Deotologia e Teleologia
Por: eduardamaia17 • 29/4/2018 • 1.442 Palavras (6 Páginas) • 319 Visualizações
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- Faça uma contextualização do filme “O Senhor das Moscas” com as condutas teleológica e deontológica, onde couber.
O “Senhor das Moscas” é um filme que retrata em sua essência uma expressiva discussão sobre a natureza humana e o papel da civilização na construção do ser. A história, que se passa num mundo que acabara de sair da Segunda Guerra Mundial, demonstra o desencantamento com a humanidade e trata da descoberta do mal que existe no interior do homem e que surge como algo natural, independentemente da idade ou do meio onde o ser vive.
O estado de natureza, citado por vários pensadores na história da filosofia, pode ser vislumbrado no cenário proposto pelo filme. Esse vislumbre se dá ao perceber que, apesar de terem recebido educação inglesa de alto nível, as crianças, quando passam a viver num ambiente onde não há regras e normas da civilização, nem adultos para estabelecerem essas normas, regridem à pura selvageria, criam ritos e sacrifícios, desrespeitam as leis impostas por eles mesmos e chegam a matar uns aos outros. Tais circunstâncias trazem à tona a ideia de que “o homem é o lobo do homem”, estabelecida por Thomas Hobbes na obra “O Leviatã”.
No começo da história, entretanto, tudo corre bem. Ao se verem numa ilha tropical sem a presença de adultos, sentem-se no paraíso. Visto a necessidade de lutar pela sobrevivência, nomeiam um líder único (Ralph), determinam o poder de fala (por meio da posse da concha), dividem tarefas e estabelecem objetivos, condutas estas consideradas de cunho deontológico, pois o grupo tenta se organizar com basal nas regras básicas da civilização que conheciam.
Nem todos do grupo, porém, possuíam a mesma motivação: Jack, que aqui representa o pivô das condutas teleológicas, propõe que o grupo se dedique apenas à caça e às brincadeiras, apresentando aos seus companheiros soluções fáceis e de satisfação imediata. Então, por meio do espírito controlador e da representação de força conjecturada em Jack, os grupos se dividem.
Conforme os desentendimentos entre os líderes ganham força, o que antes era unidade torna-se embate, ainda que Ralph, embora cada vez mais isolado, não tenha cedido nas suas convicções éticas e morais e no que ele considera mais adequado para o bem de todos.
Apesar de poucas crianças terem sobrevivido e, em tese, precisarem de todos para o cumprimento de elementos básicas de preservação, mesmo assim lutam entre si. Isso traz uma reflexão sobre a impossibilidade viverem sozinhos, ainda que com todas as dificuldades de se aceitarem como um grupo.
Para o grupo de Jack, as condutas deontológicas focadas em regras de organização e de preservação propostas por Ralph não eram mais relevantes, e o que mais importava naquele instante era a busca pelo poder, ainda que isso levasse ao inteiro caos. Assim, as crianças deixam que o “Senhor das Moscas”, o mestre da selvageria e da barbárie tome conta do paraíso que haviam encontrado, tudo em função do medo do desconhecido e da forma como Jack explora o receio do mundo externo e faz com que seus seguidores o obedeçam.
A máxima que afirma que “o homem é um animal teleológico” - que cumpre ações e se serve de coisas úteis para obter seus objetivos (nem sempre declarados e, muitas vezes inconscientes) - fica explícita no filme quando se detecta a necessidade de transformação que Jack possui. Quando ele modifica, à sua maneira, os componentes da realidade ao redor, e se serve dos seus seguidores para implementar os seus desejos pelo caos e pelo poder.
Diante disso, pode-se relacionar a figura de Jack ao lado negro da humanidade, que, por meio de condutas teleológicas, busca a exteriorização e aplicação de seus ideais próprios, independentemente de como isso afetará outras vidas. A Ralph, em seu turno, pode-se relacionar o governo, a ordem e a responsabilidade, que transmitem, como regra geral, ideais deontológicos, onde as regras são priorizadas em detrimentos dos resultados.
Conclui-se, portanto, por meio desta contextualização da proposta do filme, que o ser humano, ao interagir com a natureza, desempenha sua essência caótica, embora acredite que, dentro de padrões otimistas, consiga se manter ordeiro e ético. Desse modo, por mais consciente que seja a relação social do ser humano, ele sempre precisará do “Senhor das Moscas” para demarcar suas escolhas.
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