Misticismo de Alexander Scriabin
Por: kamys17 • 7/5/2018 • 2.073 Palavras (9 Páginas) • 362 Visualizações
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Scriabin inova também em suas composições ao usar instrumentos não europeus como gongos e tantãs em algumas de suas composições
Prometheus: o poema do fogo
Sua obra mais famosa, que se torna baliza histórica em sua vida e na história da música tonal, tem como instrumentos utilizados o piano, a orquestra e o teclado de luzes (Clavier à Lumières ou Tastiera per Luce) e se baseia no mito grego do herói Prometeu.
A história grega que versa sobre a dominação do manuseio do fogo pelo Homem conta que Prometeu, querido pelo panteão, é um dos poucos humanos que pode subir até o Olimpo e se reunir com os deuses. Lá, Zeus lhe apresenta o fogo sagrado e Prometeu, que considera injusto os homens não possuírem algo tão maravilhoso, rouba o fogo dos deuses e o leva aos homens. Por isso os homens lhe agradecem e Zeus o torna imortal e o condena a ficar acorrentado no alto de um monte com pássaros comendo seu fígado pela eternidade.
Sabe-se que o autor da obra considerava os artistas como herdeiros do legado de Prometeu- aqueles que devem trazer ao mundo o conhecimento e a luz- mas levando em conta o misticismo do compositor e o fato de esta ser a primeira peça que apresenta o diálogo sinestésico entre som e luz, podemos especular sobre o fato de ele querer dizer que com essa peça, ele, detentor de uma sabedoria desconhecida pelos homens (passada a ele por sua iluminação teosófica), traria esse conhecimento ao Homem com a sua peça que iluminaria a todos pela sua junção entre os sentidos.
O seu acorde sintético (que segundo ele possui propriedades místicas) é a base harmônica do Poema do fogo e é formado por seis notas que são sobreposições de quartas diminutas, justas e aumentadas. O acorde possui em si não somente os intervalos de quarta mas também outros intervalos como terças e sétimas. A presença concomitante destes diversos intervalos expande a noção tradicional de tensão-relaxamento/consonância-dissonância (talvez por isso ele, Scriabin, atribuísse ao acorde suas características místicas). Outra peculiaridade é que seu acorde, em qualquer tonalidade, pode se resolver em qualquer das 12 notas da escala cromática.
O acorde sintético também apresenta uma lógica e uma forma de encadeamento próprias que o desprendem do tonalismo.
Alguns tentaram explicar a origem de seu acorde por sua série harmônica (sendo as notas os harmônicos de número 8, 9, 10, 11, 13 e 14 da série natural) mas fracassaram, pois sua explicação somente se aplica ao acorde em posição fundamental e até hoje sua origem permanece como uma incógnita já que, figura controversa que era, o autor em seus escritos fala sobre maneiras aparentemente opostas de se compôr, fala em alguns escritos sobre a importância da matemática na peça e em outros defende o uso da intuição na elaboração de novas música.
Fato intrigante em Prometheus é que, apesar de seu acorde poder apresentar várias inversões, geralmente o autor só usa as 3 primeiras.
Scriabin aplica na construção da partitura desta obra a teoria de um de seus professores do Conservatório, tendo Prometheus como número fundamental da peça a razão áurea (sua partitura possui 606 compassos divididos entre 2 seções, a primeira com 374 compassos e a segunda com 232 compassos. Razão áurea= 0,618. Se multiplicarmos o número de compassos pela razão temos um número entre 374 e 375, além disso a razão entre o total de compassos e a segunda parte da música é o mesmo valor da divisão entre os compassos da primeira parte e da coda)
Sendo Scriabin conhecido por ser o compositor que faz o elo entre a o Romantismo do século XIX e a atonalidade do século XX, podemos dizer que seu Poema do fogo é o elo do autor entre tonalismo e atonalismo em sua obra, já que é escrita pensando e trazendo várias características da música tonal mas trazendo seu novo acorde que possui lógica próxima, diferente da lógica tonal.
Mysterium
Planejada para ser um ritual de purificação da humanidade, Scriabin começa a ter os primeiros relances dessa obra em sua mente em 1901, mas os ignora. A partir do ano de 1903 as ideias sobre a obra tornam-se impossíveis de serem ignoradas pelo autor e ele então começa seus trabalhos de escrita, passando os últimos 12 anos de sua vida criando sua grande peça e procurando fazer dela o ápice da sinestesia. Até a data de sua morte, na Páscoa do ano de 1915, o compositor escrevera 72 páginas de esboço da abertura da obra (que ele denomina “Prefactory act). Posteriormente Nemtin, portando as folhas de esboço e conhecendo o estilo do compositor, transforma o que ele julga ser a ideia de Scriabin em um concerto de cerca de três horas de duração.
Seu mistério completo foi planejado por ele para que fosse apresentado durante uma semana nas montanhas do Himalaia, onde ele chega a procurar um lote de terra para comprar. Os participantes, pessoas escolhidas previamente, estariam vestidos de branco entoando mantras melismáticos e dançando. A peça contava além do espetáculo sonoro e luminoso, com aromas, incensos, coreografias e danças exóticas. Sua peça também incluía fenômenos naturais como a luz das estrelas e os sons ouvidos no monte como parte do espetáculo.
Para o desenvolvimento da peça, o autor planejava incluir vários temas rítmicos e melódicos de sua sétima sinfonia como temas do seu mistério. Portanto, pode-se dizer que a sua sétima sinfonia é a essência de seu mistério.
O compositor em seu misticismo acreditava que sua peça, unindo todos os sentidos humanos, seria o ápice da evolução humana e desencadearia o Armagedom e ao final da peça era previsto que “o próprio compositor anunciaria o nascimento de uma nova raça de seres humanos a ser propagada” (BASSBAUM apud GORDON)
No planejamento do ato, Scriabin propõe uma dissolução da barreira entre público e performadores, pois segundo ele acreditava, essa junção dos papéis ajudaria na dissolução e transfiguração do mundo. Em seu planejamento da obra, todos performariam e celebrariam, todas as artes estariam inclusas e todos os sentidos envolvidos, e isso permitiria a transcendência de todos que ali estivessem presentes, levando a humanidade a um novo patamar de existência mais satisfatório e iluminado.
Por considerar que o mundo não estava preparado para o que aconteceria após a exibição de sua obra, decide dar uma prévia ao mundo do que estava por vir fazendo uma apresentação da introdução de Mysterium e no libreto
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