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Arqueologias de Cyprien Gaillard

Por:   •  3/4/2018  •  13.308 Palavras (54 Páginas)  •  350 Visualizações

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Ao final, vemos planos de luzes de boate que se espalham por todas as paredes pretas, vemos essas máquinas de luzes, estamos no interior do que aparenta ser uma boate. Um fade in e o filme acaba. O primeiro e único crédito aparece.

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[pic 1]

Cyprien Gaillard, Cities of Gold and Mirror, 2009.

Nesse crédito, aparece o nome do artista, Cyprien Gaillard, junto ao ano de produção, 2009. O filme “Cities of Gold and Mirror” faz parte da exposição que estamos vendo. É uma exposição solo reunindo suas obras produzidas entre os anos de 2004 e 2013. O terceiro andar MoMA PS1 de Nova Iorque geralmente é reservado para curadorias realizadas pelo diretor do museu, e Gaillard ocupa todas as salas.

Ao caminhar pelas próximas obras é possível perceber em outras imagens que os temas se repetem em contextos diferentes. A natureza, os resquícios de antigas civilizações, assim como os resquícios recentes de comunidades que ainda existem, as novas construções, e o processo que torna essas novas construções possíveis estão vigentes. Às vezes, todas essas partes de uma malha civilizatória se encontram num mesmo plano. As camadas históricas aparecem tanto em seus alargamentos do presente assim como em suas desaparições do passado.

As obras de Cyprien são compostas principalmente de séries de instalações audiovisuais que exploram uma relação desconfortável em que a natureza, a história e o ambiente construído entram em conflito.

Cyprien Gaillard nasceu em 1980 em Paris, tendo sua atual residência em Berlim. Graduou-se na École Cantonale d'Art de Lausanne (ECAL) na Suíça. Suas

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recentes exposições incluem uma solo no Centre Pompidou (2010) , “The Recovery of Discovery” no KW Institute for Contemporary Art em Berlim (2011), e “The Crystal World” no MoMA PS1 de Nova Iorque (2013). Também foi ganhador do prêmio Marcel Duchamp 2010, do Preis der National galerie für junge Kunst e o A.T. Kearney Young Artist Award (OBRIST, 2011).

Seu trabalho artístico se inicia com sua formação na ECAL, mas desde sua adolescência Gaillard possuía um interesse em interagir com a cidade. Suas práticas de andar de skate e grafitar até seus 18 anos disparavam desejos de ações de intervenção nos lugares que frequentava. Ao pesquisar a arte contemporânea percebeu que poderia construir uma espécie de abrigo que não faria sentido em outros espaços.

Alguns de seus primeiros filmes produzidos compõem a série “Real Remnants of Fictive Wars V” (2004). A série consiste em cinco filmes feitos em 35mm a partir de planos de nuvens de fumaça que surgem por trás de árvores em diferentes paisagens. Suas locações foram em cenários existentes tanto nas saídas da cidade de Paris quanto em outras paisagens localizadas no interior, próximo a cidades menores.

A cada plano filmado é possível ver nuvens que surgem por trás das árvores quase como um fenômeno natural e essa fumaça era gerada por pessoas escondidas atrás das árvores e armadas com extintores de incêndio. Segundo o artista, esse gesto advinha de algo que ele mesmo praticava antes:

“Eu roubava extintores de incêndio na minha adolescência, e cometia algum ato comum de destruição ou vandalismo. O interesse era fazer algo de proximidade com a Land Art a partir desse dispositivo de fumaça, que também possui uma relação forte com vida e morte, e utilizá-lo da maneira mais inútil possível.” (OBRIST, 2011)

A fumaça dos extintores em direção a câmera tomavam conta o quadro, apagando a paisagem que se encontrava atrás, mas se dispersando segundos depois. O próprio artista considera esse reaparecimento da imagem como diferente da anterior, mais frágil, e ocasionalmente arruinada. Realizar o registro, filmar ou tirar uma foto não era suficiente para falar sobre a paisagem, ele teria que estar engajado a ela. Para criar essas possibilidades de engajamento, e como um método, o artista antes de realizar essas intervenções, passava o máximo de tempo possível próximo da locação num processo de observação direta do espaço.

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[pic 2]

Cyprien Gaillard, Real Remnants of Fictive Wars V, 2005.

Sua infância foi dividida em duas partes, sendo uma delas nos Estados Unidos,

mais especificamente em São Francisco, e outra em Paris. Durante esse período,

Gaillard afirma ter construído uma visão distorcida da geografia que o acompanhou

desde cedo. Talvez suas tentativas de analogias a partir de imagens de diferentes

lugares do mundo por associação tenham a ver com uma proposta de esticar a

geografia ou desfocar uma definição prévia como seu olhar para o mundo deveria ser:

“Eu não estou interessado numa arte pós skate. Não é dando justiça a essa prática, o que acho fundamentalmente muito interessante é enquanto uma forma de estar engajado com a cidade, você se reapropria de partes da cidade. E São Francisco na época era o lugar pra se andar de skate, em diversas partes da cidade, muitas no centro. (...) E foi justamente nessa época que a prefeitura demoliu esses sítios por conta da prática de skate, e assim pela primeira vez eu me dei conta do que poderia ser negativo na arquitetura. Quando a cidade demole algo que era muito enriquecedor para um grupo de pessoas na época. Isso foi meu primeiro encontro com o lugar que se torna um problema, que a arquitetura considera um problema. A pessoas se sentam e decidam que é preciso destruir isso.” (OBRIST, 2011)

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A Lausanne era uma escola de arte pouco ortodoxa. Cyprien estudou durante um ano, sendo que a escola tinha como proposta de avaliação final a apresentação de uma tese e a exposição de um trabalho desenvolvido durante esse período. Tanto sua tese quanto a exposição criaram uma certa polarização em sua banca de avaliação. Os presentes no momento da apresentação eram descritos como chocados ou até mesmo soltando risos (OBRIST, 2011). Na época de seus estudos, seus professores estavam interessados em aspectos da Arte Abstrata Contemporânea ou relações de pesquisa com a Arte Óptica, assim como os alunos tinham uma prática de trabalho em estúdio que Gaillard

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