Ética Aristotélica A ética
Por: Jose.Nascimento • 13/3/2018 • 3.330 Palavras (14 Páginas) • 332 Visualizações
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A CONCEPÇÃO DE FELICIDADE NA ÉTICA ARISTOTÉLICA
A palavra ethos é de etimologia grega e significa comportamento, ação, atividade. É dela que deriva a palavra ética. A ética é, portanto, o estudo do comportamento, das ações, das escolhas e dos valores humanos. Mas no nosso cotidiano ocorre de percebermos que há uma série de modelos de “éticas” diferentes que postulam modos de vida e de ação, por vezes excludentes. Qual é o melhor tipo de vida (se é que há um)? O que é a felicidade? É melhor ser feliz ou fazer o bem ou o que é certo?
Perguntas como essas são feitas em todas as épocas da história humana. E desde a antiguidade clássica dos gregos, já havia muitos modelos de respostas para elas. Uma delas é a fornecida pelo filósofo Aristóteles, famoso por sua Metafísica. Vamos nos aprofundar um pouquinho mais no que ele tem a nos dizer.
Em seu livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles consagrou a tão famosa ética do meio-termo. Em meio a um período de efervescência cultural, o prazer e o estudo se confrontam para disputar o lugar de melhor meio de vida. No entanto, a sobriedade de nosso filósofo o fez optar por um caminho que condene ambos os extremos, sendo, pois, os causadores dos excessos e dos vícios.
A metrética (medida) que usa o estagirita (Aristóteles era chamado assim por ter nascido em Estagira) procurava o caminho do meio entre vícios e virtudes, a fim de equilibrar a conduta do homem com o seu desenvolvimento material e espiritual. Assim, entendido que a especificidade do homem é a de ser um animal racional, a felicidade só poderia se relacionar com o total desenvolvimento dessa capacidade. A felicidade é o estado de espírito a que aspira o homem e para isso é necessário tanto bens materiais como espirituais.
Aristóteles herda o conceito de virtude ou excelência de seus antecessores, Sócrates e Platão, para os quais um homem deve ser senhor de si, isto é, ter autocontrole (autarquia). Trata-se do modo de pensar que promove o homem como senhor e mestre dos seus desejos e não escravos destes. O homem bom e virtuoso é aquele que alia inteligência e força, que utiliza adequadamente sua riqueza para aperfeiçoar seu intelecto. Não é dado às pessoas simples nem inocentes, tampouco aos bravos, porém tolos. A excelência é obtida através da repetição do comportamento, isto é, do exercício habitual do caráter que se forma desde a infância.
Segundo Aristóteles, as qualidades do caráter podem ser dispostas de modo que identifiquemos os extremos e a justa medida. Por exemplo, entre a covardia e a audácia está a coragem; entre a belicosidade e a bajulação está a amizade; entre a indolência e a ganância está a ambição e etc. É interessante notar a consciência do filósofo ao elaborar a teoria do meio-termo. Conforme ele, aquele que for inconsciente de um dos extremos, sempre acusará o outro de vício. Por exemplo, na política, o liberal é chamado de conservador e radical por aqueles que são radicais e conservadores. Isso porque os extremistas não enxergam o meio-termo.
Portanto, seguindo o famoso lema grego “Nada em excesso”, Aristóteles formula a ética da virtude baseada na busca pela felicidade, mas felicidade humana, feita de bens materiais, riquezas que ajudam o homem a se desenvolver e não se tornar mesquinho, bem como bens espirituais, como a ação (política) e a contemplação (a filosofia e a metafísica).
Ética Aristotélica
O conhecimento, segundo Aristóteles, é dividido em três tipos: teórico, prático e produtivo, conforme o objeto correspondente a cada um. A ética é uma parte da política, não constituindo-se como uma ciência separada, mas apenas como um “estudo do caráter” ou “nossas discussões sobre o caráter”. (Aristóteles, Política, 1261a31)
O exame ético considera o indivíduo como um membro da sociedade e o exame político, por outro lado, tem como princípio o fato da boa vida da cidade ser senão a boa vida de seus cidadãos.
A primeira frase da Ëtica é esclarecedora quanto a este ponto: “Toda arte e toda investigação, toda ação e toda escolha parecem ter em vista algum bem; logo, o bem foi corretamente designado como aquilo a que todas as coisas visam”. Definitivamente, a ética aristotélica é teleológica, isto é, o valor moral da ação deriva do fim almejado. Ou seja, a ação deve ser realizada não vista dela mesma, mas em vista do bem para o homem.
O fim que uma ação particular tem em vista é um meio para um outro fim. Por exemplo, se eu estou com fome, eu busco alimento, se preciso de dinheiro para comprar alimento, então busco adquirir dinheiro, se o adquiri, então compro o alimento em vista de saciar a minha fome, mas eu sacio a minha fome em vista de me manter vivo, e procurar estar vivo, e procuro estar vivo em vista do que? Com qual finalidade?
O problema que temos é determinar qual é tal fim último. Se é o bem, qual a natureza desse bem? Como determiná-la: eis a grande questão da ética aristotélica.
A ética concerne às “coisas que são o que são para a maioria”, “coisas que podem ser de outro modo”, portanto, não podemos exigir o mesmo grau de exatidão de demonstrações científicas, como a matemática, que tem como objeto de investigação “coisas que são necessárias.” (Ética Nicomaquéia, 1094b11-27)
Das coisas que são, umas são necessariamente, outras contingentimente ou por acidente. Nas ações humanas está presente a contingência e tal presença se faz evidente da seguinte forma:
(i) as conseqüências de nossas ações não podem ser previstas com precisão, ou seja, o resultado da ação é obscuro por ser, ele próprio, indeterminado;
(ii) as ações futuras são indeterminadas.
Essa contingência presente nas ações, a saber, o fato de seu resultado ser indeterminado e de haver sempre a possibilidade de agir de outro modo, faz com que a exatidão em matéria de moral seja precária.
É a ética que trata de tais assuntos, e não de modo abstrato, mas prático, pois não se trata de inquirir o que significa o dever ou porque devemos fazer isto que devemos fazer; ao contrário, trata-se de determinar o que deve ser feito em certas circunstâncias.
Diferentemente das ciências exatas, o raciocínio ético não parte de princípios, mas vai em direção a eles; ou seja, não parte do que é mais inteligível em si mesmo, mas do que é mais familiar para nós e vai em direção às explicações subjacentes aos fatos.
Os primeiros princípios
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