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ANTROPOLÓGICA

Por:   •  26/2/2018  •  2.285 Palavras (10 Páginas)  •  268 Visualizações

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Gluckman apresenta alguns rituais semelhantes estudados por Frazer, dando ênfase a uma característica que ele chamará de bacântica. Esse aspecto bacântico era um traço fundamental de muitos ritos, era quando os homens abdicavam de sua autoridade, uma vez que vivam numa cultura de ascendência patriarcal, e precisariam, nesse momento, se subordinar as mulheres, acobertando um conflito fundamental.

As mulheres nessas tribos, tinham total dependência masculina. O autor faz referência ao casamento zulu e, após apresentar uma cosmovisão onde a mulher era desfavorecida recebendo a pecha de ser caprichosamente má, tendo um espírito que não poderia se tornar referência de benção ancestral, pois, após a morte, elas afligiriam seus descendentes com maldades. A subordinação social da mulher zulu era muito acentuada. As mulheres que queriam seguir um bom caminho ritual precisavam enfrentar dificuldades que colavam em risco suas próprias vidas. E o reconhecimento de tanto sacrifício vinha mais uma vez travestido da simbologia da superioridade masculina visto que elas recebiam escudos e lanças, emblemas da masculinidade zulu.

Como não era permitido o casamento no próprio grupo, as mulheres precisavam sair do seio de sua família e ir para o grupo da família do noivo, dessa forma as mulheres sempre eram forasteiras em relação a linhagem do grupo onde eram inseridas. Por esse motivo elas eram facilmente vítimas de acusação de bruxaria. A família da noiva recebia o dote em forma de gado, esse gado seria usado pelo irmão da noiva para pagar o dote deu sua noiva, porém isso poderia gerar conflitos, pois, caso a mulher não tivesse filhos, ela poderia ser devolvida e o noivo poderia requerer o gado do dote. Se o irmão já tivesse usado esse gado, isso poderia gerar um conflito. A mulher era excluída da herança pois tinha a função de perpetuar um outro grupo familiar e não o dela.

Quando ocorria o ritual de rebelião, momento em que o comportamento era invertido e travestido, o autor afirma que eram acionados mecanismos de caráter psicológicos e sociológicos, e até mesmo fisiológicos. Conhecer os papeis sociais dos participantes das cerimônias revela a forma como essa cultura compreendia o universo. Diante dessas dinâmicas tribais é possível relacionar o conceito de communitas, de Turner, a partir da noção clássica de liminaridade nas sociedade baseadas no parentesco. É pertinente pensar qual seria o papel feminino se a sociedade em questão fosse matrilinear como a dos ashantis apresentadas por Turner em, “O Processo Ritual”.

Abandonando gentilmente a análise intelectualista de Frazer, Gluckman apresenta a cerimônia de Nonkubulwana como uma ritual que traduz os conflitos sociais e busca a superação dessa tensão por meio do seu enquadramento dentro da ordem. O cerimonial é apresentado em nível regional e na sequência em nível nacional, tratando de tema, rituais de rebelião, em nível político, para isso ele apresenta o Incwala, dos Suazi, povo vizinho dos Zulus. Esse ritual trata da cerimônia dos primeiros frutos que só podem ser consumidos após o rito. Caso alguém transgrida – quebra do tabu –comendo dos primeiros frutos antes da cerimônia, o líder, e não o transgressor, corre risco. Quando o transgressor era descoberto era punido pelo chefe. O rei compete com os seus súditos, com o “sol”, pois precisar fazer alguns cálculos para iniciar a cerimônia antes do solstício, ele também queria “evitar que suas fronteiras fossem invadidas” (p.13). Faz parte do ritual o roubo de um touro negro que é furtado do rebanho de um súdito, esse fica furiosos e com orgulho ao mesmo tempo, suscitar esses sentimentos antagônicos é um dos ingredientes do ritual. A cerimônia é realizada na ultima lua nova, antes do solstício. Cabaças são postas dentro do curral do rei, sacerdotes saem para pilhar a capital. Mulheres, crianças e regimentos do exército entram no curral e cantam canções que falam sobre o inimigo do rei, e do ódio que sentem por este. Ao som dos cânticos entoados pelos soldados que falam sobre o “triste fardo de ser rei”, o rei toma remédios mágicos ofertados pelos Sacerdotes do Mar. No momento desse tratamento o rei deve estar cercado apenas por seus súditos leais e não é permitido estar com ninguém que tenha parentesco. O rei cospe o remédio e o povo ovaciona. Cantam o hino nacional e repetem a cerimônia de cuspir no dia seguinte. Finda-se a pequena cerimônia. Os guerreiros, de forma descuidada, demorando mais do que o necessário, deixando transparecer certa preguiça, limpam o roçado da rainha-mãe. Essa atitude é apresentada como sendo uma possível crítica inconsciente a maneira como se trabalha pelo estado. Essa foi a pequena cerimônia e a grande cerimônia transcorre de forma semelhante. O mais intrigante é que toda essa Dramatização, segundo Turner, tem a função de manter a ordem.

Ao citar Hilda Kuper Gluckman sintetiza o Incwala afirmando que as tensões de cunho nacional são perceptíveis, todos podem sentir. Há uma polarização onde o rei junto com o estado está de um lado e o povo do outro. Um universo de conflitos é elencado: reis, plebeus, príncipes, parentes; inimigos internos e externos, luta contra outras tribos e contra a própria natureza. Essa cerimônia possibilita a coesão da nação, mesmo ante os conflitos variados. Ao mesmo tempo em que se apresenta a ideia de se unir ao rei para enfrentar inimigos comuns, é sustentada a ideia de retirar o poder do rei. Porém o rei possui uma ampla simbologia, nessa cosmovisão ele é fundamental, ele é associado aos seus ancestrais, a rainha-mãe o liga aos reis passados. Para os Suazi, essas relações, por mais que sejam conflitantes e ambivalentes, são responsáveis pela prosperidade do povo.

‘Os rituais não questionam as instituições estabelecidas. A mulheres zulus não queriam desfazer as estruturas sociais com a cerimônia Nonkubulwana. Mesmo após o rito de inversão, elas continuavam querendo se casar dentro da tradição, ter filhos e ir trabalhar na roça. Igualmente, na política africana, os homens eram rebeldes, mas não eram revolucionários. Quando acontecia uma disputa por poder, a intenção era tomar o lugar da autoridade e não modificar o tipo de relação. As estruturas e papeis sociais funcionavam como sendo sagradas. Não se pensa a possibilidade de se estabelecer uma ordem social diferente da já posta, essa ordem seria inerente a criação. Entender a sociedade dessa forma fazia com que os rituais de rebelião fossem agentes de coesão.

De acordo com o autor, o sistema social Suazi seria repetitivo. Os conflitos acabam reproduzindo a estrutura. É possível substituir pessoas que ocupam postos de comando, mas não se pensa na alteração

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