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Jon Maitrejean

Por:   •  25/3/2018  •  4.845 Palavras (20 Páginas)  •  249 Visualizações

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Maitrejean (2) conta, como quem evoca com prazer inúmeras experiências vividas, que desde o segundo ano do curso trabalhava com Abelardo de Souza, seu professor, e é o próprio Abelardo, amigo de Lina Bo Bardi, quem o indica para elaborar os desenhos da Casa de Vidro. Concluída a graduação, é convidado para ser assistente de Abelardo de Souza, já a partir do ano seguinte, 1954. É portanto o primeiro aluno formado pela FAUUSP – desvinculada da Escola Politécnica em 1948 – a retornar a ela como docente. Essa feliz circunstância possibilita o início de liames consistentes e duradouros com as questões que relacionam a prática profissional e o ensino.

A trajetória de trabalho é composta, em sua maior parte, pelo exercício da atividade como autônomo, pontuada por algumas experiências vinculadas a empresas. Do extenso itinerário, três momentos são aqui destacados pela repercussão que tiveram no pensamento e na produção do arquiteto.

O início da carreira é marcado pela parceria com a arquiteta Daisy Igel que, formada pelo Instituto de Design de Bekerley de Chicago, trabalha no escritório de Mies Van Der Rohe antes de voltar ao Brasil. As novas referências e informações, trazidas pela arquiteta de sua experiência fora do país, encontram campo fértil na inquietação de Maitrejean, instigando seu espírito de investigação. Um texto em particular, de autoria de Richard Buckminster Fuller (1895-1983), intitulado A filosofia de uma nova indústria (1929), revela-se material fundamental de indagação. Entusiasmado com as idéias ali veiculadas que destacavam a importância dos materiais leves, de fácil transporte e manejo, para o desenvolvimento dos processos de pré-fabricação e montagem dos componentes dos edifícios, o arquiteto compartilha o conteúdo com seus alunos da FAU. A retórica contundente de Buckminster Fuller contra os ultrapassados materiais pesados, de alta resistência à compressão, tais como tijolo e pedra, vinha de encontro com os anseios de inovação tão vivamente cultivados nos anos de formação universitária. Ultrapassado, naquele contexto em que os valores estão aportados na novidade, é sem dúvida um dos termos mais depreciativos e, portanto, algo a ser rejeitado.

A mudança de perspectiva da atividade autônoma para um vínculo com a empresa Duratex S/A Industria e Comércio, onde Maitrejean chefia a Divisão de Produtos Novos entre 1969 e 1972, não refreia suas preocupações, pelo contrário: passa a dedicar-se à pesquisa e à experimentação de novas soluções e materiais. O amadurecimento dessas idéias permitirá a apropriação e o emprego criativo de produtos industrializados como componentes da construção em várias de suas obras, contemporâneas ou posteriores a esse período, dentre as quais se destaca a “casa do arquiteto”.

A associação, a partir de 1975, com o arquiteto Georges Sallouti vem reforçar definitivamente o interesse pelo binômio “racionalização dos componentes e agilidade do processo construtivo”. Gradativamente ganha impulso no escritório Maitrejean & Sallouti Associados Arquitetos uma diferente frente de atuação, marcada pela elaboração de projetos ligados a novos programas de uso e de outra escala de construção. É a arquitetura dos grandes centros de abastecimento de distribuição, dos supermercados, um campo ainda pouco explorado (3). Além de não existir, até então, uma demanda significativa da atuação de arquitetos nessa área, pode-se afirmar que existe uma certa restrição entre os profissionais por esse tipo de trabalho. Ao priorizarem os pressupostos de racionalidade e logística, essas atividades são vistas como substancialmente técnicas, muito distantes do exercício da arquitetura de autor.

A persuasão dos projetos emblemáticos

Não apenas os textos, mas também os projetos visionários de Buckminster Fuller repercutiram na reflexão que acompanhou o desenvolvimento dos projetos de residência de Jon Maitrejean. Um deles em especial é mencionado como objeto de estudo e material de encantamento: a Casa Dymaxion, cujo primeiro protótipo foi idealizado em 1928. Constituída por um volume envidraçado de base hexagonal, suspenso por um mastro central ao qual se prendiam todos os elementos e subdivisões internas, foi pensada como unidade autônoma de uma produção em série que seria facilmente transportada para qualquer lugar. Um novo protótipo foi desenvolvido em 1944 e construído em 1946, a casa Dymaxion Wichita, um modelo circular revestido externamente em aço, que aplicava conceitos da indústria aeronáutica. (Fig.1)

Como afirma Weston (4): “a Casa Dymaxion longe da simples metáfora, surgia como uma verdadeira máquina para habitar”. Baseada no dinamismo e eficiência da tecnologia avançada, relega a plano secundário as heranças culturais e a preocupação formal. Para Fuller, continua Weston, a produção em massa deveria incorporar todas as potencialidades dos novos materiais, encarar os recursos mundiais e os meios de produção em perspectiva global, despir-se de toda carga cultural, para ser encarada como uma questão logística, semelhante a uma operação militar. Tal como os projetos de aviões, a casa deveria proporcionar a máxima solidez com o menor peso. Não por acaso, algumas de suas pesquisas foram aproveitadas nas viagens espaciais.

A persistência das preocupações avançadas por “Bucky” Fuller, como era chamado, faz com que, em 1991, Henry Ford Museum & Greenfield Village firmem uma parceria voltada à recuperação dos componentes e reconstrução de um dos protótipos Dymaxion, doado pela família Graham, então proprietária. O processo de limpeza e restauração das partes, nas próprias dependências do museu, se transforma em uma ação acompanhada pelo público durante todo o desenvolvimento do processo. Aberta a casa à visitação desde 2001, além do sistema construtivo em si, continua a despertar interesse a mobilidade como característica essencial do modelo.

Outra referência fundamental de pesquisa relacionada à pré-fabricação, mencionada por Maitrejean, corresponde aos projetos de casas publicados pela revista de Los Angeles, Arts & Architecture, em 1945, por iniciativa do editor John Entenza, como parte do Case Study House. O objetivo do programa era convidar arquitetos contemporâneos de renome para projetar uma série de casas-piloto que, além de publicadas, seriam construídas e expostas ao público com o intuito de serem vendidas. Duas dessas casas, de autoria de Charles Eames (1907-1978), em parceria com Eero Saarinen, foram construídas em terrenos próximos, em Pacific Palisades, Califórnia, uma delas destinada ao idealizador do programa, Entenza, e a outra

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