A Justiça Platônica
Por: Kleber.Oliveira • 22/9/2017 • 1.839 Palavras (8 Páginas) • 345 Visualizações
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Sócrates responde que é necessário antes, distinguir entre os verdadeiros e os falsos amigos e inimigos, pois as aparências podem enganar:
“A quem chamas amigos: aos que parecem honestos a uma pessoa, ou aos que o são de fato, ainda que o não pareçam? E outro tanto direi dos inimigos? (...) Portanto, Polemarco, acontecerá que, para muitos, quantos errarem no seu juízo sobre os homens, será justo prejudicar os amigos, pois são maus a seus olhos, e ajudar os inimigos, pois os têm por bons.” (2004, p20).
O sofista Trasímaco então apresenta o argumento segundo o qual a justiça consiste no interesse do mais forte, ou seja, daquele que detém o poder, já que fazem as leis:
“Certamente que cada governo estabelece as leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os Estados, o que convém aos poderes constituídos. Ora, estes é que detém a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte.” (2004, p25).
Trasímaco passa a defender a superioridade da injustiça sobre a justiça.
Sócrates recusa, com o argumento de que a injustiça enfraquece a ação humana pelas discórdias que gera naqueles que a praticam: “Não concordamos que a justiça é uma virtude da alma, e a injustiça, um defeito? (...) Então, a alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto, mal.” (2004, p42).
E termina o primeiro capítulo afirmando que a injustiça nunca será mais vantajosa que a justiça: “Então jamais a injustiça será mais vantajosa do que a justiça.” (2004, p43).
A partir desse momento, Platão tenta definir a justiça através da formação de uma cidade ideal. Ele abandona a formação do conceito de justiça para o sujeito e passa a buscar o conceito de cidade justa.
2.2 ESTADO JUSTO
Para Platão, o Estado justo é aquele em que os membros fazem aquilo que é próprio de cada um. A base do Estado seria o estabelecimento da justiça entre as pessoas, sendo a justiça, a garantia da participação do povo no processo político e social da cidade.
Durante boa parte da obra, Platão defende que a superioridade do bem comum sobre o bem individual. Destacando que no Estado perfeito os cidadãos deveriam abdicar de certas coisas em prol do funcionamento e da manutenção da cidade ideal.
Tanto na república quanto no homem, a justiça poderia ser encontrada na unidade de ordem. A cidade é um grande todo integrado por indivíduos, famílias e classes sociais com atividades e interesses distintos. Não seria possível uma entidade social se entre suas diversas partes não reinasse uma ordem rigorosa que reduzisse a diversidade à unidade, assinalando a cada parte o lugar e a função que lhe correspondem dentro da totalidade.
É a mesma ordem que deve reinar dentro de cada um, pois a justiça é uma virtude da alma que introduz unidade dentro do composto humano. Dessa maneira, para que haja justiça no Estado, é preciso que cada cidadão a desenvolva dentro de si.
A cidade justa funcionaria como o corpo humano, em que cada cidadão deva cumprir a sua função e somente ela, assim como os órgãos do corpo humano. Dessa forma, se um órgão não cumprisse seu papel, a saúde do corpo todo estaria comprometida.
Segundo Platão, para que a cidade perfeita exista, é necessário que seus cidadãos possuam três características fundamentais: a sabedoria, a coragem e a temperança: “Creio que a nossa cidade, se de fato foi bem fundada, é totalmente boa (...) é, portanto, evidente que é sabia, corajosa, sensata e justa.” (2004, 121p).
Platão crê essa cidade utópica só poderia ser governada por um filósofo, pois somente ele conhece a verdade, não é apegado aos bens sensíveis, aprende com facilidade e possui harmonia interior. Nessa parte, a República pode ser considerada uma Sofocracia, ou seja, governo da sabedoria:
“Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam reis e soberanos filósofos genuínos e capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a filosofia, enquanto as numerosas naturezas que atualmente seguem um desses caminhos com exclusão do outro não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá trégua dos males.” (2004, 170p).
Por outro lado, a cidade injusta é aquela na qual o governo está nas mãos dos proprietários e, naturalmente não pensam no bem comum da cidade, e, sem dúvida, lutarão apenas para preservar seus interesses econômicos particulares, ou nos militares que levarão a cidade em estado de guerra constante para contemplar e vislumbrar desejos pessoais de honra e glória.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS (CONCLUSÃO)
A leitura da obra A República é indispensável para quem busca entender o pensamento platônico. É nessa obra que ele apresenta suas concepções filosóficas sobre os mais diversos temas, desde o homem até a metafísica. Sendo considerada por muitos uma síntese das teorias de Platão. É de suma importância destacar que embora ele tenha desenvolvido e debatido sobre vários conceitos de justiça durante a obra, nem mesmo ele, conseguiu chegar a um conceito dogmático de justiça, tamanha abstração dessa virtude.
Os conceitos utópicos abordados na obra, são excelentes lições para estudantes das áreas de estudos antropológicos, e podem ser usadas durante toda sua jornada acadêmica. As ideias de Platão sobre Estado, governo, educação, representam o quão genial sua obra é, tendo em vista que elas ainda podem ser aplicadas no nosso Estado contemporâneo.
Um dos elementos que tornam essa obra uma das mais importantes da história do pensamento ocidental, é a manutenção do diálogo como
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