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O MANEIRISMO

Por:   •  10/6/2018  •  Resenha  •  1.393 Palavras (6 Páginas)  •  238 Visualizações

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O MANEIRISMO

Na arquitetura do século XVI ocorre uma mudança radical na qual um novo espírito e um novo anseio expressivo - nascido do Renascimento - se manifesta.

Michelangelo, em 1546, é encarregado de dar continuação a Bramante na construção da Basílica de São Pedro. Primeiramente, ele não renuncia à cruz grega do projeto original, mas ele a dissimula ao tornar contínuas as paredes laterais na diagonal de cada quadrante definido pelos braços da cruz. A construção ganha um fechamento volumétrico e um caráter pesado que anula o jogo de cheios e vazados do projeto anterior. O novo projeto enfatiza a parte material do edifício e o torna mais escultórico e plástico.

A monumental cúpula de Michelangelo possui uma relação entre valores volumétricos e maciços com a massa do edifício. Entre a lanterna e a cúpula, o arquiteto introduz uma vedação que impede a luz divina de entrar na igreja. Não se percebe mais uma comunicação visível entre Deus e o fiel. O divino passa a residir na alma do fiel, e não requer o espaço externo para se manifestar. A arquitetura passa a fazer com que o sujeito encontre Deus dentro de si próprio.

Segundo Argan, para Michelangelo, o que interessa nesta Basílica é expressar a luta entre a aspiração para o alto do espirito e o peso da matéria. Então nos damos conta verdadeiramente de que uma imagem do espaço nascerá do drama religioso, humano, filosófico de Michelangelo, e não da premissa de um sistema. Ou seja, o projeto dissimula a centralidade, enfatiza o peso da construção e da massa, elimina a luz e isola o homem do meio ambiente e de Deus, fechando-o no interior do edifício.

Uma subjetividade tormentosa, portanto, muito diferente daquela crença na razão e no autoconhecimento concebido na Renascença. O artista não se contenta em copiar a história ou a geometria para compor o espaço. Ele retira de si próprio os valores expressivos e transforma plasticamente o que lhe foi dado: ele compõe o espaço a partir de sua subjetividade conflituosa. Ele não mais se contenta com a racionalidade do espaço. O Maneirismo, de certa forma, fez renascer a tragédia e o conflito humano.

Algumas características espaciais fundamentais na arquitetura são mantidas, enquanto outras características são dissimuladas e contrariadas, como a planta de cruz grega, a anulação da luz transmitida pela cúpula, a ênfase dada ao peso da construção e a produção de tensões e conflitos entre os diversos níveis. A continuidade espacial no maneirismo é obtida pela interação de objetos contrastantes, que promovem o dinamismo na organização espacial interna e não sua estaticidade aditiva e modulada. A utilização do repertório clássico é manipulado, reinterpretado, modelado ou mesmo exagerado em nome de um conflito. A perspectiva será utilizada para desnaturalizar o espaço, irrealizá-lo.

O Maneirismo é o desenvolvimento da individualização e explora a escura dimensão psicológica, onírica, inconsciente e irracional do indivíduo. Razão e desrazão habitam nele simultaneamente, e esse trágico conflito ocupa agora a sua essência. No espaço maneirista será própria uma evasão do real, uma fuga para o caos e para o ilusório, uma tendência para a profundidade combinada com a repentina sensação de isolamento ambiental e com um sentimento de restrição e falta de liberdade, apesar de todo o desejo de violação das regras.

ARQUITETURA E SIGNIFICADO: O ESPAÇO MANEIRISTA

• A CIDADE

No Maneirismo, a relação homem (edifício)- natureza (meio) não é mais cômoda e segura. Ela é tematizada intensamente na arquitetura do período. Expressão disso são as villas situadas nas periferias das cidades, no ponto onde o mundo humano da pólis se encontra com a natureza. A arquitetura maneirista se funda, então, numa relação problematizada entre o homem e a natureza refletida nas formas de edifícios, cujos projetos se definem pelo contato problemático estabelecido entre eles e seus sítios.

Com a parede externa da Basílica de São Pedro, percebe-se a articulação do espaço interior com o exterior, e serve, portanto, para ilustrar a relação problemática do homem, simbolizado pelo edifício que ele cria, com o seu meio. Ao mesmo tempo que a parede externa confina a alma no interior do edifício, torna-se parte do interior urbano.

Assim como a igreja de Michelangelo, a própria cidade maneirista abandona

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