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O 11 DE SETEMBRO DEZ ANOS DEPOIS - ANÁLISE VEJA E ISTOÉ

Por:   •  13/3/2018  •  13.035 Palavras (53 Páginas)  •  289 Visualizações

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A ascensão da classe burguesa coincide, não acidentalmente, com a evolução da imprensa. O desenvolvimento do comércio e o mercantilismo tornaram necessária a expansão da escrita para o registro de dados relativos aos seus negócios, por isso os periódicos, suas formas, conteúdos e técnicas moldavam-se para acompanhar as exigências da nova classe intelectual. Os mais famosos manuscritos para comerciantes eram os Avisi e os Zeitungem:

Os Avisi eram folhas manuscritas, copiadas várias vezes e frequentemente redigidas em proveito de ricos comerciantes ou banqueiros por pessoas que disso faziam profissão. Algo semelhante acontecia, por esse tempo, com as Zeitungem, da Alemanha. Tratava-se de natureza intelectual, assalariado ou contratado, no qual se exigia dado grau de alienação do autor em relação ao conteúdo e à finalidade do escrito (...) os Avisi e o Zeitungem dos séculos XIII e XIV dirigem-se a público relativamente aberto e não a alguém ou alguns (...) Quebrava-se o monopólio do Estado e Igreja sobre os meios de comunicação (LAGE, 2001, p.24).

Com a expansão do comércio, a concepção das primeiras indústrias, a concentração das pessoas nas cidades, que logo formariam os poderes nacionais, e a fixação de idiomas criaram condições para que a imprensa se desenvolvesse associada à propaganda. Assim, a burguesia utilizava os jornais para difundir suas ideias convenientes, como ideais de livre comércio e livre produção.

No início do século XVII, foram publicados os primeiros jornais que se tem conhecimento na Alemanha, em Estrasburgo, e em Colônia. Em seguida, surgem os jornais da Holanda e o londrino Current of General News e, em 1631, o La Gazette parisiense (TRAQUINA, 2008, p.66). “Os jornais primitivos continham notícias do estrangeiro, tratando de assuntos comerciais e de problemas políticos que afetavam o comercio. Mas o incomum e o sensacional apareciam no texto” (LAGE, 2001, p.25).

No Brasil, a imprensa chega com a corte de D. João VI. Antes disso era proibida qualquer atividade gráfica, tanto quanto o ensino superior. (LAGE, 2001, p.42). Costuma-se apontar como o primeiro periódico brasileiro o Correio Brasiliense, em 1808, editado por Hipólito José da Costa, na Inglaterra.

Beltrão definiu o conceito de jornalismo como “informação de ideias, situações e fatos atuais, interpretados à luz do interesse coletivo e transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum” (1976, p.27). Entretanto, até chegar a essa apreciação, o jornalismo passou por diversas situações ameaçadoras. Uma delas, proveniente do ideário burguês cuja liberdade impetrou o poder político. A prática do jornalismo foi considerada pelo poder como subversiva e, por isso, teve algumas publicações censuradas no século XVII. O jornalismo opinativo, instrumento de luta ideológica, já era uma ameaça ao poder.

A posição do jornalismo, comprometido com o sistema e envolvido, pelo desenvolvimento tecnológico, nas mesmas malhas da grande empresa, era, apenas, a de veículo de informações sobre fatos consumados [...] castrava a função opinativa. (BELTRÃO, 1976, p.23)

Nesse período, as notícias eram limitadas a relatos de acontecimento importantes para o comércio, os meios políticos, as manufaturas. Entretanto, cem anos depois, a Revolução industrial conquistou o grande público e, por isso, as notícias passaram a ser artigos de consumo, sujeitos a acabamentos padronizados e embalados conforme as técnicas de marketing (LAGE, 2001, p.49).

O “campo jornalístico” começou a ganhar forma nas sociedades ocidentais, durante o séc. XIX, com o desenvolvimento do capitalismo e, concomitantemente, de outros processos que incluem a industrialização, a urbanização, a educação em massa, o progresso tecnológico com a emergência da imprensa como ”mass media”. As notícias tornaram-se simultaneamente um gênero e um serviço; o jornalismo tornou-se um negócio e um elovital na teoria democrática; e os jornalistas ficaram empenhados num processo de profissionalização que procurava maior autonomia e estatuto social (TRAQUINA, 2008, p.20).

Paralelamente ao processo da Revolução, o papel da publicidade na vida dos jornais tornou possível a liberdade das publicações. “O jornalismo que conhecemos hoje nas sociedades democráticas tem as suas raízes no século XIX. Foi durante o século XIX que se verificou o desenvolvimento do primeiro “mass media”, a imprensa” (TRAQUINA, 2008, p.33). Aos poucos, os jornalistas do mundo conseguiram conquistar ‘voz e vez’ para manifestar suas opiniões.

A abolição liberal conseguiu impor-se na Inglaterra, com a abolição dos impostos especiais; na França em 1881, com a legislação que tornou livres as publicações ; na Alemanha, em 1874, após a unificação com a lei que, abolindo a censura estabeleceu a competência do júri para os delitos da imprensa (LAGE, 2001, p.29).

A Revolução Industrial, ápice do capitalismo, promoveu o crescimento rápido e mudou o aspecto humano das cidades, uma vez que marcava o fim do feudalismo. Em razão disso, surge na sociedade uma nova camada social intermediária, composta por administradores e trabalhadores que ansiavam por informação. Conforme Lage, a nova classe era formada por “trabalhadores qualificados ou técnicos necessariamente voltados para a leitura, interessados em notícias e capazes de se identificarem com a classe no poder”, com o passar do tempo, mesmo para empregos sem grandes qualificações, “a alfabetização tornou-se conveniente, necessária e, por fim, obrigatória” (2001, p. 30).

O papel da publicidade contribuiu ainda para a redução do preço do exemplar, fazendo-o alcançar as demais camadas populacionais. Aos poucos, a propaganda integrou o setor econômico da empresa jornalística, garantindo sua sobrevivência. Estabeleceu-se uma “relação triangular” no meio jornalístico. O produtor de informação busca atrair o público que consome seu produto e esse “gratifica o produtor de informação com verbas publicitárias” (LAGE, 2001, p.31).

Além da alfabetização e da publicidade, durante o período da Revolução Industrial ocorreram novas mudanças na mecanização dos processos de produção, permitindo o aumento da tiragem e dos patamares de circulação. As alterações nas técnicas de fazer jornal atenderam às mudanças sociais, levando a imprensa da Inglaterra a criar a classificação dos gêneros jornalísticos.

No século XVIII, os britânicos inventaram as categorias news e coments, posteriormente chamadas, respectivamente,

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