A Quimioterapia
Por: YdecRupolo • 16/11/2018 • 2.872 Palavras (12 Páginas) • 293 Visualizações
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A exposição dos trabalhadores encarregados pelo preparo e pela administração dos quimioterápicos despertou atenção no final da década de 70. Os primeiros efeitos advindos do contato com essas substâncias eram exclusivamente do tipo agudo, resultantes do contato pela via cutânea ou por inalação, em casos de acidentes ou erros na manipulação. O interesse em pesquisar os efeitos genotóxicos de algumas substâncias nos trabalhadores aumentou na década de 1980, quando o índice de mortalidade por tumores em indivíduos que trabalhavam em laboratórios aumentou consideravelmente.
Os efeitos carcinogênicos de quimioterápicos são difíceis de demonstrar – particularmente no homem - uma vez que os cânceres, na maioria dos casos se manifestam clinicamente a partir dos 20 a 30 anos após a primeira exposição química. Além disso, os múltiplos contatos com diferentes substâncias cancerígenas em determinados locais de trabalho, além da existência de outros fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasias (como etilismo, tabagismo, sedentarismo e hábitos alimentares) contribuem para a dificuldade em definir os possíveis agentes responsáveis pelo efeito carcinogênico que poderá se manifestar décadas mais tarde.
Apesar disso, existem diversos estudos que comprovam que algumas drogas antineoplásicas em determinados níveis de exposição ocupacional podem ocasionar inúmeros danos à saúde dos trabalhadores. Fuchs desenvolveu um estudo na Alemanha em 1995, com 91 enfermeiras provenientes de clínicas variadas de quatro hospitais, que foram submetidas a exames de sangue para detecção de alterações cromossômicas. Dez enfermeiras que manipulavam quimioterapia sem medidas de proteção (capela, luvas ou mesmo máscara) apresentaram alterações cromossômicas 50% maiores que o grupo-controle.
Existe também uma provável correlação entre manuseio de quimioterápicos e efeitos sobre fertilidade e saúde reprodutiva. Valanis aponta em seu estudo publicado em 1997 problemas como infertilidade, abortos espontâneos, anomalias fetais e menstruais – por exemplo, ciclos anormais - detectados entre enfermeiras e farmacêuticas que manipulavam quimioterapia.
Essas alterações demonstradas através de estudos indicam que a adoção de medidas de segurança durante o preparo de qualquer quimioterápico é essencial. Além disso, deve-se analisar minuciosamente aspectos da organização do trabalho e do espaço físico e os riscos que estão associados (de acidentes, físicos, químicos, biológicos e psicossociais).
Não obstante, existe também a necessidade de um treinamento dos trabalhadores considerando o conhecimento da rotina do setor, modo de ação das drogas citotóxicas e riscos potenciais envolvidos no manuseio das substâncias, manipulação adequada dos agentes antineoplásicos, métodos de controle dos riscos potenciais associados ao manuseio, descarte adequado do material contaminado, cuidados com contaminação ambiental, descontaminação de equipamentos e habilidade técnica em punções venosas. A educação continuada deve ser valorizada nas instituições, pois a cada dia novas técnicas e medicações vão surgindo.
É importante frisar que exames médicos preventivos para a equipe sujeita à exposição ocupacional das drogas devem ser instituídos. Segundo a NR 7, referente aos Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), os exames a serem realizados nos trabalhadores expostos aos quimioterápicos são: exame físico, hemograma completo, plaquetas, uréia, creatinina, TGO, TGP, bilirrubinas totais e frações, LDH, fosfatase alcalina e urina tipo I. Caso ocorram alterações nos resultados, o funcionário passará por uma nova avaliação e, se necessário, será remanejado para outro setor temporariamente ou em definitivo.
A manipulação de quimioterápicos antineoplásicos é proibida a gestantes, lactentes, menores, estudantes de enfermagem em seus primeiros semestres de treinamento e equipe exposta a raios X, pois se constituí um fator de risco adicional.
- SOBRE O ESTUDO DE MAIA
4.1. O campo de estudo
Priscilla Germano Maia abordou este assunto em sua tese de mestrado, intitulada “A atividade da equipe de enfermagem e os riscos relacionados à exposição a quimioterápicos antineoplásicos no setor de oncologia de um hospital público do estado do Rio de Janeiro”. Seu estudo foi realizado em uma instituição pública do estado do Rio de Janeiro que está em processo de cadastramento como Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). É um hospital geral em que se procede ao diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas mais frequentes no Brasil (pele, mama, colo uterino, pulmão, estômago, intestino, próstata e tumores linfohematopoiéticos).
O setor de oncologia, local onde foi realizada a pesquisa, dispõe de 01 recepção destinada ao registro de pacientes, incluindo sala de espera para pacientes e acompanhantes, 03 consultórios médicos, 01 Clínica da Dor, 01 sala de enfermagem, 01 sala para preparo de pré-quimioterápicos antineoplásicos, 01 sala para preparo de quimioterápicos antineoplásicos, 01 sala para administração de quimioterapia de curta duração, 01 instalação sanitária para pacientes, 02 instalações sanitárias para funcionários, 01 copa e 02 salas de estoque.
Em relação aos recursos humanos, há 02 recepcionistas, 07 médicos, 07 enfermeiros (05 plantonistas e 02 diaristas), 02 auxiliares de enfermagem (01 diarista e 01 plantonista), 03 farmacêuticos e 01 trabalhador que presta serviços de limpeza.
As prescrições deixadas no dia anterior na sala de preparação de quimioterápicos permitem que as medicações sejam previamente providenciadas e limpas (frascos), bem como os rótulos sejam preparados com antecedência. Após o preparo realizado pelos farmacêuticos, a medicação é fornecida à enfermagem, que é responsável por sua administração.
- O serviço de Saúde do Trabalhador
Apesar de o Serviço de Saúde do Trabalhador existir na instituição desde 1994, somente no final de 2007 os trabalhadores que manipulavam quimioterapia realizaram os exames periódicos pela primeira vez. Inicialmente, a referida instituição direcionou os cuidados aos trabalhadores dependentes químicos, bem como aos trabalhadores expostos a radiações ionizantes, atendendo posteriormente os trabalhadores de outros setores. Cabe dizer que não há registros de acidentes com quimioterápicos no hospital estudado. Desta forma, a Saúde do Trabalhador não visualiza o problema, o que prejudica ações mais
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