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Arché - o Renasimento

Por:   •  15/12/2018  •  2.473 Palavras (10 Páginas)  •  296 Visualizações

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A cúpula, o círculo e a planta em cruz grega, como vimos, apresentam significados em si, mas, espacialmente, desempenham o papel fundamental de enfatizar a centralidade da igreja renascentista. Já no Bizantino, era investida nas igrejas a máxima carga simbólica. Desde o início das construções a arquitetura parece tomar como ponto de partida da simbologia dos templos a relação espacial entre centro e caminho. O longo caminho entre Deus (situado no altar) e o homem (porta da igreja) é simbolizado pela extensa nave que devemos percorrer; fazendo do “estar a caminho” a ideia cristã fundamental a ser expressa no espaço da igreja.

Ocorreram nesse período muitos progressos no campo das artes que superaram a herança clássica. A aplicação de uma nova descoberta técnica: a perspectiva, conjunto de regras matemáticas e de desenho que permitem reproduzir sobre uma folha de papel ou sobre qualquer superfície plana, o aspecto real do objeto. Nasce o projeto, a antevisão do objeto que comandará a sua construção.

Em suma, a perspectiva é o novo canal que liga a obra do artista à natureza, mas o sentido desta ligação é diferente na pintura e na arquitetura. Sendo o naturalismo uma das principais características da pintura do período, ela serve na tela para imitar a natureza o mais perfeitamente possível. Na arquitetura, porém, ela trabalha em sentido inverso e procura fazer com que o edifício construa, o mais fielmente possível, o ideal estético formal que o arquiteto estabeleceu no seu projeto.

Examinemos agora como o edifício articula suas diferentes partes e se essa articulação é significativa da condição humana característica do século XV. Observando o Palazzo Pitti e o Ospedale degli Innocenti, de Brunesllechi, notamos uma ênfase na horizontalidade, ao contrário de uma construção gótica. Além disso, uma repetição matemática e a independência entre os andares produzem uma fachada homogênea onde os elementos não se hierarquizam como ocorria na catedral medieval.

Mas Alberti em Santa Maria Novella, reforma de uma antiga igreja medieval, apresenta uma novidade essencial: além das ordens clássicas e geometrismo para compor a fachada, agora com a utilização de volutas. Com isso, Alberti já denuncia uma liberdade maior na combinação dos elementos, que ultrapassa o purismo classicista, a qual o arquiteto se submetia.

Apesar das volutas, toda a fachada de Santa Maria Novella está organizada em torno dos elementos clássicos e antropomórficos; como as ordens, os frisos, os arcos plenos, o tímpano triangular e de um único sistema de proporções que define o tamanho e a posição de cada elemento. Isso faz as partes se relacionarem umas com as outras e com um todo, construindo a concepção da harmonia, em torno da qual se concebe a beleza albertiana.

No projeto para a fachada de Sant’Andrea o espaço é pouco diferenciado, quase totalmente homogeneizado pela matemática, pela simetria e pelo sistema único de proporções claramente expresso. Isso, junto com a força dos temas simbólicos antropocêntricos, extraídos do repertório clássico, faz desta igreja uma das mais importantes da arquitetura do seu século.

Para concluir as características gerais dos edifícios renascentistas, analisemos duas últimas obras centrais na produção arquitetônica do período. A primeira é de Brunelleschi, pai da arquitetura renascentista e criador da perspectiva. O interior da igreja de Santo Spirito é clara expressão dessa perspectiva, onde a simetria, os ritmos da arcada, a dominância das linhas horizontais e a articulação das paredes e colunas enfatizam o altar em que se localiza o ponto central de visão.

Além da clareza da perspectiva, uma clareza geométrica expressa a racionalidade do projeto. Toda a planta se baseia na repetição modular de um simples quadrado, claramente visível no interior, devido ás colunas e aos arcos das naves laterais que formam uma cruz latina. A nave principal tem a largura deste quadrado, e o transepto e a capela conformam um espaço definido por quatro desses quadrados. Exceto pela nave longitudinal, todo plano é perfeitamente simétrico, fortalecendo o centro espacial.

A segunda obra é de Bramante, ótimo exemplo da centralidade espacial do Renascimento, o projeto do arquiteto para a basílica de São Pedro (Vaticano). A planta em cruz grega, a biaxialidade e a rigorosa geometria que unifica o espaço, e ordena o tratamento plástico, tornam clara a racionalidade matemática através da qual acreditava-se Deus ter feito o universo, procedimento este que o arquiteto pretendia imitar.

DA ARQUITETURA AO MUNDO RENASCENTISTA

Verificada a arché do quattrocento concluímos que ela tinha uma dupla fonte: o universo geometrizado e a Antiguidade Clássica. Por isso a sua arquitetura imitava ambos, tornava visível a nova ordem cósmica e o antropocêntrico mundo clássico pelo repertório ornamental e pelas leis de composição utilizadas. Sugerimos que essa dupla imitação significava uma nova relação do homem consigo mesmo, com o universo e com o Criador deste universo. Racionalizar o universo era, antes de mais nada, expressão do poder da razão humana e crença na possibilidade de construir um mundo humano ideal. Como diz Alberti, a imagem da força ordenadora que preside a organização de toda a matéria, isto é, uma nova imagem de Deus. O ornamento, tal como os detalhes clássicos, serve para enfatizar essa beleza, essa racionalidade.

Realizando-se nas obras que cria, o homem se volta para a sua cultura e sua história, cuja autoridade no período encontra sua expressão numa arquitetura fundada na crença no seu poder moral e intelectual. De uma forma ou de outra, a significação de todas as características da arquitetura e do urbanismo gira em torno desse humanismo renascentista.

O universo hierarquizado e estruturado a partir de categorias filosófico-religiosas foi substituído por um universo homogêneo, estruturado a partir de leis matemáticas. . É a partir da ciência, ou, mais precisamente, de Nicolau de Cusa, que se consolidam concepções dominantes do quattrocento. Podemos destacar dois pontos na sua maior obra, A Douta Ignorância. O primeiro deles refere-se ao método de conhecimento calcado na matemática e não na religião. Conhecer é comparar, é medir, é colocar todas as partes em proporções para que, do conhecido, revele-se o que desconhecemos. A analogia com a beleza Albertiana é imediata: é pelos números e pela proporção que sua arquitetura torna-se bela. Medir torna-se a primeira das tarefas do arquiteto, dos cientistas e dos pintores. E a matemática assim, adquire uma importância

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