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BARUCH DE SPINOZA: A Razão como religião

Por:   •  22/5/2018  •  9.153 Palavras (37 Páginas)  •  272 Visualizações

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português faz a mesma coisa ocorrida na Espanha, começa a caçar, confiscar e, dessa vez até pior: com mortes e deportações na "Santa" Inquisição portuguesa. Então seu pai Miguel de Spinoza, um pequeno comerciante, resolveu novamente migrar, passando primeiro por Lens, uma cidade francesa, acabando por fixar domicílio na cidade de Amsterdã, Holanda. Esta cidade, por razões econômicas, deu forte apoio e abertura aos judeus que estavam fugindo dessa perseguição na península ibérica.

O pai de Spinoza, homem do comércio e muito bem relacionado, é bem recebido pela comunidade hebraica local, e começa a ter bastante sucesso nesse novo domicílio. Nasce então seu filho: Baruch de Spinoza, e como de costume, começa a prepara-lo para futuramente assumir os negócios da família, Spinoza perde sua mãe e fica órfão aos seis anos de idade, seu pai casa-se novamente e, agora, é criado pela madrasta. Nesse momento, seu pai já era um comerciante bem sucedido, e vai construindo mecanismos necessários para que Baruch – Benedicto - o suceda futuramente e lhe ensina entre outas coisas, um ofício paralelo: o polimento de lentes. Esse ensinamento lhe foi muito útil, tempos à frente, após trágicos acontecimentos em sua vida. No entanto, aconteceu que Spinoza, passou a ter muito interesse pelo estudo religioso não só pelo ofício que o pai estava a lhe ensinar, mas de certa forma que, não fosse o estudo comum dado a todas às crianças daquela época, sim um estudo bem mais aprofundado, qual foi atingido através do estudo do hebraico, da Torá, do estudo da Cabala e do Talmude, de forma a se assemelhar de tudo sobre religião e se influindo muito sobre o tema.

Observando isso, seu pai começa a mudar de opinião em relação ao futuro do filho, dar-lhe-á oportunidade de continuar na religião, objetivando que Spinoza se torne um rabino, começou então a relacionar o filho com pessoas influentes e de grandes estudos, dos quais lhe ensinaram além de outros idiomas, matemática e filosofia, então, desta forma, Baruch de Spinoza começa a ter outra visão daquilo que lhe fora repassado como princípios e de ensinamentos religiosos. Um dos acontecimentos notável na formação espiritual e especulativa de Spinoza foi o contato com o médico Francisco Van den Ende, doutor de formação católica que se tornou livre pensador – o que à época era quase equivalente a ser ateu – foi na escola deste que Spinoza travou contato com outros pensadores clássicos, como Cícero, Sêneca e Aristóteles; estudou a filosofia medieval e a filosofia moderna, entre os quais Descartes, Bacon e Hobbes. Neste círculo intelectual Spinoza também teve a oportunidade de aprofundar seus estudos em geometria e nas ciências da época, principalmente, na obra de Galileu.

É importante ressaltar que, normalmente, todos os pensadores ou ao menos a grande parte deles, como de seus pensamentos filosóficos e também de seus temas, estão sempre atrelados à forma como esse pensador viveu, nas crenças e nas lutas de seu tempo e, apesar de em algumas obras dizerem que não, Spinoza participou ativamente de sua época, de sua comunidade, opinou, criou ideias, gerou e resolveu conflitos. E este período vivido por ele, foi marcado por uma série de problemas, não somente na Holanda, onde o mesmo vivia, mas, principalmente, no que tange a sua comunidade, sendo assim, é correto falar um pouco desse período antes de adentrar, ainda que de forma superficial, em parte de suas obras.

Spinoza viveu dentro da chamada “Idade de Ouro” da história da Holanda, um período de grandeza econômica, política, e cultural, baseada na expansão comercial e imperialista. Onde a qualidade de vida tinha um padrão geral de bem estar marcado pela simplicidade e de uma proximidade de nível entre as classes, principalmente, o respeito entre as pessoas, algo que não existia nos demais países europeus; é importante ressaltar, também, que seguindo sua própria filosofia, Spinoza viveu de forma simples, o que na rica Holanda daquela época não significava pobreza e muito menos indigência. Foi nessa mesma época, além do próprio Spinoza, que o filósofo René Descartes viveu e escreveu suas obras, também na Holanda, por duas décadas. E apesar de tanta grandeza, a Idade de Ouro foi também um período de muitas guerras. As províncias unidas dos países baixos, atualmente Bélgica e Holanda, rebelaram-se contra o domínio espanhol e seguiram-se anos de confronto com a Espanha, em que se destacaram como chefes militares holandeses os príncipes de Orange.

Este novo Estado holandês baseava-se na liberdade da burguesia, tanto nas atividades comerciárias quanto na liberdade de consciência, de forma a valorizar a atividade econômica e, também, a tolerância religiosa. A Igreja Romana, com seus tribunais inquisitórios e sua intolerância, era tida aos burgueses da Holanda como uma ameaça, com isso, manifestavam-se contra essa dependência em relação a um poder estrangeiro e contrário a seus interesses locais. Desta forma, a burguesia adotou então o calvinismo em sua forma mais liberal, e que se opunha ao calvinismo ortodoxo. Os libertinos defendiam total tolerância em termos de religião, e afirmavam a supremacia do poder civil sobre a autoridade religiosa, declarando que esta não tinha direito de legislar em assuntos de fé, tão pouco de moral, opondo-se desta forma aos ortodoxos partidários da dominação do Estado pela Igreja e que condenavam o desenvolvimento econômico como contrário aos princípios da Bíblia. O calvinismo ortodoxo foi, de maneira geral, adotado por todas as classes e camadas sociais prejudicadas com o desenvolvimento da economia mercantil e com a nascente indústria holandesa. Os ortodoxos eram os camponeses pobres, artesãos, marinheiros, operários em geral e os nobres, constituindo todos, o conjunto da clientela da Casa de Orange.

O conflito entre essas duas tendências opostas, explodiu abertamente após o tratado de Vestfália ocorrido em 1648, onde as províncias unidas haviam participado da Guerra dos Trinta Anos, ao lado da França, contra a Espanha, e assinaram um tratado de paz em separado, que abria as portas das colônias espanholas para o comércio holandês, satisfazendo, portanto, os interesses da burguesia. Contudo a Casa de Orange, ao contrario de todos, desejava a continuação dessa guerra, acreditando que sem a qual sua existência não fazia sentido. Firmada então a paz, o poder passou a ser ocupado pela burguesia e pela ala calvinista libertina, tendo como seu maior representante Johannes de Witt, eleito Grande Pensionário no ano de 1653, qual permaneceu no poder até 1672, quando foi assassinado e a Casa de Orange retomou o poder.

Nesse hemisfério de fatos que sacudiam os países baixos, Spinoza agora com amplo conhecimento adquirido,

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