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Mal estar na civilização

Por:   •  1/10/2018  •  2.780 Palavras (12 Páginas)  •  308 Visualizações

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Devido a estas formas de desprazer e sofrimento, a influência do mundo externo se transforma no princípio da realidade, agora o homem se preocupa mais em não sofrer ou experimentar o desprazer, do que com a busca da felicidade, que fica em segundo plano. Hoje vemos muito isso, inclusive, nosso intenso vínculo com a tecnologia é uma das formas de aliviar o desprazer, mas Freud vai dizer que mesmo a tecnologia tem limite. Ao mesmo tempo em que ela aproxima as pessoas, ela as distancia, ou seja, ela cria uma distancia e depois tenta supri-la de alguma forma que possa ser minimamente satisfatória momentaneamente. Portanto, a tecnologia poder nenhum tem de amenizar ou sanar sofrimentos, eliminar o mal estar, com isso ele nos diz que a satisfação plena é impossível de ser alcançada, e isso é do ser humano, faz parte até mesmo do nosso desejo, jamais nos contentaremos com o que temos ou que conseguimos conquistar, o ser humano está sempre buscando objetos – seja ele de qualquer natureza – para suprir seus desejos, satisfações, necessidades, por que todos eles terão limite. A ligação com as drogas trata-se também de mais uma saída (fracassada) do homem de fugir do desprazer, de alcançar a felicidade plena, usam as substancias com esta finalidade.

O convívio em sociedade cria um paradoxo entre o amor e a civilização. Para que haja o convívio, o sujeito é convidado a renunciar parte de sua sexualidade, a ter o incesto interditado, e seus impulsos controlados. As leis, os tabus e a moral certificam-se de que parte da energia sexual do sujeito seja empregada em novos afazeres a fim de que haja sociedade (Freud, 1930).

A sociedade aceita apenas um tipo de amor: heterossexual e monogâmico, tratando como perversão àqueles que fugirem a essa regra. Mal sabem eles, que todo amor dito homo, na verdade, é hetero. Nenhuma constituição psíquica, da ordem do inconsciente, será igual a outra. Nenhum ser terá a mesma experiência em sua identificação primária, cada qual marcado de diferentes formas (Freud, 1930).

Todas essas regras e restrições, que limitam a vida sexual do ser humano, tem suas consequências. O chamado neurótico, nada mais é do que aquele que não suporta lidar com as suas frustrações sexuais, e cria novos mecanismos de satisfações, que ironicamente, podem tornar-se uma nova fonte de sofrimento (Freud, 1930).

O amor romântico em seu auge, possui uma finalidade de que os dois amantes se unam, e tornem-se um só, fazendo desconhecer as barreiras e limitações que lhe diferenciam, como se um fosse a extensão do outro (Freud, 1930).

É conhecido que o homem, por si só, não formaria laços amigáveis com seu próximo. A sociedade, então, cria constantemente meios pelo qual os sujeitos possam criar fortes laços de identificação (afinal, apenas através do mecanismo da identificação é que poderia manter-se relações duradouras). Para tal, são criadas restrições a sexualidade, para que a libido seja realocada e inibida em sua finalidade, criando então o antagonismo entre a civilização e o amor (Freud, 1930).

Certamente, qualquer um já escutou a máxima ‘’amarás a teu próximo como a ti mesmo’’. Mas, o que esta afirmação não considera, é que o ser humano não é, de natureza, um ser dócil e bondoso. Pelo contrário, apresenta uma agressividade inerente, uma perversidade. Segundo, que, somos capazes de amar apenas aqueles que temos alguma forma de identificação, onde posso me enxergar nele. Senão, não é possível amar ali (Freud, 1930).

E é exatamente por essa agressividade, esse impulso de ódio no ser humano, que a civilização limita a vida sexual do ser humano, faz esforços para que os mecanismos da identificação sejam feitos entre os homens, pois, sem estes, não existiria vida em comunidade. O ser humano é abandonado pela natureza, e não possui qualquer senso de autopreservação, pelo contrário, poderia dizer-se em um senso de auto destruição, movido por essa inclinação à agressividade, que em um terreno fértil, sem os mecanismos que inibem essa agressividade e convocam o homem à vida em comunidade, na primeira oportunidade, uns usariam aos outros para satisfazer-lhes seus desejos agressivos (Freud, 1930).

Mas não há como extinguir essa inclinação a agressividade, mas apenas realoca-la. Nas civilizações, é comum encontrar povos que constantemente brigam entre sim, criam guerras e batalhas. A esse fenômeno, Freud (1930) denominou de narcisismo das pequenas diferenças. Este, caracteriza-se por um grupo que, em face de sua coesão e união, minimizam as diferenças entre si, e orientam sua agressividade aos intrusos. Como exemplo, Freud cita a Rússia, que criando uma sociedade comunista, perseguiu os burgueses.

Com tantas formas de controle do homem, para que seja possível uma boa convivência em sociedade, a felicidade humana fica em segundo plano, ou até mesmo, quase impossível. Poderia dizer que então o homem primitivo vivesse mais feliz, já que a forma organizacional de nossa atual sociedade, não existia? Na verdade, a liberdade, e talvez felicidade que o homem primitivo gozava, era ao custo de ter um curto tempo de vida, além de apenas o chefe da família poder desfrutar dessa liberdade, ao passo que os outros membros eram tidos como servos (Freud, 1930).

Com a devida justiça, o homem atual reclama e se indigna com a sociedade, que não fornece meios para que lhe satisfaça ou traga felicidade. Mal sabem, que por mais que busquem a felicidade e a satisfação, o homem nunca alcançará a satisfação plena, pois nenhuma pulsão é capaz de proporcionar uma satisfação completa (Freud, 1930).

Freud (1930), utilizando-se da afirmação do poeta-filósofo Schiller ‘’são a fome e o amor que movem o mundo’’, constrói uma analogia para definir a antítese existente entre os instintos do ego, e os da libido. A fome seria o ego, representando a capacidade de autopreservação, e o amor, seria o instinto libidinal, que busca por um objeto. Logo, estes instintos entravam em conflito.

Deste conflito, entre as exigências da libido e o ego, é possível que dê início a uma neurose, sinalizando a duras penas, a vitória do ego sobre as exigências da libido objetal (Freud, 1930).

Um grande avanço no campo psicanalítico foi o conceito de narcisismo, proposto por Freud (1930). O ego na verdade, seria o quartel general da libido, em que o ego se encontra catexizado pela libido, dando origem a libido narcísica. Caso esta volta-se para o exterior, torna-se libido objetal. Este conceito possibilitou compreender melhor acerca das neuroses traumáticas e das psicoses.

Assim como outras formas de impulsões no homem,

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