaridade prática com a língua tende a representar uma barreira para um exame objetivo. Há diversos tipos de preconceitos sociais, culturais e nacionalistas associados à visão, leiga da linguagem e das línguas. Por exemplo, um sotaque ou dialeto de' determinada língua pode ser considerado inerentemente mais puro que outro; ou, uma vez mais, certa língua pode ser tida por mais primitiva que outra. A objetividade exige, no mínimo, que se lance um desafio contra tais concepções e que termos como 'puro' e 'primitivo' sejam claramente definidos ou abandonados.

Muitas das concepções sobre a língua que o linguista coloca em questão, se é que não as abandona totalmente, podem parecer um princípio de mero bom senso. Porém, como observou Bloomfield (1935: 3), a respeito do bom senso na abordagem de questões linguísticas: 'como muito do que se disfarça em bom senso, é na realidade altamente sofisticada e provém, sem grande distanciamento, das especulações dos filósofos da Antiguidade e da Idade Média". Nem todos os linguistas têm uma opinião tão desfavorável sobre estas especulações filosóficas da linguagem quanto Bloomfield. Mas seu parecer geral é válido. Os termos usados pelos leigos para falar sobre a língua, bem como suas atitudes em relação a ela, têm a sua história. Muitas vezes pareceriam menos obviamente aplicáveis ou evidentes se soubessem algo sobre suas origens históricas.

As introduções à linguística costumam traçar uma distinção nítida entre gramática tradicional e linguística moderna, contestando o status científico desta com o status não científico daquela. Ha boas razões para haver esta diferenciação e para ressaltar que muitas das concepções erradas sobre a língua, populares em nossa sociedade, podem-se explicar, historicamente, em termos das premissas filosóficas e culturais que determinaram o desenvolvimento da gramática tradicional.

Deve-se frisar, entretanto, que a linguística, como qualquer outra disciplina, constrói sobre o passado, não só desafiando e refutando doutrinas tradicionais, mas também desenvolvendo-as e reformulando-as. Muitos trabalhos recentes, descrevendo os - grandes avanços na investigação científica da linguagem feitos nos últimos cem anos, mais ou menos, deixaram de enfatizar a continuidade da teoria linguística ocidental até os dias, muitas vezes foram também anacrônicos, por não tratar a gramática tradicional em termos dos objetivos que ela estabeleceu para si mesma. Não se deve esquecer que os termos 'ciência' e 'científico' (ou seus precursores) foram concebidos de forma diferente em diferentes épocas.

Também deveria ser salientado que o que geralmente se conhece por 'gramática tradicional' - ou seja, a teoria linguística ocidental voltando pela Renascença e pela Idade Média até a erudição romana e, antes dela, a grega - é muito mais rica e variada do que normalmente se supõe. Além do mais, inúmeras vezes o que se ensinou foi uma versão equívoca e distorcida da gramática tradicional, para muitas gerações de alunos relutantes e desinteressados. Ultimamente os linguistas vêm adotando uma perspectiva mais equilibrada quanto à contribuição que a gramática tradicional - continuaremos com este termo - vem prestando ao desenvolvimento de sua disciplina. Há ainda muito a se pesquisar sobre as fontes originais que sobreviveram dos períodos mais antigos. Porém há hoje várias histórias da linguística dando conta mais satisfatoriamente dos fundamentos e desenvolvimento da gramática tradicional, mais do que havia à disposição da geração de Bloomfield e de seus sucessores imediatos.

Voltando para o estado atual da linguística, sem dúvida alguma ela é hoje mais empírica e objetiva, em suas atitudes e premissas expressas, pelo menos, do que a gramática tradicional. Examinaremos algumas de tais atitudes

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