Por que as Crianças Desenham Assim?
Por: Sara • 9/7/2018 • 3.511 Palavras (15 Páginas) • 293 Visualizações
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Elas Desenham o que Vêem
As crianças e os primitivos desenham generalidades e forma não projetiva precisamente porque desenham o que vêem. Sem dúvida as crianças vêem mais do que desenham. Numa idade me que distinguem facilmente uma pessoa de outra e percebem a menor mudança em um objeto familiar, seus desenhos são ainda sumamente indiferenciados. Mesmo na prática adulta, um mero círculo ou ponto pode ser suficiente para representar uma cidade, uma figura humana um planeta. Quando uma criança se retrata com um simples padrão de círculos, ovais e linhas retas, pode fazê-lo não por ser isto tudo o que vê quando olha para o espelho, e não por ser incapaz de produzir um desenho mais fiel, mas porque o simples desenho preenche todas as condições que espera encontrar em um retrato.
Se a criança fizer um círculo substituir uma cabeça, esse círculo não lhe é dado pelo objeto. Algo semelhante acontece com a cor. A cor que a criança atribui as árvores em suas pinturas dificilmente é uma gradação específica de verde selecionada entre as centenas de matrizes que se encontram nas árvores.
Conceitos Representativos
Os conceitos representativos proporcionam o equivalente, em um meio particular, dos conceitos visuais que se quer representar. A formação de conceitos representativos, mais do que qualquer outra coisa diferencia o artista do não artista. O artista experimenta o mundo e a vida de um modo diferente do homem comum. Estas qualidades são indispensáveis, mas não se limitam aos artistas. O não artista fica “sem palavra” ante os frutos de sua sabedoria sensível.
Experimentos com as crianças têm-nos ajudado a entender a importância dos conceitos representativos destacando a diferença entre reconhecer e limitar. Quer sejam ensinadas ou não, as crianças eventualmente adquirem a arte de fazer diagonais. Como veremos, durante o desenvolvimento do desenho espontâneo, as crianças primeiro dominam a relação entre horizontal e vertical e em seguida procedem dali para as direções oblíquas. Á medida que a mente se torna mais refinada, os padrões que cria tornam-se mais complexos, e os dois processos de desenvolvimento se reforçam constante e mutuamente.
O Desenho como Movimento
O olho e a mão são o pai e a mãe da atividade artística. Desenhar, pintar e modelar constituem tipos de comportamento motor humano. Os rabiscos de uma criança não têm como objetivo a representação. Constituem uma forma de atividade motora agradável na qual a criança exercita seus membros, com o prazer maior de ter os traços visíveis produzidos pela vigorosa ação que o braço faz de um lado para o outro. É um simples prazer sensorial, que permanece vivo mesmo no artista adulto.
As crianças têm necessidade de muito movimento, desse modo o desenho começa como cabriola sobre o papel. Aqui se encontra o início do movimento expressivo, as manifestações do estado de mente momentâneo do desenhista assim como seus mais permanentes traços de personalidade. Estas qualidades mentais refletem-se constantemente na velocidade, ritmo, regularidade ou irregularidade e configuração dos movimentos do corpo.
Além de ser expressivo, o movimento é também descritivo. A espontaneidade de ações é controlada pela intenção de imitar propriedade de ações ou objetos. Os gestos descritivos usam as mãos e os braços, freqüentemente sustentados pelo corpo todo, para mostrar como alguma coisa é. Costumamos admitir que o comportamento motor do artista é apenas um meio para produzir pintura ou escultura e que tem valor em si e por si próprio. Este aspecto representativo do comportamento motor é absolutamente evidente nas crianças pequenas. Elas não se importam em traduzir visualmente estas conexões no papel, mas espalham os olhos, as orelhas, a boca, e o nariz do rosto sobre o papel numa desordem quase casual.
O Círculo Primordial
Ver a forma organizada emergir dos rabiscos das crianças é assistir a um dos milagres da natureza. Formas circulares gradativamente aparecem nas nuvens de traços ziguezagueantes. A princípio são rotações, traços do movimento de braço correspondentes. Qualquer operação manual chega depois de um certo tempo a movimentos fluentes de formas simples. A história da escrita mostra que as curvas substituem os ângulos e que a continuidade substitui a descontinuidade á medida que a lenda produção de inscrições dá lugar ao rápido cursivo.
O braço gira ao redor da articulação ao ombro e rotação mais sutil é possibilitada pelo cotovelo, pulso e pelos dedos. O mesmo princípio também dá prioridade visual á forma circular, O círculo, que com sua simetria central não particulariza nenhuma direção, é o padrão visual mais simples. A perfeição da forma circular atrai a atenção.
Experimentos feito por Charlotte Rice mostraram que as crianças pequenas escolhem os círculos em uma coleção de diferentes configurações mesmo que se lhes peça para procurar rombos, e Goodnow relata que as crianças ao desenhar figuras humanas, começam pelo círculo da cabeça. O círculo é a primeira forma organizada que emerge dos rabiscos mais ou menos sem controle. É claro, não se deve procurar perfeição geométrica nestes desenhos. Na maior parte do tempo estas configurações se assemelham aos círculos ou bolas. Em particular, percebe-se uma diferença clara entre o mero produto pelo olho do desenhista.
A Lei da Diferenciação
Ao tratar do círculo primordial já me referi a diferenciação. Em sua forma mais elementar este princípio incida que o desenvolvimento orgânico sempre procede do simples para o mais complexo. Do ponto de vista de Spencer, a diferenciação implica também num desenvolvimento partindo do indefinido para o definido, da confusão para a ordem. Para o nosso fim específico será útil combinar o princípio da diferenciação com o princípio gestaltiano da simplicidade.
Em segundo lugar, a lei da diferenciação afirma que até que um aspecto visual se torne diferenciação, a série total de suas possibilidades será representada pela estruturalmente mais simples entre elas. O paralelo com a diferenciação de formas visuais está muito próximo. O círculo é uma forma não marcada ou neutra, que representa qualquer configurações, até que ela seja nitidamente oposta a outra. Diferentes crianças permaneceram em estágios diferentes por períodos de tempo diferentes. Elas podem omitir alguns e combinar outros de maneira própria. A personalidade da criança e as
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