O Dialogar Interculturalmente
Por: Ednelso245 • 23/12/2018 • 2.566 Palavras (11 Páginas) • 285 Visualizações
...
Se comunicação verbal é aquela que tem por base a linguagem escrita ou falada, então importa aqui saber o que será a comunicação não-verbal.
De uma forma geral, linguagem não-verbal é o uso de imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação. A linguagem não-verbal pode ser até percebida nos animais. Por exemplo, quando um cão abana a cauda quer dizer que está feliz ou quando coloca a cauda entre as pernas quer dizer que sente medo ou tristeza.
Sabendo isto, vários autores definiram “comunicação não-verbal”. Segundo Burgoon, Buller & Woodall (1989 In. Shi & Fan, 2010), é o diálogo não falado que envolve as mensagens transmitidas para além das palavras. De acordo com DePaulo & Friedman (1998 In. Shi & Fan, 2010), é o processo dinâmico de troca de informações cara a cara através de “pistas” e não de palavras. Mcneill (2000 In. Shi & Fan, 2010) acrescenta que a comunicação não-verbal tem um papel indispensável no processo de interação frente a frente.
A linguagem é um sistema de signos que tem em si mesmo um valor cultural. Podemos pensar que a comunicação não-verbal é universal, mas na realidade não é. Da mesma forma que influencia a linguagem verbal, a cultura influencia a linguagem e os comportamentos não-verbais.
Ou seja, todas as culturas interpretam a linguagem corporal, os gestos, a postura, o grau de contacto visual, entre outros, de forma diferente. Culturas diferentes podem usar, por exemplo, o mesmo gesto com significados completamente diferentes, ou podem usar gestos muito diferentes para representar exatamente a mesma coisa. Por exemplo, levantar o polegar em Portugal significa “fixe”, em alguns países este gesto pode ser muito insultuoso.
Estudos mostram que o uso inadequado de comportamentos não-verbais podem levar a grandes problemas comunicacionais. Estudos mostram, também, que as falhas ou mal-entendidos que ocorrem na comunicação intercultural estão amplamente relacionados com uma errada interpretação de comportamentos não-verbais (Arasaratnam & Banerjee, 2007; Ma, 1996 In. Shi & Fan, 2010).
Uma vez que a nossa turma de mestrado é, também ela, multicultural, decidimos, durante a apresentação do nosso trabalho, pedir aos nossos colegas para indicarem o significado que têm para eles próprios uma série de gestos e/ou comportamentos, cujo significado descobrimos ser variável de cultura para cultura. É possível encontrar o resultado desse pequeno questionário no anexo 1 do presente trabalho.
Segundo Brown (1994 In. Shi & Fan, 2010), a expressão da cultura está tão associada à comunicação não-verbal que as barreiras para a aprendizagem de uma determinada cultura são mais não-verbais do que verbais. Desta forma, sugere que, na aprendizagem de uma língua estrangeira, é extremamente importante ultrapassar as dificuldades relativas a fatores não-verbais de forma a perceber e agir adequadamente dentro da cultura dessa mesma língua ou poderá dar-se o que se chama de “choque cultural”.
O termo "Choque Cultural" foi mencionado pela primeira vez por Kalvero Oberg em 1960 como sendo a reação precipitada pela ansiedade que resulta da perda dos signos familiares e símbolos de relação social. Oberg refere-se aos aspectos visuais da cultura, tais como comportamento, língua e tradições. O facto de as pessoas terem tendência a julgar os outros pelo aspecto visual poderá ser um criador da ansiedade. Do choque cultural poderão advir conflitos interculturais, nascimento de estereótipos, discriminação, racismo e xenofobia (Oberg, 1960).
Segundo Brown (1980, In. Berwig, 2004: 60),
“um estereótipo é uma categoria a partir da qual um indivíduo assume características básicas do grupo ao qual pertence. O estereótipo pode ser preciso para definir um membro "típico" da cultura, mas não serve para descrever uma pessoa em particular, simplesmente porque cada pessoa é única e o seu comportamento não poderá ser previsto com base nas normas culturais do grupo.”
Desta forma, entende-se que categorizar um individuo pelos seus traços físicos ou pela sua forma de expressão seja “estereotipar” e nem sempre vai de encontro com os seus antecedentes e com a sua realidade. Pareceu-nos importante referir o que é um estereótipo pois, segundo o mesmo autor, um dos riscos mais frequentes na comunicação intercultural é o de cair no estereótipo, porque este nos proporciona uma imagem simplificada de um grupo. Se a existência de estereótipos pode, por um lado, ajudar-nos a categorizar, pode, por outro, ser mais um entrave a uma eficiente comunicação intercultural.
A “Pluralidade de culturas, etnias, religiões, visões do mundo e outras dimensões das identidades infiltra-se, cada vez mais, nos diversos campos da vida contemporânea” (Moreira, 2001, In Rodrigues, 2013:41). A educação deve acompanhar as mudanças que ocorrem no mundo e tornar-se ela mesma, também, voltada para a multiculturalidade. Hoje em dia, o multiculturalismo presente nas escolas permite questionar o currículo proposto, de modo a que os saberes gerais e universais tenham a vantagem sobre os saberes particulares e locais, ou seja, ensinar ao mesmo tempo que se respeitam as diversas culturas. Neste sentido, “o papel do professor será crucial para uma inter-relação entre as diferentes culturas existentes na escola. (...) há que compreender, e transformar o que for necessário, para a plena inclusão e êxito dos alunos, qualquer que seja o seu país natal, a sua etnia ou a sua origem social” (Rodrigues, 2003: 11).
Ainda segundo o mesmo autor, o professor deverá ter um conhecimento aprofundado dos seus alunos e do meio em que a escola se insere, para que esta informação possa ser utilizada para uma valorização de uma pedagogia diferenciada e da flexibilidade curricular, imprescindíveis para a aprendizagem e sucesso escolar de todos os alunos. O professor deverá, também, incluir a interação da diversidade cultural em sala de aula, gerando actividades que se ajustem a distintas capacidades e interesses. Ao mesmo tempo, o professor deverá favorecer a crítica e o aperfeiçoamento progressivo por parte dos alunos, na análise das próprias atitudes e valores na busca de novas perspectivas compartilhadas, assim como aplicar estratégias que potenciem o enriquecimento intercultural, a planificação e o desenvolvimento em cooperação, assim como a participação activa. O papel do professor não se esgota aqui e este deverá ser “multiculturalista”
...